Rafael Bravo Bucco
31/01/2013 – Na manhã desta quinta-feira, aconteceu na Campus Party um debate sobre como tornar as futuras gerações mais críticas em relação aos meios de comunicação. Falaram Lilian Romão, diretora executiva da Viração, o professor Ismar de Oliveira, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da ECA-USP, Jonas Suassuna, CEO do grupo Gol (que produz conteúdos educacionais), e Carlos Alberto de Lima, coordenador do Programa Nas Ondas do Rádio.
O professor Oliveira abriu o debate traçando um breve histórico da educomunicação. Comentou críticas feitas por militantes do movimento da educomunicação à criação de cursos de formação de educomunicadores. “Muitos são contra por achar que é uma institucionalização do conceito, surgido com rebeldia, com luta por autonomia. Existe o direito à educomunicação, e esse espaço é conquistado, no Brasil, por políticas públicas”, disse. A USP foi a primeira universidade pública a inaugurar um curso de graduação em educomunicação.
A seguir, Lilian Romão ressaltou o papel fundamental da educomunicação para desenvolvimento dos jovens e inclusão digital. “Qual é nossa diferença, como espectadores, dos epectadores dos anos 50? O formato do telespectador interagir com a TV, mesmo no atual formato digital, continua o mesmo. Nós precisamos, quando falamos de um direito humano, ter a capacidade de analisar criticamente, de produzir”, falou.
Para a diretora da Viração, mesmo com a internet, ainda há uma parcela grande de jovens que consomem conteúdo de forma passiva. “Com a internet a gente tem a possibilidade de acessar nosso direito a comunicação de forma mais interativa. Mas pesquisas mostram que os jovens brasileiros usam o Facebook para curtir, muito mais do que para compartilhar. Quando a gente fala do espaço da comunicação nas escolas como direito, queremos que seja realmente um espaço para produzir e interagir”, completou. Lilian aproveitou para comemorar. A Viração está completando 10 anos em 2013, e convidou o público interessado a fazer parte da moçada que produz revista e sites, como a Agência Jovem.
Jonas Suassuna, da Gol, chamou a atenção do público para a necessidade de a escola ser repensada. “O jovem não aceita mais um jeito antigo de aprender. Eles são usuários multiplataforma, fazem tudo ao mesmo tempo. Não aceitam se dissermos que vamos levar meses para ensiná-los a calcular o número pi. Estamos diante de uma nova geração, uma geração rápida, que tem necessidade de aprender com rapidez”, comentou.
Por fim, Carlos Alberto de Lima comentou o funcionamento do programa Nas Ondas do Rádio. Em funcionamento em toda a rede municipal de ensino de São Paulo, leva a educomunicação a crianças a partir dos três anos de idade e do ensino funtamental. Pela rede de Lima, já passaram jovens com deficiência auditiva e indígenas. “Se desenvolvermos na criança a forma de produzir mídia, no futuro, ela não vai se iludir sobre a mídia. Terá mais condições de acessar conteúdo com qualidade”, afirmou.
Pelo Nas Ondas do Rádio, a criançada aprende a criar conteúdo, desde a produção à edição final, usando equipamentos de rádio e TV e computadores. Retomando o pensamento de Suassuna, Lima também sugeriu aos educadores presentes repensarem a sala de aula. “Talvez seja preciso reformular o espaço de produção de conhecimento, trabalhar com um modelo baseado em projetos em vez do padrão de alunos enfileirados olhando uns pras nucas dos outros”, opinou. Segundo ele, o Nas Ondas do Rádio está presente em 300 escolas e já impactou 30 mil alunos.