Cultura – A arte envolve a periferia

Rede Telemig Celular de Arte e Cidadania promove interação de grupos artísticos de diferentes regiões de Belo Horizonte.


Rede Telemig Celular de Arte e Cidadania promove interação de grupos artísticos de diferentes regiões de Belo Horizonte.   João Luiz Marcondes

Tarde de sol e céu azul nas proximidades da Barragem Santa Lúcia,
bairro típico de periferia em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais.
Em um morro recortado por ruelas de terrão batido ao pé, crianças
brincam descalças. Nesse sábado, um acontecimento diferente chama a
atenção dos moradores. O batuque frenético, no estilo do grupo baiano
Olodum, ecoa pelos caminhos da favela. Um grupo de percussão desfila
pelas vias estreitas, seguido por um divertido cortejo, que é animado
por palhaços coloridos e outras personagens extravagantes.

Num clarão de chão empoeirado, foram erguidas tendas de circo em
vermelho e azul. Há barracas com coisas para comer e para beber. E uma
barraca com um computador para acessar a internet. Esse é mais um “Caia
na Teia”, da série de eventos da Rede Telemig Celular de Arte e
Cidadania, que movimentou a periferia de BH por três finais de semana
de setembro. ARede foi conferir um deles, em que o Grupo do Beco, da
Barragem, recebeu iniciativas artístico-sociais de outras periferias
mineiras, como o grupo de percussão Arautos do Gueto, e o Circo de Todo
Mundo. Umas das idéias diferenciadas do projeto é que o grupo anfitrião
nunca se apresenta para a própria comunidade, mas “apresenta”
convidados. O Arautos é do Morro das Pedras. O Circo, do Horto. A Rede
Telemig Celular de Arte existe desde 2004 e já abriga 26 grupos
culturais.

Normalmente, são grupos que conseguiram apoio de leis de incentivo à
cultura. A empresa de telefonia móvel, por meio de isenção fiscal (3%
do ICMS), transfere recursos para os projetos. E ainda dá uma
contrapartida, de um quarto do valor. Por exemplo, se a isenção fiscal
proporciona R$ 100 mil para determinado projeto, a empresa entra com
mais R$ 25 mil.

Irmãos coragem


“O circo estimula a capacidade de sonhar sem precisar tirar o pé do
chão”. A frase é de Gisele Gonçalves, 20 anos, instrutora de acrobacia
aérea do projeto Circo de Todo Mundo. Ela foi uma garota de periferia
que, aos 13 anos, encantou-se pela lona colorida e se juntou à trupe.
Mesmo assim, Gisele esclarece que não é nada fácil fazer com que
crianças e adolescentes expostos a situação de risco se adaptem ao
cotidiano circense. “Aqui existe disciplina, tem que ter horário,
respeitar o próximo. Quase a metade deles desiste, estão acostumados
com a liberdade das ruas”, explica.

Para os que persistem, vale, e muito, a pena. É o caso de Helbert Bruno
da Silva, de 17 anos. Filho de pai ausente, o menino vivia na rua,
metido em brigas, consumindo drogas e cometendo pequenos furtos. Seu
irmão mais velho, Euler, integrava o Circo para Todos. Enquanto Helbert
era freqüentador de reformatórios para menores, Euler viajava para
outras cidades com a trupe e até dava aulas para outros garotos.

Uma madrugada, depois de uma noitada alucinada no centro da cidade,
Helbert parou para ouvir o irmão. Foi para o circo e gostou do negócio.
Hoje Euler está na China, especializando-se. E esse é o sonho de
Helbert, no momento: “Quero ser artista e conhecer o mundo”, almeja o
garoto.

Ensino


Projeto promove a integração
das manifestações culturais
e populares

Mas nem todos os projetos buscam remediar situações. “Nosso foco não é
o resgate, mas a prevenção. Trabalhamos forte para mostrar uma
oportunidade, indicar um caminho”, explica José Antônio Inácio,
coordenador geral do grupo cultural Arautos do Gueto. Com dez anos de
existência, o Arautos começou com uma vaquinha de R$ 400,00 usados na
compra de material para a confecção de tambores. Porém, o som
envolvente do batuque do grupo conquistou a capital do estado. O grupo
chegou a se apresentar no Mineirão, no intervalo de partidas de futebol
do Campeonato Brasileiro.

Uma das premissas do Arautos é estimular a Educação. “Hoje os jovens
estão muito desmotivados a estudar”, preocupa-se José Antônio. Mas, se
fazer música parece bem mais atraente que ir à escola, é bom lembrar
que o ritmo remete à importância da matemática, e as letras não seriam
possíveis sem um bom conhecimento do português. É assim que pensa José
Antônio, para quem não são apenas os alunos que têm o que aprender. O
coordenador do Arautos também freqüentou cursos com profissionais da
Telemig especializados em gestão, o que aumentou o profissionalismo do
grupo e deu mais sustentação a seu projeto — que já conta com 120
crianças e adolescentes, devendo receber mais 80, em outubro.

“Uma de nossas preocupações é justamente que esses projetos tenham vida
própria”, comenta Marcos Barreto, gerente de desenvolvimento cultural
da Telemig Celular. Desde 2004, 43 projetos já foram patrocinados e R$
3 milhões foram investidos com quase 700 profissionais envolvidos
diretamente na Rede Telemig Celular de Arte e Cidadania.

“Percebíamos que esses grupos não interagiam. Por isso criamos essa
iniciativa que integra as diversas manifestações culturais.
Estimulamos, dessa forma, a discussão do uso do dinheiro comum, a cena
coletiva, seus rumos, o desenvolvimento sustentável”, enumera Marcos.
“Também pretendemos eliminar o amadorismo. Visamos, por exemplo, a
aprovação de projetos adequados aos padrões internacionais”, conclui
Marcos.