Ministérios da Cultura e da Ciência e tecnologia tornam conteúdos culturais e científicos acessíveis
Lúcia Berbert
A digitalização dos acervos culturais e de ciência e tecnologia do país foi selada pela assinatura, em junho, de um acordo de cooperação técnica entre os ministérios da Cultura e da Ciência e Tecnologia. A parceria, que prevê investimentos de R$ 30 milhões até 2010, vai permitir que os conteúdos sejam reutilizados, difundidos em rede e acessados por pessoas portadoras de deficiências.
Entre a série de iniciativas previstas, está a criação de um Banco de Conteúdos Audiovisuais Brasileiros (BCA). Serão recuperados e digitalizados filmes do Instituto Nacional de Cinema (Ince) realizados entre os anos 1930 e 1950. Por meio do banco, também será feita a renovação de equipamentos e o reforço das equipes da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, e do Centro Técnico Audiovisual (CTAv), no Rio de Janeiro.
O acordo prevê ações fundamentais para implantação e manutenção de plataformas de acesso aos conteúdos digitalizados e o desembaraço dos direitos autorais e patrimoniais, de forma que as obras sejam colocadas à disposição na internet. “Em termos conceituais, o projeto do BCA incorpora elementos inovadores do crescente movimento de transparência, interoperabilidade e maior descentralização no contexto de criação, produção e distribuição do audiovisual na rede”, explica o gerente de Informações Estratégicas do MinC, José Murilo Júnior. Ele adianta que o acesso a esses conteúdos será possível pela recente implementação do HTML 5, que torna possível ver os arquivos de vídeo no browser, sem necessidade de estarem encapsulados em um player.
Hoje, cerca de 80% dos conteúdos audiovisuais na web são visualizados no formato flash (proprietário). Essa condição bloqueia a inovação e a geração de novos cenários para o (re-)uso colaborativo dos conteúdos em vídeo. “Com o HTML5, que está previsto para ser suportado na versão 3.5 do Firefox, temos um cenário propício para uma grande revolução no setor de vídeo na web”, disse Murilo Júnior. E acrescenta: os projetos estarão em sintonia com essas novas tendências, que têm sido identificadas sob a bandeira do movimento Open Video (vídeo aberto), de ambiente mais fértil para os produtores independentes (veja artigo na página 46).
A parceria entre os ministérios da Cultura e da Ciência e Tecnologia vai além da digitalização de acervos. A aproximação dos dois órgãos se concretiza também na colaboração entre a coordenação da Cultura Digital do MinC com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), do MCT. Haverá conexão das unidades vinculadas ao Ministério da Cultura localizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo às Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa (Redecomep), em velocidades que variam de 1Gbps a 10 Gbps. A Biblioteca Nacional, a Funarte, a Cinemateca Brasileira e museus como o do Folclore, o Histórico Nacional, o de Belas Artes e o da República, além da Casa de Rui Barbosa, serão incorporados a essas redes.
“Ao multiplicarmos a capacidade de tráfego de conteúdos digitais nessas instituições, novos desafios são colocados. Será preciso prospectar sobre os usos que a nova infraestrutura proporciona. Nesse sentido, o MinC está desenvolvendo uma série de estudos e diagnósticos para ampliação e qualificação do uso da rede”, disse Murilo Júnior. Ele informa que está programado para setembro um seminário com instituições que guardam coleções históricas, com o objetivo de articular e integrar as ações. O seminário de digitalização integra um processo maior, chamado Fórum da Cultura Digital Brasileira. A novidade da iniciativa consiste no lançamento da rede social de cultura digital. O MinC lançou um site de relacionamento (www.culturadigital.br), para quem tem interesse em expor e conversar sobre a cultura digital.
O objetivo do Fórum da Cultura Digital é produzir, de forma colaborativa, uma política pública para o Brasil. “Pretendemos aprofundar a reflexão em torno de uma política pública de universalização do acesso à cultura, ao conhecimento e à participação cidadã no meio digital”, disse Murilo Júnior. Esse Fórum, realizado também em parceria com a RNP, terá outros eventos no segundo semestre, e deve se encerrar em novembro, com um evento internacional.
Os estudos e ações contemplados na parceria do MinC com a RNP envolvem o desenvolvimento de redes sociais para usuários de bibliotecas e museus, prospecção de interatividade em conteúdos para a TV digital; desenvolvimento de ambiente de conteúdos e serviços para o público de lan houses; proposta para ambientes de acesso wireless público em espaços multiuso, entre outros.
Na área de inclusão digital, a parceria prevê a aproximação das iniciativas da Rede de Tecnologia Social e dos Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs), do MCT, com os Pontos de Cultura, do MinC. O plano é fomentar projetos que introduzam modelos e práticas de diagnóstico local e modelos alternativos de gestão de negócios solidários e geração de trabalho e renda. MinC e MCT trabalharão colaborativamente no âmbito do projeto Casa Brasil, no desenvolvimento de ambientes virtuais integrados para a formação de monitores e oficineiros encarregados da qualificação do uso e formação (animação) de redes para as iniciativas governamentais de inclusão digital e programas de popularização de Ciência, Tecnologia e Inovação.
O plano contempla a integração dessas plataformas online com serviços de busca e acesso a bibliotecas digitais, envolvendo projetos como os Pontos de Leitura e a Rede Biblioteca Viva.