Rafael Bucco
12/04/2014 – A Cryptorave, evento criado para debater a segurança e privacidade de dados na internet, superou as expectativas dos organizadores. A primeira edição mundial do evento de segurança juntou mais de 2 mil pessoas no Centro Cultural São Paulo, na capital paulista. Neste sábado, a festa continua, as últimas palestras acontecem às 18h.
O ambiente que hospedou o debate de abertura, entre Sergio Amadeu da Silveira, professor da UFABC e ativista do software livre, e Jérémie Zimmerman, representante da organização francesa La Quadrature du Net, que defende a liberdade na internet, precisou ser redimensionado para acomodar os interessados.
Na palestras Amadeu e Zimmerman expuseram o clima de cyberguerra em que vivemos hoje. Segundo eles, todos os internautas são vítimas da vigilância em massa das comunicações que vem sendo praticada por governos de diversos países, especialmente dos Estado Unidos.
“A cyberguerra não respeita cidadão nem instituições. A vigilância massiva se realiza com a entrega de nossas informações pessoais a corporações de TI”, ressaltou Sérgio Amadeu, lembrando que a maioria dos usuários entrega, gratuitamente, dados sobre si mesmos para Facebook, Gmail, Microsoft sem exigir transparência a respeito de como tudo será utilizado.
Ele também lembrou que o Cispa, projeto de lei que autoriza o monitoramento do governo dos EUA às comunicações de todos os usuários, sem necessidade de ordem judicial, tramita no Senado estadunidense. “Aprovado na Câmara, eles apenas deram um tempo por causa das denúncias de Snowden”, disse.
Amadeu frisou que empresas que deveria respeitar nossa privacidade enviaram ao congresso do país cartas de apoio ao Cispa, e listou algumas: “Facebook, HP, Oracle, Motorola, Time Warner defendem o projeto”.
Lembrou ainda que a economia em torno dos dados pessoais movimenta bilhões de dólares, cobrou esforço da sociedade para pressionar empresas e governos a garantir privacidade e segurança dos dados. Reforçou, porém, que nós, os usuários, devemos tomar medidas para reduzir a vigilância.
“Há uma microeconomia da intrusão. Nossos rastros digitais valem muito dinheiro. Se você usar criptografia no dia a dia, vai criar um enorme obstáculo para as empresas”, disse.
Jérémie Zimmermann
O ativista da La Quadrature du Net comentou que no estado de cyberguerra emque vivemos, todos os usuários da internet são vítimas. Para exemplificar, lembrou a falha Heartbleed, que permite obtenção de dados pessoais e de criptografia de servidores e computadores. “A NSA sabia da falha no OpenSSL há dois anos, e vinha se aproveitando disso”, afirmou.
Para Zimmerman, a evolução tecnológica nos últimos 20 anos alterou a relação das pessoas com as máquinas. Passamos da era das máquinas amigáveis para a das máquinas inimigas”, disse.
Em ressonância com Amadeu, Zimmerman lembrou as possíveis consquência socias da vigilância em massa. “As potencias consequêncas podem ser de devastar economias e regimes políticos legítimos”, afirmou.
Ele chamou a atenção para os smartphones, cujas tecnologias são proprietárias e fechdas. “Temos que nos perguntas o que temos nos bolsos. Quais os chips que temos aqui? Como funcionam? A Motorola não nos dá um diagrama de seu hardware”, falou.
Ele lembrou que na década de 1970 e 1980, quando a informática começa a era da computação pessoal, os computadores vinham com manuais que explicam seu funcionamento por completo, não apenas a camada visível, do software. “O que temos dentro do smartphone? Não sabemos. Em termos de software e hardware aberto em comunicações, o que existe está 15 anos atrasado, pois tudo o que os smartphones possuem hoje são tecnologias proprietárias”, frisou.