Ponto de cultura da Vila Buarque
promove oficinas de filmes de bolso, com imagens capturadas por
celulares ou baixadas da internet. João Luiz Marcondes
O Ponto de Cultura da Vila Buarque, na região central de São Paulo,
criou uma oficina de filmes de bolso. De olho no interesse dos jovens
por seus telefones móveis, e outras máquinas registradoras
onipresentes, quer fomentar a produção de pequenos vídeos, que podem
transitar por e-mails e celulares, e disseminar idéias. O curso dura
cerca de quatro semanas, mas não há periodicidade certa para acontecer.
O foco é o modo de capturar as imagens. Não apenas filmando, mas também
utilizando aquelas que já existem. Pode-se usar, por exemplo, obras com
licenças de uso mais flexíveis que o copyright, como as Creative
Commons (CC). Ou seja, fazer arte a partir de arte, sampleando, como os
rappers.
Os cursos da Vila Buarque utilizam programas de código aberto, como o
Cinelerra (saiba mais). “Mas não somos
religiosos em relação ao software livre, se a pessoa tiver em casa uma
cópia de R$ 5,00 do Adobe Première, não somos contra”, diz Carlos
Seabra, gestor do projeto pelo Instituto de Projetos e Pesquisas
Sociais e Tecnológicas (Ipso).
Nas aulas, são cumpridas todas as etapas necessárias para o vídeo
tornar-se expressão. Ou seja, além de obter imagens e editá-las, é
estimulada a publicação dessas histórias. Algo como colocar no YouTube
(site de vídeos gratuitos para downloads) e outros endereços na rede
mundial.
O que faz a diferença ali é o ambiente de idéias a que o aluno estará
exposto ao visitar o Ponto de Cultura. Periodicamente, são realizados
ciclos de debates sobre temas como sexualidade, integração da América
Latina e urbanização. Além disso, os estudantes são cuidadosamente
escolhidos. “Buscamos multiplicadores, formadores de opinião,
lideranças de ONGs, ou seja, queremos criar uma massa crítica”, comenta
Carlos Seabra. Normalmente, os cursos são gratuitos, mas se alguma
instituição com boas condições financeiras (um Sesc, um Itaú Cultural,
por exemplo) quiser inscrever um profissional de seus quadros, poderá
pagar até R$ 350,00 por um curso. “O que queremos, realmente, é
incentivar um protagonismo político”, assume Seabra. Outra intenção é
integrar e atrair a própria área da Vila Buarque que, segundo o
pesquisador do Ipso, tem mais de 40 entidades atuantes da sociedade
civil.
O curso não é rígido no que tange os conteúdos criados. Pelo contrário,
quer estimular a produção vinculada às áreas de interesse dos alunos.
Que tal filmar a família – e espalhar as imagens para parentes
distantes? Ou gravar o que o acha de algum candidato e espalhar pela
web? O importante é ter noção de que a comunicação visual, hoje em dia,
não está restrita aos grandes meios – e que isso é um grande passo para
o ser humano. ”É preciso que as pessoas, de preferência as politizadas,
se apropriem dessas ferramentas”, defende Seabra.
Vale ressaltar que há diversos outros tipos de oficinas no Ponto da
Vila Buarque. Todas com o mesmo conceito. Há, por exemplo, a de
“projetos em vídeo”, que ensina sobre os vários formatos existentes de
imagem, sobre digitalização de acervo e até como pedir incentivos por
meio de leis. Quem preferir pode se expressar por podcasts, webradios,
ou aprender a fazer metarreciclagem em outras oficinas.