Conexão Social – Uma mina de informações, que vem do Recife

O projeto Livronauta usa o computador para valorizar a literatura; e o In'formar está montando agências de notícias e serviços digitais nas comunidades do Pilar e Peixinhos, com jovens de baixa renda. As duas iniciativas são do Porto Digital, pólo de empresas de tecnologia.

O projeto Livronauta usa o computador
para valorizar a literatura; e o In’formar está montando agências de
notícias e serviços digitais nas comunidades do Pilar e Peixinhos, com
jovens de baixa renda. As duas iniciativas são do Porto Digital, pólo
de empresas de tecnologia.
Verônica Couto


A biblioteca do Porto
Digital: opção de lazer
e cultura.
A comunidade do Pilar, uma das mais
antigas, pobres e com um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano
(IDH) do Recife (PE), está ao lado de um dos maiores empreendimentos
brasileiros da nova economia – o Porto Digital, núcleo com 90 empresas
de tecnologia da informação e comunicação. E são exatamente esses dois
bens estratégicos – informação e comunicação, principal matéria prima
do pólo tecnológico –, que os projetos In’formar e Livronauta, tocados
pela instituição, pretendem levar aos moradores do bairro e, desde o
final do ano passado, também à comunidade de Peixinhos, onde nasceu o
compositor Chico Science, na fronteira com Olinda.

As duas iniciativas se apóiam em meios digitais de comunicação e
produção de conhecimento. “Temos duas linhas de ação: a promoção do
acesso à informação e a capacitação dos jovens”, explica Julianne
Freire Pepeu, gerente da área de tecnologia social do Porto Digital.
Por meio do In’formar, a idéia é criar uma rede de agências de notícias
e de prestação de serviços digitais, operada por jovens de 14 a 24 anos
em comunidades de baixa renda. E o programa Livronauta articula o uso
conjunto da biblioteca da organização e do laboratório de informática
do Bandeprev Amro Bank, em oficinas de leitura para 40 crianças do
Pilar, de 9 a 13 anos, com apoio de alunos do Departamento de Letras da
Universidade Federal de Pernambuco.

No Pilar, não há opções de lazer e cultura, e a única escola do lugar –
Escola Municipal Nossa Senhora do Pilar – só tem turmas de primeira à
quarta série. Por isso, a biblioteca do Porto Digital, aberta em 2002,
hoje com 10 mil obras, ganhou muitos freqüentadores
A cumunidade de Peixinhos
retrata cenas do seu dia-a-dia.
(744 usuários
cadastrados no final do ano passado, para cerca de mil moradores
locais, em dados de 2001). Abrigou, por alguns meses, uma Escola de
Informática e Cidadania da ONG CDI, experiência que, de acordo com
Julianne, não prosperou. Com outra filosofia, focada nos próprios
livros, o projeto Livronauta começou em julho deste ano, com duração
prevista de dez meses, para
quatro turmas de dez alunos cada, e uma
oficina semanal de três horas para cada turma.

As atividades acontecem na biblioteca e no laboratório da Bandeprev
(com dez computadores, um por aluno, e software livre). Envolvem
exercícios de arte, leitura e cidadania; pesquisas em sites para
público infantil, de biografias e em bibliotecas virtuais; e jogos
virtuais de criação de personagens. No final, as crianças enviam
e-mails para os escritores, com as suas impressões sobre os textos. “Os
alunos escrevem, dominam os aplicativos, lêem em voz alta e adquirem
muitos conhecimentos simultâneos”, afirma Julianne. Reuniões de
acompanhamento também são feitas na escola, entre os mediadores do
projeto e os professores.

Agência multimídia


A igreja de Nossa Senhora do Pilar, que dá nome à escola municipal, foi
construída em 1680, pelos próprios moradores da região então conhecida
como Fora de Portas, com as pedras e sobre os alicerces do antigo Forte
de São Jorge, abandonado após batalha contra os holandeses, cinquenta
anos antes. Deveria estar sendo restaurada, conforme programa
municipal, mas ainda é alvo de vandalismo e abandono. Essa informação,
fotos recentes da igreja e do cotidiano da comunidade do Pilar
encontram-se no site criado pelos jovens capacitados em outra
iniciativa do Porto Digital, o In’formar.


No In’formar, o aprendizado inclui
 web design, fotografia, vídeo, etc .

O projeto In’formar começou em novembro de 2003, para cem jovens do
Pilar. Contou com US$ 150 mil do InfoDev, agência do Banco Mundial, R$
120 mil do Governo do Estado de Pernambuco, seis computadores doados
pela IBM, espaço cedido pela Prefeitura de Recife e conexões à internet
contratadas pelo Porto Digital, da Telemar. Prevê uma capacitação nas
áreas de computação e comunicação. Além de informática básica, web
design, manutenção de hardware, os participantes aprendem a mexer com
texto, fotografia (desde as técnicas com latas, ou pinhole, até câmeras
digitais) e vídeo (duas câmeras miniDV, uma ilha de edição não-linear).
O conteúdo também inclui formação nas áreas de cidadania, direitos e
pesquisas sociais, e aulas de reforço em Português e Matemática.

Intercâmbio comunitário

Embora a escolaridade não fosse pré-requisito, diz Julianne, os
interessados precisavam retornar à escola formal, o que aconteceu com
21 dos inscritos. Entre os cem jovens que iniciaram o projeto, 80
concluíram a capacitação no final de 2004, e 47 trabalham atualmente na
agência de notícias e serviços do In’formar. Os demais foram
encaminhados para estágios ou se preparam para o vestibular. A agência
já atendeu ao Cesar (fábrica de software), GM, Porto Musical, Sectma,
Conselho Britânico, UFPE, entre outros. Os jovens cobrem eventos,
produzem web sites, fazem filmes. São remunerados e, agora, avaliam a
melhor forma de organização, se uma microempresa ou uma cooperativa.


A igreja de Nossa Senhora
do Pilar, do séc. 17

Em outubro de 2004, o In’formar foi estendido à comunidade de
Peixinhos, dez vezes maior e em tudo diferente do Pilar, segundo
Julianne. Ela destaca que ali existe uma forte tradição cultural e de
mobilização comunitária. “Peixinhos é conhecida pela sua produção
musical. Há pobreza, mas não o mesmo quadro de baixa auto-estima e
falta de perspectivas que se vê no Pilar”, compara,  otimista com
o resultado desse intercâmbio. “Os vídeos produzidos no Pilar foram
exibidos para o pessoal de Peixinhos. Houve questionamentos técnicos e
de conteúdo, uma troca muito rica”, conta, ressaltando que, agora, são
60 jovens no curso.

Noutra frente, o Porto Digital também desenvolve, desde julho, o
projeto Na Rede, para a Agência Condepe/Fidem, em parceria com a
Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania do Estado de
Pernambuco. O propósito é capacitar 250 jovens, de 15 a 24 anos, também
em Peixinhos, em informática básica (Open Office) e web design, uma das
sub-metas (a 7.5) do Plano Metropolitano de Política de Defesa Social e
Prevenção à Violência na Região Metropolitana do Recife. Nessa
formação, afirma Julianne, o objetivo é sempre revelar o poder da
comunicação e da informação para profissionalizar jovens em situações
de risco social, permitindo que expressem suas realidades.


www.portodigital.org
www.informar.org.br ou (81) 3303.1232, ou e-mail agencia@informar.org.br
www.informar.org.br/comunidadepilar/index.html
– Página sobre a comunidade do Pilar, criada pelos integrantes do In’formar.