Conexões sustentáveis


*Carlos Pingarilho


O conceito de cidades digitais se refere à oferta de serviços baseados
numa infra-estrutura de banda larga e computacional que buscam atender
demandas públicas, dos cidadãos e dos negócios nas municipalidades. Há
um conjunto de quatro drivers para a adoção desses projetos
digitais: operações da cidade, satisfação do cidadão, inclusão digital
e desenvolvimento econômico. As operações da cidade incluem serviços
para automatizar tarefas e oferta de informações governamentais, e
prestação de serviços públicos. Assim, há dois alvos para essas
aplicações: o funcionalismo, que utiliza a infra-estrutura digital para
se comunicar e trabalhar com mais eficiência; e o cidadão, que utiliza
os serviços públicos pela internet, via infocentros ou postos móveis
que aproveitam as características de mobilidade/portabilidade
oferecidas pela infra-estrutura de conectividade básica.

Pode-se, então, interligar as unidades administrativas (órgãos
públicos, escolas, hospitais, postos policiais e outros) com serviços
de voz, dados e imagem e automatizar os serviços públicos. Nessa
categoria, existe, ainda, um serviço muito valorizado recentemente: a
segurança pública por meio de tecnologias de vigilância eletrônica. Os
serviços que visam a satisfação do cidadão compreendem uma família de
atividades para atender demandas como saúde e transporte, melhorando
sua eficiência e a qualidade de vida dos munícipes. A melhoria nos
serviços de saúde inclui desde o aumento na eficiência dos agendamentos
de consultas até a introdução de PHR (Personal Health Records) —
prontuários eletrônicos que contêm o histórico de saúde de cada
cidadão. Da mesma forma, o sistema municipal de transporte pode se
beneficiar de um melhor controle de itinerários, veículos e horários.

As aplicações de inclusão digital se destinam a oferecer serviços à
população de baixa renda e em ambientes compartilhados (infocentros,
escolas, bibliotecas, etc.). Além de inserir o cidadão de baixo poder
aquisitivo no mundo da internet, as escolas passam a ter acesso a
conteúdos multimídia e educacional. Finalmente, os negócios dessas
municipalidades podem ser beneficiados pela oferta de acesso à internet
e pela criação de um ambiente fértil para o crescimento de novas
atividades empreendedoras, facilitado pela presença de infra-estrutura
tecnológica. Por exemplo, o desenvolvimento das localidades com alto
potencial turístico que ainda estão “isoladas” digitalmente.

Cada cidade deve identificar os serviços que melhor se adaptam às suas
características, renda e população, sem se ater a modismos. Contudo,
uma conclusão bastante clara nos casos internacionais de sucesso é que
o suporte a um único serviço não justifica os investimentos necessários
para a construção de uma infra-estrutura com a qualidade demandada
pelos cidadãos e órgãos públicos. Adicionalmente, esse modelo deve ser
independente das transições políticas inerentes a toda atividade
governamental. A grande maioria dos casos bem-sucedidos no mundo adota
um conjunto de serviços selecionados que envolve mais de uma das
categorias apresentadas neste artigo, de forma que alguns serviços
pagos suportem a operação do modelo, e que outros tragam melhorias de
qualidade de vida para o cidadão e eficiência para a cidade. Esses
serviços visam evitar modelos com suporte a longo prazo por
benemerência, construindo um conjunto equilibrado de serviços que
garanta sua sobrevivência e financiando suas operações sem dependência
direta de recursos públicos ou de doações.


(*) Diretor de serviços e tecnologia da Promon