O site Overmundo está aberto a manifestações culturais do Brasil que não têm espaço para divulgação na mídia tradicional. Emanuel Alencar
Que a produção cultural brasileira vive um momento promissor e
efervescente, o antropólogo Hermano Vianna não tem dúvidas. No entanto,
a falta de divulgação dessa produção tem sido motivo de preocupação. O
convite feito pela Petrobras ao Núcleo de Idéias Movimento – do qual,
além de Vianna, fazem parte Alexandre Youssef, João Marcelo Zacchi e
Ronaldo Lemos – soou como ideal para tentar reduzir essa disparidade e
organizar esse boom criativo. Assim surgiu o Overmundo, um site aberto, que funciona como um banco das manifestações culturais geralmente fora da grande mídia.
Os Críticos Loucos, banda
hard core do Tocantins.
Desde dezembro de 2005, agentes correspondentes vêm alimentando o site
com informações sobre os 26 estados e o Distrito Federal. Nele, o
internauta já pode conhecer um pouco sobre os blocos carnavalescos de
Rio Branco, no Acre, ou sobre a cena roqueira sul-mato-grossense, por
exemplo. E, agora, qualquer um pode ser protagonista do Overmundo. Uma
vez cadastrado, o overmano ou a overmina – como são
chamados os colaboradores – pode contribuir para a construção do guia
da sua cidade, com dicas de lugares, festas e outras atividades. Também
pode inserir itens na agenda de eventos; disponibilizar e comentar
fotos, músicas, filmes e textos no banco de cultura e até mesmo criar
um blog.
O professor e coordenador da área de propriedade intelectual da Escola
de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ronaldo Lemos, um dos
criadores do site, explica as regras: “A partir da inscrição de uma colaboração no site,
a própria comunidade se encarregará de dialogar com o autor. Se o
artigo obtiver o suporte da comunidade, expresso em votos, ele entra
direto para as seções do site.”
Uma das primeiras colaborações veio do ministro da Cultura, Gilberto Gil, que colocou a música Oslodum para download
e remixagem grátis. Mas como encorajar os outros artistas a seguirem o
exemplo? “O Overmundo usa as licenças do Creative Commons. Com isso, o
autor mantém os direitos autorais sobre a obra, enquanto autoriza
alguns usos dela pela sociedade. No Brasil, onde os canais para
expressão cultural são limitados, o que mais importa, para quem produz
cultura, é ser visto, lido, ouvido”, analisa Lemos.
Trabalho de campo
A jornalista Natacha Maranhão é a correspondente do Overmundo no
Piauí. “Achei a idéia fantástica. O Piauí não tem muitos eventos. O que
mais chama a atenção por aqui é mesmo a cultura popular, os artistas
que vivem escondidos
da grande mídia”, diz Natacha. “Para um estado que sempre carregou
títulos como ‘o mais pobre’, ‘o mais quente’, ‘o mais atrasado’,
revelar sua cultura acaba sendo uma massagem no ego”, comemora. É o que
também pensa a correspondente em Sergipe, Maíra Ezequiel: “O Sergipe é
um estado culturalmente riquíssimo, mas ainda pouco consciente dessa
riqueza”.
Para Ricardo Sabóia, correspondente do Ceará, priorizar manifestações
com pouca visibilidade na mídia, não inviabiliza a cobertura de
assuntos mais visíveis.
“Escrevi sobre a I Semana de Software Livre, promovida pela
Universidade Federal do Ceará, porque o tema não fica restrito a
editorias de informática, mas aborda questões essenciais da cultura
contemporânea”, comenta.