A partir de janeiro do ano que vem, começa a funcionar um pólo de desenvolvimento de software na segunda maior favela do Brasil.
Em 1993, um ônibus do Cefet-CE (Centro Federal de Educação Tecnológica
do Ceará) entra pela primeira vez na Rua Santa Elisa, em Pirambu, com
33 crianças, retornando de uma visita ao laboratório de informática da
então Escola Técnica, hoje Cefet. A gritaria de outras crianças
acompanhava o ônibus, quando dois garotos, um dentro e outro fora do
ônibus, começam a conversar:
– “Abestado, tu vem da onde?”
– “Abestado é tu! Eu ‘tava na Escola TECS”
– “E tu pensa que eu sou abestado, né? Aquela escola não é pra ti não!”
Cursos de desenvolvimento de
software e de conectividade
na favela cearense.
Uma escola pública de qualidade estava fora do imaginário das crianças
do Pirambu, considerado a favela de maior concentração urbana do
Brasil, com 350 mil habitantes, baixo índice de escolaridade e de
desenvolvimento humano. Dez anos depois, com um investimento de R$ 2,2
milhões da LG Electronics e 120 alunos da comunidade em cursos técnicos
de Conectividade e de Desenvolvimento de Software do Cefet, a realidade
já era outra. E continua mudando. O Cefet Pirambu, parceria entre o
Cefet-CE e o Movimento Emaús, ganhou força e está prestes a inaugurar o
seu Pólo de Desenvolvimento de Software (Podes). Mauro de Oliveira,
ex-secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações,
trabalha há 12 anos no projeto: “Nossa metodologia determina que cada
participante aporte conhecimentos e trabalho social à comunidade”. Para
ele, o desenvolvimento de software pode ser feito em qualquer lugar,
desde que haja oportunidade. Assim, pode ser uma alternativa econômica
para regiões com o perfil do Nordeste.
Cerca de 600 pessoas circulam diariamente no Cefet Pirambu. O Pólo de
Desenvolvimento de Software é encorajado por meio de quatro programas
que, segundo Mauro, são estratégicos. Casa do Saber, Agente Digital,
Universidade do Trabalho e Pirambu Business School. O Casa do Saber
desempenha atividades como reforço escolar para crianças, cursos para
adultos (profissionalizantes, inglês, informática), oficinas com pais,
esportes e artes. O segundo programa, o Agente Digital, envolve alunos
universitários e do Cefet como monitores ou animadores de ações
dirigidas à popularização da tecnologia. As suas ações, para estruturar
a família e a comunidade, dão o embasamento para que o aluno conclua o
projeto e receba uma formação técnica, por meio da Universidade do
Trabalho, e noção de empreendedorismo, através da Pirambu Business
School.
Cerca de 600 pessoas por dia
passam pelo Cefet Pirambu.
Em janeiro de 2006, será inaugurado mais um laboratório com 12
computadores, para o Podes e mais dois outros programas em andamento.
Participarão do pólo os alunos dos cursos de Desenvolvimento de
Software e Conectividade do Cefet que moram no Pirambu, alunos do Cefet
e da Universidade Federal do Ceará, seus professores, pesquisadores e
voluntários. “O secretário de Inclusão Social, Rodrigo Rollemberg, do
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), já garantiu que o MCT apoiará
o Projeto Cefet Pirambu”, conta Mauro.
O projeto também pretende entrar na produção do Computador para Todos.
Microsol, Fotosensores Tecnologia Eletrônica LTDA, Fortalnet, provedor
de acesso à internet, e DPM Engenharia apoiarão o desenvolvimento da
produção do computador dentro do CEFET Pirambu.