Conexão Social – Recondicionar para incluir

Neste mês, será inaugurado o primeiro Centro de Recondicionamento de Computadores do país, em Porto Alegre. A unidade vai preparar máquinas, descartadas por empresas, para atender a população.



Neste mês, será inaugurado o primeiro Centro de Recondicionamento de
Computadores do país, em Porto Alegre. A unidade vai preparar máquinas,
descartadas por empresas, para atender a população.
  Leandro
Quintanilha

O mercado faz crer que todo computador é obsoleto em potencial, senão
de fato. Isso faz com que empresas públicas e privadas descartem, de
tempos em tempos, milhares de máquinas, com defeito ou apenas de
configuração superada. Lixo tecnológico? Não necessariamente.

O programa Computadores para Inclusão, do Governo Federal, previa, para
2004, a criação de Centros de Recondicionamento de Computadores (CRCs)
a fim de transformar esse descarte em meios de inclusão digital.
Dificuldades de infra-estrutura atrasaram a implementação dessas
unidades, mas, no dia 17 de abril, será inaugurado a primeira delas, o
CRC de Porto Alegre, mantido pelo Centro Social Marista (Cesmar).

Esse CRC piloto funcionará com dez profissionais e 70 aprendizes
(adolescentes que trabalham por quatro horas diárias e recebem meio
salário mínimo, como determina a legislação específica). Prevê-se uma
capacidade inicial de recondicionamento de mil máquinas por mês, que
devem ser destinadas a telecentros comunitários, escolas e bibliotecas
públicas.

Os computadores doados para recondicionamento devem ter configuração
mínima Pentium 100 ou similar, com processador de ao menos 100 MHz. O
custo da operação não deve ultrapassar R$ 143,00 por máquina, segundo
os cálculos iniciais.

Os CRCs serão criados e mantidos por entidades não-governamentais sob a
sigla Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), como
o Cesmar de Porto Alegre. O programa Computadores para Inclusão é
coordenado pela Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação
(SLTI) do Ministério do Planejamento.

“A produção dos CRCs depende diretamente das doações das máquinas, que
são a nossa matéria-prima”, explica o sub-secretário de Logística e
Tecnologia, Rodrigo Assumpção. Por isso, só é possível estimar a
capacidade de produção e não, a produção em si. “Esses repasses
acontecem em ciclos, quando as empresas decidem renovar a tecnologia
vigente.”

Mas os números soam promissores. O último descarte do Banco do Brasil,
parceiro do programa, foi de 20 mil computadores. A Caixa Econômica
Federal (saiba mais) e os Correios, outros parceiros, também
realizam descartes da mesma proporção. Máquinas apreendidas pela
Receita Federal e doações pessoais e de empresas privadas completarão a
oferta.

O atual prédio do CRC piloto tem uma área útil de 250 metros quadrados.
Mas é uma instalação temporária, como explica o coordenador de Projetos
Sociais do Cesmar, Alexandre Siqueira Mesquita. “A Prefeitura de Porto
Alegre, parceira do CRC, vai construir um galpão com o triplo do
tamanho.” Com isso, a capacidade de produção desse primeiro CRC deve
saltar para 3 mil computadores ao mês ainda neste ano, segundo
estimativa da SLTI. “Essa possibilidade de agregar parceiras fará dos
CRCs alavancas ímpares para a inclusão digital no Brasil”, afirma
Alexandre.

E quem regulará a distribuição das máquinas recondicionadas? Um
conselho gestor, formado por representantes do governo e das
instituições parceiras. “Já está definido que o Banco do Brasil, a
Caixa e os Correios terão seus representantes”, diz Assumpção. Também
já têm vaga garantida os Ministérios da Educação e do Trabalho e a
prefeitura de Porto Alegre, além, é claro, do Ministério do
Planejamento.
Os nomes dos representantes ainda não foram definidos, mas, de acordo
com a SLTI, a posse dos responsáveis deve acontecer antes da
inauguração do CRC piloto. “No mais tardar, antes da distribuição do
primeiro lote de máquinas recondicionadas”, garante o sub-secretário.


Responsabilidade ambiental

Outra função dos CRCs é a reciclagem das máquinas inservíveis, isto é,
o aproveitamento, para outros fins, de materiais (plástico, vidro,
metal etc.) que compõem as máquinas cujo conserto é inviável ou caro
demais. “Alguns desses materiais têm baixo valor econômico, mas podem
causar grande impacto ambiental”, afirma Rodrigo. “Por isso, merecem um
fim ecologicamente responsável.”

Um monitor antigo, por exemplo, pode conter até 750 gramas de chumbo em
suspensão, material poluente e potencialmente perigoso. O CRC piloto de
Porto Alegre está sendo assessorado sobre o descarte do lixo
tecnológico pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUC-RS), que também apóia a construção da futura sede da unidade.

As cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília
devem contar com CRCs ainda nes­­te ano, segundo a SLTI. A previsão vem
sendo adiada desde 2004, por conta de dificuldades, encontradas pelas
Oscips responsáveis, para conseguir prédios onde montar as unidades.
Mas o CRC de Brasília (em Gama), mantido pela Fundação Banco do Brasil,
já tem previsão de entrega: maio.


CRC urgente

Em 2004, quando o programa Computadores para Inclusão foi aprovado, uma
pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e parceiros
desenhou o Mapa da Exclusão Digital no país. Quase nove em cada dez
brasileiros não tinham computador em casa e apenas 8,31% dispunham de
acesso doméstico à internet. A exclusão digital varia de acordo com a
região do país: no Distrito Federal, 75% das pessoas utilizavam
computadores pessoais. No Maranhão, apenas 2%. Segundo pesquisa
realizada pela IDC Brasil no mesmo ano, metade das vendas de
computadores domésticos é feita para pessoas que já têm uma máquina em
casa e apenas desejam substituí-la por um modelo mais moderno.


Do inútil ao quase pronto

De acordo com seu estado, o computador doado pode ser adaptado, quando
em boas condições, recondicionado, se precisa de reparos,  ou
desmontado, caso considerado inservível. Veja no que consiste cada um
desses processos: 


Adaptação:
limpeza de memória e teste. É mantida a configuração
original do equipamento, desde que compatível com o padrão (Pentium 100
ou similar, no mínimo).

Recondicionamento:
limpeza de memória, teste e substituição e/ou
acréscimo de componentes da CPU para melhoria de configuração, também
conforme padrão estabelecido.

Desmanche:
desmontagem da máquina para seleção e aproveitamento de
componentes para recondicionamento de outros computadores ou reciclagem
de materiais.


www.planejamento.gov.br • Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
www.maristas.org.br • Centros Sociais Maristas