Cultura – Arte e atitude

No Dia do Grafite, spray em punho, artistas dão seus recados em todo o país. Thiago Vaz

​O Graffiteiras BR é um movimento que reú­ne mulheres de todo o Brasil com um objetivo comum: fazer grafite. Porém, mais do que isso, as garotas fazem do grupo um espaço para debates de problemas que as mulheres enfrentam no cotidiano, como preconceito, violência, abusos, discriminação e segregação no universo do trabalho. A paulista Ana Clara Marques, que atua na área há mais de dez anos, conta como a ideia surgiu, em 2003.​

“Quando colocava em uma ferramenta de busca as palavras ‘grafite e mulheres’, só vinham sites eróticos ou imagens que exploravam a condição feminina. Eu encontrava muitas coisas machistas por parte de outros grafiteiros, também”. Foi então que ela se juntou a Fernanda Alves Sunega, a “Nada Frágil”, de Campinas, a Marcela Prima Dona, do Rio de Janeiro e resolveram formar o Graffiteiras BR.

As integrantes interagem e se fortalecem como uma rede social, via internet ou torpedos SMS. Mas aproveitam eventos de maior abrangência, como o Fórum Social Mundial, congressos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), para realizar seus encontros presenciais. No dia 8 de março deste ano, em comemoração do Dia Internacional da Mulher, uma parte do grupo realizou um encontro regional, no município de São Caetano do Sul (SP), e fez intervenções nos muros da E.E.M.F. Péricles Eugênio da Silva Ramos. Os temas dos grafites foram as questões femininas na sociedade.

Este é apenas um exemplo de como o grafite vai se consolidando, cada vez mais, como uma “atitude”, para além de uma manifestação de arte popular. Em São Paulo, em 2004, uma lei municipal instituiu o Dia do Grafite, a 27 de março. A data presta uma homenagem a Alex Vallauri, pioneiro do grafite no Brasil, que morreu nesse dia, em 1987. Vallauri foi o primeiro grafiteiro a expor em uma bienal de artes, a 18ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1985.

Mas não é apenas na capital paulista — que também é conhecida como a capital do grafite — que, todos os anos, nesse dia, grafiteiros organizam manifestações para apresentar e divulgar suas propostas. Na Bahia, Denis Sena, Eder Muniz e Marcos Costa, entre outros artistas, organizam eventos culturais, exposições coletivas em museus e articulam projetos sociais em parceria com o poder público de Salvador. Este ano, a comemoração resultou em uma nova intervenção no muro externo do Campus 1 da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Em outros estados, pipocaram iniciativas como as do coletivo Acidum, de Fortaleza; de Tubarão e Eteia Braga Ramos, na capital cearense; do Grafiteiro Da Lata, de Minas Gerais; do Acme, do Rio de Janeiro; assim como de Neurozy Sabino e Snup Satão, do Distrito Federal, entre muitos que ainda não conseguiram tornar seus trabalhos conhecidos. E essa é uma das grandes dificuldades dos grafiteiros — viabilizar projetos de intervenção urbana. Pensando nisso, o grafiteiro e estudante de comunicação Agner Simões está produzindo um material multimídia com o objetivo de ajudar os grafiteiros a encaminhar seus projetos. Ele tem um projeto com uma empresa fabricante de tintas spray, de Guarulhos (SP) e está documentando todas as etapas de suas atividades. Fotografa, filma e entrevista as pessoas envolvidas no projeto, o que resultará em um registro multimídia disponível no site da empresa. “Esse material servirá como um guia para a estruturação dos projetos. Isso vai valorizar os grafiteiros que, em muitos casos, têm o talento de pintar mas não têm o mesmo sucesso na hora de conseguir patrocínio”, ressalva Agner.


No dia do grafite,artistas fazem painel na Ação Educativa.


Tinta fresca

A organização não-governamental Ação Educativa, de São Paulo, realiza, pelo sexto ano consecutivo, uma exposição em comemoração ao Dia do Grafite. Os artistas assinam a pintura do salão de entrada da ONG e expõem seus trabalhos. A curadoria é coletiva, com texto do historiador e crítico de arte João J. Spinelli. O destaque deste ano é o artista plástico e grafiteiro Rui Amaral, que também participa da exposição com pintura coletiva. Grafiteiro há 30 anos, Amaral foi o primeiro a fazer uma pintura à mão livre, em uma área com mais de 15 metros de altura. Local: Rua General Jardim, 660, Vila Buarque, São Paulo, SP  – Data: de 28 de março a 24 de maio – Entrada gratuita – Mais informações: (11) 3151-2333

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