Conexão Social – Nasce a Rede Livre de capacitação em Linux

ONG reúne pesquisadores e especialistas do primeiro time para oferecer cursos a jovens de baixa renda, e formar uma comunidade online de desenvolvedores.


ONG reúne pesquisadores e
especialistas do primeiro time para oferecer cursos a jovens de baixa
renda, e formar uma comunidade online de desenvolvedores.
  Andréa de Lima*

Uma associação voluntária de educadores, desenvolvedores de tecnologia,
pensadores, tecno-artistas, organizadores e gestores de iniciativas
sociais e ciberculturais — os integrantes da recém-criada Rede Livre
defendem a colaboração e o compartilhamento do conhecimento como
valores essenciais. Seu principal projeto é a capacitação de jovens em
tecnologias da informação e comunicação, nas áreas de exclusão social,
com a finalidade de disseminar o empreendedorismo e a cultura do software
livre. Para isso, contam, entre outros, com o auxílio luxuoso de
especialistas como Imre Simon, da USP, ou Nelson Pretto, da UFBA, e
Wagner Meira, da UFMG.


A formação para os desenvolvedores
em código aberto vai durar dois
meses e meio

“Apostamos na inclusão digital de milhares de jovens como possibilidade
de elevação da capacidade tecnológica do nosso país”, afirma Sergio
Amadeu, diretor-presidente da Rede Livre. Para ele, essa missão se
tornará possível, “se abrirmos espaços para que as pessoas com talento
e vocação para criar, manipular e remixar algoritmos e softwares
possam exercer suas qualidades e realizar suas potencialidades.” O
projeto de capacitação da nova ONG tem os seguintes passos e
finalidades: despertar o interesse pelas tecnologias da informação nos
estudantes de áreas excluídas; encontrar aqueles que têm vontade de
aprendê-las; formar e treinar o maior número desses jovens em alta
tecnologia; manter os jovens conectados em uma rede virtual de apoio;
requalificar e debater a cibercultura; abrir espaços para a
profissionalização, com uma boa remuneração, quão mais as tecnologias
livres forem disseminadas.

Em São Paulo, dois cursos começam este mês. Um deles, com 20 jovens
selecionados, acontece na Escola Técnica Estadual (ETE) de Carapicuíba,
e outro, com 12 integrantes, na ONG Coletivo Digital, ambos na zona
oeste paulistana. “Um grupo de 120 jovens de baixa renda, com idades
entre 16 e 24 anos, provenientes da rede pública de ensino
(pré-requisitos), inscreveu-se e foi aprovado, após provas de lógica e
interpretação de texto”, conta Maria Cristina Vendrameto, diretora da
ETE Carapicuíba, com quem a Rede Livre mantém um termo de cooperação
até janeiro de 2007. “Ficamos muito entusiasmados com essa iniciativa,
estimulada por um professor da Fatec. Ela representa um salto
qualitativo, social e econômico, com a promoção dos jovens no mercado
de trabalho”, diz.

O curso técnico, com ensino de Linux e seus aplicativos, cidadania e
empreendedorismo, terá duração de dois meses e meio. Na seqüência, os
jovens farão um teste final para integrar a Rede Livre, que os
apresentará com foto e contatos de e-mail e telefone, para prestar serviços em software
livre, com suporte via internet. “A ampliação cultural e de formação
desse jovem será mantida após o término do curso”, promete Sergio. Ele
acredita que uma empresa poderá ajudar o projeto, pagando um módulo de
formação (R$ 30 mil) de 20 jovens, além de contribuir para a ampliação
da entidade.

“Os jovens capacitados poderão dar suporte às pessoas que quiserem
migrar seu computador para soluções livres, mais estáveis, seguras e
que dispensam pagamento de royalties
para companhias que monopolizam algoritmos”, propõe Sergio, que também
é professor da Faculdade Cásper Libero (SP). Por intermédio do Portal
da Rede Livre, o cidadão poderá chamar um jovem técnico e contratá-lo
para migrar seu computador, instalar programas livres, dar suporte a
sua máquina e até a sua rede, em uma pequena empresa, em uma ONG, em um
telecentro ou em uma escola.

A partir desse procedimento, os idealizadores da Rede Livre pretendem
que os contratantes remunerem diretamente os novos técnicos. “A
sugestão de remuneração será de R$ 50,00, a exemplo do que um técnico
comumente já cobra para instalar um software pirata. Vamos sugerir, ainda, que ele faça um backup
da máquina do usuário, ensinando-o a salvar sempre seus documentos, e
orientando-o, por meio de um programa de computador, em seu
planejamento financeiro. A prestação de serviço tem de ser qualificada,
inclusive, porque previmos em sua formação aulas de cidadania,
comportamento e adequação”, complementa Sergio.


Economia


Após a capacitação, os jovens
poderão oferecer suporte em
software livre a empresas

A utilização de forma legal do software proprietário prevê o pagamento da licença de uso ao fornecedor. Como alternativa, a Rede Livre propõe a utilização de software
livre e o remanejamento dos recursos da licença para o treinamento de
usuários. “A maior parte dos programas de inclusão digital do governo
federal custam, hoje, muito menos, por não terem a despesa das
licenças. O mesmo acontece nos telecentros das prefeituras que usam software livre. Os gastos em licenças, propomos remanejar para a capacitação dos usuários”, explica o diretor-presidente da entidade.

No Brasil, entre os que já integram a Rede Livre estão profissionais de
primeira linha, com história e experiência nas áreas de Tecnologia da
Informação e Educação, como Imre Simon (USP), Demi Getchko (Comitê
Gestor Internet do Brasil), Nelson Pretto (diretor da Faculdade de
Educação da UFBA), Pedro Rezende (criptográfo e professor da UnB),
Wagner Meira (professor da Ciência da Computação da UFMG), Ricardo
Kobashi (coordenador do Acessa São Paulo), Carlinhos Cecconi (projeto
Twiki Brasil), Marcia Padilha (Educação), entre outros. Duas empresas
já são parceiras da iniciativa: a Spread Teleinformática e a Insigne
Free Software do Brasil; e outras quatro ONGs: a SaferNet Brasil, PSL
Brasil, Rits e o Coletivo Digital, que também empresta sua sede.

Por fim, para a Rede Livre, o fator essencial no mundo atual é a
capacidade que as pessoas terão de produzir-se a si mesmas. Nesse
contexto, a educação e a formação são elementos decisivos. Depois do
curso, cada jovem passará a integrar uma rede de informação e
capacitação online, ganhará sua inclusão na área voltada aos cidadãos que procuram suporte, obterá um espaço para hospedar seu blog bem como sua conta de e-mail,
entre outros instrumentos de comunicação. Assim, diz Sergio, será
incentivado a tornar-se um desenvolvedor, o que elevará sua
empregabilidade pessoal e a inteligência coletiva nacional.

www.sitio.redelivre.org.br — Rede Livre de Compartilhamento da Cultura Digital


(*) Editora de
conteúdo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Esta
reportagem foi originalmente escrita e publicada na edição nº 342 do
boletim ‘Notícias da Semana’do portal www.ethos.org.br, antes de ser
editada neste espaço.