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Saúde na linha

Pastoral da Criança e TIM testam ferramenta para otimizar ação de voluntários na coleta de informações
Rafael Bravo Bucco

ARede nº 89 – março de 2013

UMA BOA DOSE de tecnologia nas ações sociais: receita infalível para melhorar a saúde. Essa é a estratégia da Pastoral da Criança e da TIM, que iniciaram em setembro de 2012 um projeto-piloto baseado na troca de mensagens de texto SMS para captar informações sobre o atendimento pediátrico. Pela parceria, a TIM oferece sua infraestrutura gratuitamente para que os voluntários da Pastoral enviem relatórios sobre hospitais e postos de saúde de onde vivem. Em menos de dez minutos os relatórios são preenchidos, por SMS, e chegam à sede da Pastoral. Seis mensagens são enviadas. As informações trocadas identificam o voluntário e respondem às perguntas: a Unidade Básica de Saúde (UBS) deixou de atender crianças ou gestantes?; a UBS deixou de dar a primeira dose de antibiótico às crianças no ato da consulta?; há vacinas na UBS?; entre outras informações consideradas de alta relevância para a saúde das crianças e de gestantes.

Por enquanto, os resultados não podem ser medidos em termos financeiros ou mesmo pelo impacto social. São poucos os voluntários integrantes do piloto, mas a tecnologia promete agilizar os processos que hoje são mecânicos. A Pastoral normalmente recebe relatórios preenchidos à mão, enviados por Correios para a sede regional, e depois remetidos para a sede nacional, em Curitiba (PR). Depois, os dados são digitados e, finalmente, analisados. O processo “analógico” demora, em média, três meses para ser concluído. Com o celular,
os dados são remetidos em poucos minutos e em um dia integram o banco de dados sobre a saúde nacional, compartilhado com instituições como Unicef e Ministério da Saúde.

“Também podemos enviar informações urgentes, para solucionar um problema que está acontecendo”, explica o voluntário Carlos Henrique de Azevedo, de São Paulo. Ele passou por uma capacitação oferecida em dezembro na capital paulista, que deve ser a próxima cidade a receber a nova tecnologia.

O projeto-piloto está na terceira fase. Inicialmente, o envio das mensagens era feito através de um link acessível por telefone ou computador. Depois, um grupo restrito de voluntários fazia os envios por SMS. Atualmente, a ferramenta vem sendo divulgada entre todos, com treinamento acontecendo aos poucos. Os voluntários usam os próprios celulares e as mensagens são enviadas para um short number, tipo de número isento de cobrança tarifária. Para criar os formulários via SMS, a TIM usou a plataforma de código aberto RapidSMS.

O piloto ainda não tem data para ser considerado permanente. O processo, de acordo com TIM, requer uma mudança cultural na estrutura da Pastoral, organização com 130 mil voluntários. Até junho, serão capacitados mil voluntários. Já foram feitas capacitações no Paraná, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte, no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Nos encontros, que duram em média 2h30, os voluntários recebem explicações de como a tecnologia funciona e fazem exercícios que simulam o preenchimento dos formulários. Para não restar dúvidas, recebem um cartão com orientações rápidas sobre como enviar as mensagens.

Eliza Ono, voluntária da Pastoral, passou pela capacitação oferecida em setembro, em Curitiba. Todos os meses, envia os dados sobre Assaí (PR), cidade onde vive. “Não levo mais que dez minutos. Mas ainda tenho que enviar os formulários em papel”, diz. Por ela, a tecnologia já poderia substituir o método tradicional. No entanto, acha que o uso do celular tem muito a ser aperfeiçoado: “Facilitaria se todos os voluntários recebessem um aparelho. E ficou mais trabalhoso, pois temos que continuar mandando o formulário em papel. Na minha opinião, poderia ser apenas uma versão pela internet”.

O preenchimento online foi testado em poucas cidades, também como projeto-piloto. Os voluntários da Pastoral receberam um número de acesso para entrar no site da organização e enviar os dados sem precisar de celular. A tecnologia, porém, exige estrutura de servidores e segurança online redobrada, o que impede a implantação rápida. Alguns voluntários tiveram dificuldade em usar a internet. Por isso, a TIM e a Pastoral acreditam que o futuro do projeto está mesmo no celular. A ideia, aliás, foi inspirada em uma orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que definiu o período de 2012 a 2017 como estratégico para investimentos no uso de tecnologias móveis para a saúde.

Os benefícios do SMS vão além da organização de dados da Pastoral, podendo impactar rapidamente as comunidades. “O aparato tecnológico encurta o tempo entre o reconhecimento do problema e a solução. Em termos práticos: quanto mais cedo formos informados sobre a falta de antibiótico em determinado Serviço de Saúde, por exemplo, menor a chance de uma criança ficar sem o medicamento. Com isso, diminui muito a probabilidade de a criança necessitar ser internada pelo agravamento do quadro de saúde, ou até mesmo morrer”, explica Nelson Arns Neumann, médico e coordenador internacional da Pastoral da Criança.

A Pastoral, diz ele, já planeja outras formas de usar o celular como ferramenta de “e-saúde” e “mobile health”, termos usados para designar o uso de tecnologias e soluções móveis aliadas a prevenção, diagnóstico ou acompanhamento da saúde de pessoas ou de serviços públicos na área. Uma das propostas é enviar a usuários da TIM orientações sobre o tema, sem custo, como estratégia de conscientização.

www.pastoraldacrianca.org.br