Conexão Social – Os destaques da inclusão digital


A cerimônia de entrega do Prêmio ARede 2008 reuniu representantes das principais ações do setor, no país.

Patrícia Cornils


ARede nº43 Dezembro de 2008 – Alvarez falou sobre a contrução de um plano nacional para a inclusão.
Uma festa comemorativa do avanço das iniciativas de inclusão social por meio do uso de tecnologias da informação e da comunicação — em especial, na área de Educação. Evento que adquire cada vez mais importância, desde a primeira edição, em 2007, o Prêmio ARede deste ano animou a noite de 21 de novembro, no auditório do Instituto Itaú Cultural, em São Paulo. Cerca de 200 representantes dos oito projetos premiados, ativistas da inclusão digital, integrantes de organizações do terceiro setor e do setor público, empresas de tecnologia e de telecomunicações compareceram à cerimônia. Este ano, o prêmio recebeu 206 inscritos, o que indicou um crescimento de 25% em relação ao ano passado.

A diversidade de propostas e preocupações apareceu nos discursos de agradecimento dos vencedores. Célio Turino, secretário de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura, falou do papel dos servidores públicos, “de servir os cidadãos, e não de se servir deles”. Ildes Ferreira, secretário da Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia, ressaltou que, na região Nordeste, a realidade é diferente de São Paulo: “Há 15 milhões de habitantes, dos quais 13 milhões não têm acesso à internet”. O secretário de Ciência, Tecnologia e Empreendedorismo de Tauá (CE), João Álcimo, contou que os planos do município são de atender, com conexão, todos os 4 mil quilômetros quadrados da cidade. “Queremos conectar todos os distritos e uma premiação como esta nos encoraja a prosseguir com os investimentos em tecnologia para criar novas oportunidades”, agradeceu.

A relevância de investimentos sociais por parte de empresas privadas foi ressaltada pelos presidentes da Brasil Telecom, Ricardo  Knoepfelmacher, e da Telefônica, Antonio Carlos Valente. “Não podemos deixar de lado a face de empresa cidadã”, disse Knoepfelmacher. “Nosso investimento no EducaRede ref246lete a intenção da corporação de contribuir para tornar o país menos injusto e mais socialmente responsável”, concordou Valente. O diretor da ONG Thydewas,  Sebastian Gerlic, anunciou que as etnias que se reúnem em torno do portal Índios Online estão começando a implantar um projeto de uso de telefones celulares para denunciar as constantes violações de direitos humanos contra os povos indígenas.

A variedade dos projetos inscritos este ano mostra que o domínio do uso da tecnologia para inclusão social está crescendo em vários setores. E, conforme as iniciativas vão surgindo em todo o país, cresce também a demanda por acesso em banda larga em lugares mais distantes ou onde as pessoas têm menor poder aquisitivo. Assim como aconteceu no ano passado, o tema da banda larga esteve presente nos discursos das autoridades presentes.

No último ano, foram dados passos importantes para ampliar o acesso à internet no Brasil. A troca de metas das concessionárias de telefonia fixa, formalizada no início deste ano, as obrigará a levar infra-estrutura de banda larga a todas as sedes dos municípios brasileiros até 2010. Porém, o país precisa avançar ainda mais, afirmou a diretora editorial da revista ARede, Lia Ribeiro Dias. “Fica faltando ainda um plano nacional de banda larga para definir modelos de atendimento à última milha, incluindo aí o conceito de cidade digital. Trata-se de questão urgente porque ninguém mais duvida de que banda larga, com o aumento do consumo dos conteúdos que transitam na rede, é insumo vital para o acesso à internet e o compartilhamento do conhecimento”, alertou a jornalista.

Além da conexão
Cezar Alvarez, coordenador das iniciat246ivas de inclusão digital do governo federal, também destacou os avanços conquistados desde 2007, referindo-se ao Projeto Telecentros (Veja a página 10): “Temos de fazer uma grande mesa nacional para acelerar e dar conta da Lia Ribeiro pediu urgência em banda larga na última
milha.
construção de um plano nacional de banda larga”. Conexão, somente, não basta. Essa foi a mensagem do deputado federal Júlio Semeghini (PSDB-SP). O parlamentar destacou que no estado de São Paulo a tecnologia ainda não é plenamente usada por alunos e professores como ferramenta pedagógica. “Avançamos muito, mas ainda não chegamos para valer na sociedade e isso aumenta nossa responsabilidade”, reconheceu ele.

Para Roberto Pinto Martins, secretário de telecomunicações do Ministério das Comunicações, a evolução da TV digital no Brasil vai abrir mais alternativas de transmissão em banda larga. Isso porque o uso das freqüências para transmissão dos sinais, no modo analógico, é ineficiente. “Hoje, para cada 6 MHz transmitindo sinais, há 6 MHz que não são usados. Essa banda estará disponível ao fim do processo de migração para a transmissão digital, para radiodifusores e outras aplicações, inclusive para incrementar o uso de banda larga no país”, prevê.

Carlos Afonso, diretor da Rede de Informações para o Terceiro Setor (Rits), foi eleito a Personalidade do Ano da Inclusão Digital. Fora do país no dia da festa, ele enviou umaMartins destacou as boas perspectivas com a evolução da TV Digital. mensagem gravada, em que ressaltou que o trabalho pelo qual foi reconhecido, de desenvolvimento da internet e de programas de inclusão digital no Brasil, é uma obra coletiva. “Precisamos, agora, de um plano nacional de inclusão digital”, afirmou. Segundo ele, outro reflexo do aumento das iniciativas de inclusão digital no país é a necessidade de articular as diversas esferas governamentais em um projeto integrado e de longo prazo.

A festa do Prêmio ARede 2008 foi encerrada com uma apresentação do Lata na Favela, composto por jovens músicos da comunidade de Heliópolis, na zona Sul de São Paulo. Uma das inciativas do projeto “Se Liga Galera”, promovido pela União de Núcleos, Associações e Sociedade de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco, o grupo se tornou um instrumento de inclusão por meio da arte.


Setor Público Federal

O projeto Cultura Viva, do Ministério da Cultura, foi o vencedor. Iniciado em 2004, o projeto apóia, com recursos em dinheiro, 850 Pontos de Cultura em todo o país. O troféu foi entregue a Célio Turino, secretário de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura.



Setor Público Estadual

O vencedor foi o projeto Cidadania Digital, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do governo da Bahia. Iniciado em 2003, o projeto foi mantido pelo governo atual, que prevê instalar um Centro Digital de Cidadania em cada município. O deputado Federal Júlio Semeghini entregou o troféu a Ildes Ferreira de Oliveira (à esq.), secretário da Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia.



Setor Público Municipal

Cidade Digital, da Prefeitura de Taúa, no Ceará, foi o vencedor. O projeto mostrou que as vias da informação podem gerar renda mesmo em uma região onde há grandes necessidades. Secretário de Ciência, Tecnologia e Empreendedorismo de Tauá, João Álcimo (à esq.) recebeu o prêmio das mãos de Cezar Alvarez, assessor especial da Presidência da República.



Empresa Pública

A Celepar foi a vencedora, com o Sistema de Publicação e Consulta Pública com Certificação dos Diários Oficiais do Paraná. Henrique Salatino Miorelli (à esq), diretor de Desenvolvimento da Celepar, recebeu o prêmio. Ricardo Kobashi, coordenador dos portais de governo do Estado de São Paulo, fez a entrega.



Empresa privada

A Brasil Telecom recebeu o prêmio, pelo projeto Educação Digital. A empresa vai investir R$ 150 milhões, até 2010, para implantar oficinas digitais em 500 escolas de sua área de atuação. Lia Ribeiro Dias, da Momento Editorial, entregou o troféu a Ricardo Knoepfelmacher, presidente da Brasil Telecom.




Fundação e Instituto Empresarial

A Gincana do Milênio Sapiens Circo, um desafio para alunos do ensino médio que usa recursos digitais, foi o projeto vencedor na categoria. Carlos Schneider, superintendente da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi), recebeu o troféu de Roseli de Deus Lopes, pesquisadora da USP



Organização da Sociedade Civil

O vencedor foi o portal Índios Online, da ONG Thydewas. O Índios Online recebe contribuição de 16 etnias, de 17 aldeias da região Nordeste do Brasil e dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O presidente da Thydewas, Sebastian Gerlic, recebeu o prêmio de Míriam Aquino, da Momento Editorial.



Especial Educação

O EducaRede, portal para professores e alunos mantido pela Fundação Telefônica, ganhou o prêmio. Criado em 2002, contribui para melhorar a qualidade do ensino público e tem 148 mil usuários cadastrados e 1,1 milhão de páginas vistas por mês. O deputado federal Júlio Semeghini entregou o troféu a Antonio Carlos Valente (à dir.), presidente da Telefônica.


Empresas amigas da inclusão
O Prêmio ARede 2008 homenageou três empresas, que se juntaram ao time que acredita na revista ARede e apóia nossos esforços para difundir as ações e as idéias que aprimoram o uso da tecnologias da informação para inclusão social no Brasil. Em reconhecimento a essa parceria, a Momento Editorial conferiu a essas empresas o troféu e o selo Empresa Amiga da Inclusão Digital. Agora são 13 as empresas amigas da inclusão digital. No ano passado, dez receberam essa menção.

Paulo Penha Capriolli, gerente Comercial de Logística, representante da Vale, recebeu o troféu de Empresa Amiga da Inclusão Digital, entregue por Roseli de Deus Lopes.



Orlando Pereira Cezar, assessor da vice-presidência de Tecnologia da Informação da Caixa Econômica Federal, recebe o troféu das mãos de Miriam Aquino.



A representante do Sebrae, Beth Matias, da Agência Sebrae de Notícias, recebeu a homenagem em nome da empresa.



Personalidade do Ano da Inclusão Digital

Eleito pelo conjunto dos jurados, Carlos Afonso, o C.A. (à dir.), diretor da Rits, foi representado pelo amigo Nelson Suyama (à esq.). Suyama falou do C.A. que “lutou contra a ditadura, se exilou e voltou, com a anistia, trazendo um microcomputador debaixo do braço e com a idéia de fazer uma revolução digital no Brasil”.