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Pesquisa internacional com Centros de Inclusão Digital brasileiros mapeia hábitos de utilização de lan houses e telecentros
Áurea Lopes
ARede nº 92 – julho/agosto de 2013
Um panorama dos centros de inclusão digital brasileiros foi traçado a partir do Global Impact Study, projeto que tem como proposta avaliar o impacto do acesso às Tecnologias Informação e da Comunicação no desenvolvimento social. Iniciativa da Universidade de Washington, com apoio do International Development Research Centre (IDRC) e da Fundação Gates, no Brasil o estudo foi coordenado pela Fundação Pensamento Digital. Realizado em 2010, abrangeu 242 Centros de Inclusão Digital (CIDs), como telecentros, bibliotecas e lan houses de quatro estados – Maranhão, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Além da versão brasileira, a pesquisa vai reunir dados – ainda não disponíveis – de Bangladesh, Chile, Filipinas e Gana.
As conclusões trazem indicadores que podem subsidiar as políticas públicas de inclusão digital, na opinião de Ana Claudia Alves, integrante da equipe da Pensamento Digital. Ela ressalta que a análise dessas informações precisa levar em conta que, em 2010, o acesso à internet em dispositivos móveis não era representativo como hoje e que o público-alvo da pesquisa foi predominantemente jovem (72% tinham entre 12 e 25 anos, 38% com nível de ensino médio e 34% com nível fundamental; e renda mensal entre dois e três salários mínimos).
“Alguns pontos chamaram a atenção dos pesquisadores”, diz ela. O primeiro foi a ampla preferência dos usuários brasileiros pelo acesso nas lan houses (81%) – em seguida, vêm os telecentros (15%), as bibliotecas (3%) e outros (1%). As causas dessa preferência, conta Ana, são o horário de funcionamento mais flexível (influenciou 74% dos entrevistados), a melhor qualidade dos equipamentos e da conexão, a proximidade das residências (41%). Também apareceu na pesquisa, que os usuários consideram as lan houses pontos de encontro: “É interessante notar o valor cultural do espaço físico, que representa uma oportunidade para socialização com outras pessoas”. De acordo com o levantamento, os usuários vão a lan houses para estar com os amigos (29%), para ter equipamento melhor do que em casa ou no trabalho (28%), por falta de opção para acessar a internet (15%), por falta de opção para acessar computadores (8%), para conseguir ajuda de outros usuários (4%), para conseguir ajuda da equipe (4%), por outros motivos (12%).
No universo geral, computando-se todos os tipos de CID, a grande maioria dos entrevistados declarou saber manusear as ferramentas mais simples relacionadas ao uso do computador. Mas os dados do Global Impact Study indicam que “a principal motivação para ir a um CID está na possibilidade de obter ajuda da equipe para execução de atividades básicas” – o que aparece em 29% das respostas. Em segundo lugar na lista de motivações para ir a um centro de acesso, porém praticamente com o mesmo grau de importância, está a falta de opção para acessar a internet (28%). É importante notar que a busca de auxílio de agentes de inclusão digital é pequena quando se considera apenas as lan houses (4%), mas aumenta bastante (29%) quando entram na tabulação os telecentros.
Outra observação de destaque no estudo, segundo Ana, é que o acesso às TICs tem impacto direto na educação das pessoas, “uma vez que as atividades envolvem práticas cognitivas”. Porém, revela a pesquisa, as ferramentas digitais não são utilizadas prioritariamente para tarefas educacionais. O maior uso diz respeito a entretenimento (48%): “Os CIDs foram lembrados pelos usuários como espaços de entretenimento, em especial na realização de atividades relacionas à comunicação, ao acesso à internet, ao acesso às redes sociais e ao jogo”, descreve o relatório da Pensamento Digital. Os pesquisadores acreditam que apesar de parecer passatempo, “os jogos podem representar muito mais, pois podem desenvolver o raciocínio lógico e matemático, a resolução de problemas, a compreensão e a leitura”.
A pesquisa revela ainda os fatores levados em conta na hora de escolher um CID: não ter filas para utilizar os computadores (74%), ter segurança no local (73%), o conteúdo estar na língua portuguesa (72%), ter atendentes informados e prestativos (72%), ser um local silencioso (68%), os amigos frequentarem o local (63%), ter privacidade (59%), oferecer ajuda a pessoas com pouca habilidade em leitura e escrita (48%) e oferecer acesso a pessoas com necessidades especiais (44%).