As fotografias desta materia são obras de
fotógrafos do Imagens do Povo, centro de documentação, pesquisa e
formação, criado pela ONG Observatório das Favelas, que atua no
complexo da Maré, no Rio de Janeiro: um projeto de inclusão visual.
Patrícia Cornils
Você já ouviu falar de inclusão visual? São projetos nos quais os
moradores de comunidades de baixa renda usam a fotografia para
desenvolver o sentimento coletivo e o espírito de solidariedade social
e de cooperação. Além disso, criam uma alternativa de renda, porque são
montados bancos de imagens para vender sua produção fotográfica. Nas
imagens fica evidente, além da qualidade do trabalho dos fotógrafos, o
que é inclusão visual: é a comunidade ser vista com o olhar de quem
vive nela, em vez de ter sua história documentada só por pessoas de
fora. “Não queremos ser retratados com olhares que só enxergam o que
não presta aqui”, diz Francisco Valdean, fotógrafo, morador da Baixa do
Sapateiro, no complexo da Maré, no Rio de Janeiro.
As imagens destas duas páginas foram produzidas pelos fotógrafos do
Imagens do Povo, um projeto de inclusão visual. O Imagens do Povo é
centro de documentação, pesquisa e formação criado pela ONG
Observatório de Favelas, que atua no complexo da Maré. Seus fotógrafos
foram formados na primeira turma da Escola de Fotógrafos Populares, na
qual 22 pessoas de 16 comunidades cariocas aprenderam a fotografar e a
organizar e gerenciar um banco de dados online. O Imagens do Povo
criou, além da escola, um Banco de Imagens e uma Agência de
Fotografias. No banco estão cerca de 2 mil fotos, vendidas a
publicações comerciais ou cedidas gratuitamente a organizações a
serviço dos direitos humanos. Com a incorporação das fotos produzidas
pela primeira turma, desde outubro, quando o curso foi encerrado, o
banco chegará a 4 mil imagens, em breve. Grande parte desse acervo,
hoje, é de fotografias de João Roberto Ripper. Ele e o fotógrafo
Roberto Funari estimularam a criação do Imagens do Povo.
O Imagens do Povo participou da Jornada Internacional de Inclusão
Visual promovida no Foto Rio 2005 – Encontro Internacional de
Fotografia do Rio de Janeiro, onde fotógrafos que utilizam a fotografia
como meio de inclusão social em Buenos Aires, Cali, Marselha, México e
Rio de Janeiro expuseram sua produção. A mostra foi ao lado da sala da
exposição de Henri Cartier-Bresson, um dos maiores fotógrafos que a
humanidade produziu, morto em 2004. Assim como ele, os fotógrafos da
Maré não enxergam tudo lindo. Ao retratar a comunidade com o que lhe
falta, mas também com sua diversidade e com o que produz, eles criam
uma identidade da qual podem se orgulhar. E recuperar a auto-estima e
gostar do mundo onde se vive é o primeiro passo para mudá-lo.
http://www.washingtonpost.com/wp-srv/style/museums/photogallery/bresson/index.htm – Retratos feitos por Cartier-Bresson