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cultura – Para contar a História

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Para contar a História

Projeto de educomunicação desenvolve materiais educativos multimídia, e livres, sobre a independência, na Bahia.
Áurea Lopes

 

ARede nº 91 – maio de 2013

Você, que não é da Bahia, sabe dizer por que deram o nome de “2 de julho” para um estádio de futebol, para uma praça pública, e até para um aeroporto internacional, em Salvador, a capital do estado? E você, que é da Bahia, pode saber o que é o 2 de julho, mas… já ouviu falar dos Encourados de Pedrão? Uma data que todos conhecemos muito bem é o 7 de setembro, dia em que o Brasil comemora a proclamação da Independência. O que poucos sabem é que, na Bahia, a independência, pra valer, só chegou quase um ano depois, no dia 2 de julho de 1823 (ver página 39). E às custas de uma baita luta para expulsar os portugueses, com sangrentas batalhas das quais participaram vários heróis – entre os quais, os 39 camponeses do batalhão Encourados de Pedrão, comandado pelo Frei José Maria do Sacramento Brayner. Por isso, o 2 de julho se tornou uma das mais importantes festas da cultura da Bahia, reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) como um patrimônio imaterial.

cultura historia 2 220A partir desse movimento político-cultural, surgiu o Projeto Dois de Julho: A Independência do Brasil na Bahia, com o propósito de ampliar o conhecimento da população sobre suas próprias origens. Focado na comunidade e nas escolas públicas, o projeto foi desenvolvido pela Cipó – Comunicação Interativa, organização social que realiza o Programa Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia, em parceria com o instituto Oi Futuro. O projeto foi contemplado pelo Edital Demanda Espontânea – 2011, do Fundo de Cultura da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

Durante seis meses, uma equipe formada por 25 jovens e 10 profissionais, todos ligados ao Núcleo de Produção da Oi Kabum! trabalhou no projeto. Eles passaram por formações sobre aquele período da história local e se dedicaram a investigações, filmagens, fotografias e entrevistas com especialistas, em Salvador e em cidades do Recôncavo Baiano. Daí resultou um conjunto de materiais multimídia: textos, fotografias, vídeos, ilustrações e animações. Para mostrar e distribuir todo esse conhecimento, foram criados um site com vários conteúdos e um Guia do Educador, um DVD-Rom com quatro vídeos, e a exposição interativa “Ao pé do caboclo”, realizada na Galeria Oi Kabum!, no Pelourinho. A exposição vai para a cidade de Cachoeira, depois volta para a galeria, onde estará aberta novamente, de 2 a 30 de julho.

Uma mesa interativa foi idealizada especialmente para a exposição: em uma caixa de madeira, um monitor de TV exibe um painel sobre o projeto. Os visitantes podem apertar botões e acionar vídeos, animações e fotoclipes. Na exposição, também são realizadas oficinas para capacitar educadores na utilização do material em sala de aula. A ideia é que sejam feitas oficinas itinerantes, em outras cidades. No site, há diversos materiais livres para baixar “Está tudo disponível ao público em geral, mas pensamos especialmente nas escolas e projetos socioeducativos. Por isso, o site valoriza a hipertextualidade, consiste em um espaço de construção colaborativa”, diz Isabel Gouveia, coordenadora da Cipo. O download é livre, desde que citada a fonte.

Brenda Gomes, de 21 anos, que participou do projeto na área de pesquisa, diz que esse episódio da história é estudado superficialmente nas escolas. Ex-aluna da Oi Kabum! no curso de computação gráfica, hoje ela cursa faculdade de jornalismo e trabalha no Núcleo de Produção. Ela conta que viajou com a equipe, entrevistou moradores e aprendeu sobre as batalhas no interior, sobre a importância da figura dos caboclos: “Na primeira festa, em 1824, o caboclo foi escolhido como uma figura mística do movimento. A população não queria um branco para não identificar com os portugueses, nem um negro, que era desprestigiado, na época. Assim, elegeram como símbolo o caboclo e, depois de um tempo, a cabocla”.

No site, está disponível o Guia do Educador, publicação de 30 páginas, com todos os conteúdos produzidos no projeto, metodologias de trabalho, sugestões de atividades pedagógicas, textos sobre pesquisa e análise de fontes históricas, cartografias, glossário, entre outros tópicos. Uma animação conta em detalhes as batalhas e lutas da resistência, explicando qual foi a participação dos diversos personagens.

Uma das responsáveis por esse módulo foi a alagoana Tatiane Lima, que fez animações, integrando a equipe que criou os personagens, fez as ilustrações, definiu o roteiro. Ela participa da Oi Kabum! desde 2010. Frequentou as oficinas de design e se interessou por animação, tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na faculdade de Design Gráfico. “Aprendi que a linguagem da animação é diferente da do audiovisual. Estou me dedicando a isso porque é um mercado novo, promissor. Embora aqui em Salvador ainda não tenha muito campo”, conta a autora do blog Tati Pimenta (http://tatipiment.blogspot.com.br). 

www.cipo.org.br/2dejulho

 

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O dia em que os portugueses bateram em retirada
Em 1822, o Brasil estava a poucos passos da Independência e a Bahia em atraso com esse momento histórico. A metrópole está determinada a manter sob jugo essa importante província da colônia brasileira. Nomeia o militar luso Madeira de Melo, comandante das armas na Bahia, destituindo do cargo um brasileiro. Abre-se o confronto e os fatos se sucedem no ritmo de guerra. Em Salvador, a capital da província, as tropas brasileiras são derrotadas. Desagregam-se. Parte da população (muita gente influente) se retira para o Recôncavo.

A resistência se iniciou a partir de 14 de junho de 1822, nas vilas do Recôncavo, que aderem ao príncipe D. Pedro. Uma canhoneira portuguesa foi rendida e passa a funcionar um governo autônomo. Formaram-se batalhões patrióticos. Uma estratégia em ação: impedir que os lusos tivessem acesso aos bens de natureza alimentar, em sua maioria proveniente de fora da capital. Em função disso, se desenrolam batalhas por terra e pelas águas da Baía de Todos os Santos.

 A batalha de Pirajá, realizada nos dias 8 e 9 de novembro de 1822, pôs fim à guerra. O Brasil já estava independente de Portugal. Não dava mais para suportar a presença das tropas portuguesas ocupando Salvador. Para este fim, D. Pedro contratou os militares estrangeiros Pedro Labatut e o Lord Cochrane. Porém, só após a retirada dos portugueses de Salvador, em 2 de julho de 1823, efetivou-se a Independência do Brasil na Bahia. Consagrou-se este dia como data símbolo do acontecimento.

Fonte: Projeto 2 de julho / www.cipo.org.br/2dejulho

 

Cortejo em Salvador
O site do projeto mostra a festa popular do 2 de julho, que representa o cortejo da entrada triunfal do Exército Libertador em Salvador. Conheça as principais personagens do movimento:

Soldado Soledade, Tambor Soledade. Tinha a função de passar ordens à tropa brasileira, por meio dos toques do tambor.

Maria Quitéria, a mulher-soldado. Cortou o cabelo, vestiu-se de homem e se alistou. Com habilidades para manusear armas de fogo e exemplo de bravura nos campos de batalha, alistou-se sem permissão dos pais.

Madeira de Melo. Tenente-coronel português, já comandava as tropas portuguesas quando chegou, de Portugal, a Carta Régia nomeando-o governador das armas brasileiras.

Lord Cochrane, o Lobo do Mar. Foi convidado por D. Pedro I e José Bonifácio para lutar à frente dos navios brasileiros.

Maria Felipa. Liderou homens e mulheres e se responsabilizou pelo envio de alimentos para os combatentes brasileiros, no Recôncavo.

Dom Pedro I. O quarto imperador de Portugal, deu o grito de “Independência ou Morte” apesar de as tropas portuguesas ainda resistirem na Bahia.

General Lima e Silva. Militar brasileiro à frente do batalhão Imperial;  reorganizou o Exército brasileiro e ordenou o ataque contra os portugueses.

João das Botas. Comandou a flotilha que protegeu a parte interna da Baía de Todos os Santos, a foz dos rios que lá deságuam e a Ilha de Itaparica.

Frei Brayner. Pernambucano, veio a Salvador para ser julgado e preso por participar da Revolução Pernambucana; voluntário, formou
o grupo composto por vaqueiros.

Encourados de Pedrão. O batalhão, comandado pelo Frei Brayner, era composto por ele e mais 39 homens do campo, que abandonaram seus lares para lutar.

Corneteiro Lopes. Português, foi o responsável pelo toque errôneo que deu a vitória às tropas brasileiras; sob a ordem de tocar a retirada da cavalaria brasileira, deu o toque de avançar, fazendo com que portugueses, amedrontados, recuassem.

Joana Angélica. Atrás de patriotas no interior do Convento da Lapa, soldados derrubaram a porta a golpes de machado. A religiosa ordenou que as monjas fugissem pelo quintal e se colocou à frente dos invasores.

General Labatut. Foi contratado pelo governo de D. Pedro I para pôr fim aos conflitos entre brasileiros e portugueses; sob seu comando, os brasileiros venceram a Batalha de Pirajá.

Fonte: Projeto 2 de julho / www.cipo.org.br/2dejulh