O Tim Músca nas Escolas forneceu
equipamentos para a criação de dez rádios em São Paulo e três em Porto
Alegre. Os programas são diários, nos intervalos, e monitores visitam
os alunos e dão oficinas semanalmente, por três anos.
São 20, 25 crianças e adolescentes sentados
em torno de uma mesa comprida, dentro de um salão da Escola Municipal
de Ensino Fundamental (EMEF) José Olympio Pereira Filho, na zona sul de
São Paulo. O bairro é de casas pequenas e ruas tortas, características
da periferia de São Paulo. No canto da sala, alto-falantes e uma mesa
de som. As crianças estão fazendo a escala e discutindo a programação
da Rádio Ativa, que vai ao ar três vezes por dia, nos intervalos de 15
minutos de cada período. A escala é de trabalho: quem vai ser o
locutor, que será o técnico e quem será o roteirista de cada programa.
A rádio foi criada pelos participantes do TIM Música nas Escolas,
iniciado em abril de 2003, para trabalhar com a música como meio de
inclusão. É uma das ações dos Núcleos de Agitação Cutural, criados no
segundo ano do programa, que realizam atividades ao longo de um ciclo
de quatro anos. Na Escola José Olympio, a Rádio Ativa entrou no ar em
agosto de 2004.
A Rádio Ativa fica em uma
escola da zona sul de São Paulo.
A rádio é administrada pelas crianças, com o apoio de um monitor
contratado pelo projeto, que se reúne com elas uma vez por semana. A
presença constante dos monitores – seja no Núcleo de Agitação de Rádio,
Brincadeiras Musicais e Eventos, seja nas oficinas e aulas de música,
que são as outras atividades do programa – é uma das coisas mais
elogiadas pelos alunos. “Eles têm uma participação ativa e nos ensinam
as coisas com detalhes”, diz Vanniere Braga, 14 anos. Ela, que
participou também do Educom.rádio, acredita que esse acompanhamento é a
principal diferença entre as duas propostas e que é fundamental para
que o projeto seja bem-sucedido. “Não esquecem da gente”, diz ela.
As reuniões também são oficinas, porque, enquanto discutem como fazer a
rádio, as crianças estão aprendendo. Uma vez por semana, um monitor
participa das reuniões, ensinando questões técnicas. Antes de os
equipamentos chegarem, os participantes fizeram dinâmicas de grupo,
para aprender a trabalhar em equipe. Há um rodízio de funções, de forma
que todos os alunos aprendam como funciona a rádio inteira. Desde o
início, eles discutem como vão continuar tocando a atividade quando
acabar o prazo do projeto – cujo último ano é dedicado a realizar ações
de sustentabilidade. Na José Olympio, os meninos e meninas acreditam
que o grêmio poderá assumir a rádio. Essa não é uma questão secundária,
afirma Jorlane Barbosa da Silva, 13 anos. “Temos que mostrar para o
pessoal da escola que com responsabilidade podemos ir muito longe e a
nossa maior responsabilidade é manter a rádio funcionando”,
explica ela. “E eu sei que a gente consegue manter a rádio”, garante.
Iniciado em abril de 2003, em 29 escolas públicas em áreas de risco
social nas cidades de São Paulo, Belém, Salvador, Porto Alegre e
Recife, o TIM Música nas Escolas já realizou 1,25 mil oficinas de
musicalização, 19 shows-oficinas, 38 shows de alunos e profesores. Em
2005, foi ampliado para mais cinco escolas da cidade do Rio de Janeiro,
onde vai chegar a 2,5 mil crianças e adolescentes. Seu objetivo geral
é dar aos jovens acesso a diferentes formas de aprendizagem e
atuação na sociedade, usando a linguagem da música.
Cerca de 12,5 mil crianças
já participaram de oficinas.
O programa foi montado de forma que suas inciativas cheguem a
professores e alunos. Para os alunos, há 14 oficinas de musicalização,
das quais participam cerca de 500 jovens por escola, durante todo o
ano. Entre esses participantes foram escolhidos Embaixadores da Paz,
entre os jovens que mais se destacam nas oficinas. Esses embaixadores
passam a freqüentar aulas diárias de música. “Aprendi a lidar com
partituras, que são uma linguagem universal. Aprendi muito sobre música
brasileira antiga e atual”, conta George Maiki, Embaixador da Paz da
Escola José Olympio. No início do programa, as crianças ainda são
céticas: várias disseram que não acreditavam que fosse para valer. Ao
longo do tempo e com o acúmulo do aprendizado nas aulas, começaram a
acreditar mais no projeto – e em si próprias. “Com a formação que estou
recebendo, posso trazer mais cultura para a escola”, diz Maiki. Há 300
Embaixadores da Paz no projeto. Eles participam de encontros de
formação cidadã e realizam apresentações fora das escolas. Em julho, se
apresentaram em Campos do Jordão, durante o Festival de Inverno, que
reúne músicos de todo o Brasil.
Para os educadores, o projeto oferece capacitação em trabalho com
música e a distribuição unidades didáticas – kits criados pelo projeto
para fazer atividades de musicalização durante as aulas. Desde o início
do projeto, 210 professores participaram dessa atividade. Também com os
alunos, a partir do segundo ano do projeto, são criados os Núcleos de
Agitação Cultural, para promover atividades musicais dentro das
escolas. São os núcleos que criam as rádios – existem dez em São Paulo
e três nas escolas de Porto Alegre. Também fazem oficinas de Formação
para Atividades Musicais, no núcleo de Brincadeiras Musicais, que
aprendem e ensinam aos colegas mais novos, nos intervalos, bricandeiras
como músicas de roda e trava-línguas. A idéia é que o resgate das
brincadeiras contribui para a diminuição do índice de violência nos
intervalos. Os alunos participantes do terceiro núcleo, o de Eventos e
Festas, aprendem a organizar eventos. São responsáveis pela criação e
produção das festividades da escola: Festa Junina, Dia dos Namorados,
Festas Folclóricas. Não é raro que os alunos decidam participar de mais
de uma oficina.
Os alunos se revezam na função
de técnicos, locutores e roteiristas.
Tudo isso tem um ciclo de quatro anos. A TIM contratou cerca de 70
pessoas, em todos os estados, para levar adiante o projeto, além dos
músicos contratados para as oficinas . No Rio de Janeiro, ministraram
oficinas o compositor, arranjador e integrante do grupo Nó em Pingo
d’Água, Rodrigo Lessa, o percussionista Robertinho Silva e o maestro e
educador multi-instrumentista Carlos Malta. “Levamos as crianças até a
beira desse grande rio que é a música”, diz Malta. “E torcemos para que
elas se deixem levar pela correnteza.” Em São Paulo, o técnico de áudio
Rodolfo Paes Dias, 23, é responsável pela monitoria dos núcleos de
rádio. “É a primeira vez que trabalho em um projeto social”, diz ele.
“E fico feliz por ver crianças trabalhando tão bem com equipamentos que
nunca conheceriam, se não fosse o investimento da TIM”, diz ele. O
maior sucesso da programação são so CDs de black music, dizem os
meninos. Mas eles tocam de tudo.