Dados abertos demandam mais investimentos em infraestrutura de TI

25/09 - Durante evento sobre uso de TICs no governo, representantes estaduais reforçam a importância do uso de formatos livres e abertos.

Fatima Fonseca, do Wireless Mundi

25/09/2012 – Responsáveis pela infraestrutura de TI e telecom que viabiliza as iniciativas de governo eletrônico, as empresas de processamento de dados que operam nos governos estaduais e discutem problemas comuns por meio de sua associação, a Abep, levaram para o 40º Seminário Nacional de TIC para a Gestão Pública (Secop) o debate sobre a evolução do e-gov com os dados abertos.

“O tema central do congresso este ano focou em dados abertos como uma revolução de e-gov. Para as nossas entidades impacta muito, porque requer, além de uma carga de trabalho para colocar essas informações à disposição da sociedade, integração de sistemas na parte de infraestrutura”, resumiu Carlson Aquistapasse, presidente da Abep e diretor-presidente da Procergs, empresa responsável pela organização desta edição do evento, realizada na semana passada na cidade de Gramado (RS).

Os gestores de TI de diferentes estados concluíram que para colocar as informações em formato aberto e de forma que possam ser “lidas” por máquinas, será necessário duplicar a base de dados do governo. “O processo requer criar um ambiente paralelo porque não podemos abrir a base no ambiente de produção, por uma questão de segurança”, informou Aquistapasse.

“E os dados têm que ser atuais, acessíveis, compreensíveis por máquina e disponíveis para todos, sem exigência de requerimento ou cadastro; portanto, em sistemas não proprietários e livres”, lembrou Sylvia Abaurre, diretora técnica do Prodest, o instituto de TI do Espírito Santo. Para a técnica, essa nova política vai contribuir para a evolução da web, que deixa de ter apenas o conceito de link e passa a ser a web dos dados. “O conceito de web, antes, era de linkar pedaços de dados, agora, será possível ter uma informação mais qualificada, com a busca de dados em camadas relacionais”, comentou Sylvia.

Outro problema, enfatizou a diretora do Prodest, é que os dados no governo estão fragmentados, em diferentes locais e diferentes maneiras. “Isso significa que temos dificuldade para buscar os dados, acessar e reusar. Temos que criar uma infraestrutura para trabalhar com os dados, num conceito que vai além, pois implica padrões, acordos, procedimentos e monitoramento”, afirmou. E para ser bem-sucedido, acrescentou ela, a tarefa não pode ser restrita ao governo mas precisa ter a participação da sociedade, que é quem vai trabalhar esses dados.

Seu colega da Bahia, o diretor de infraestrutura tecnológica da Prodeb, Napoleão Lemos Filho, falou da preocupação com a segurança na infraestrutura de suporte aos dados abertos. Ele recomendou que os gestores considerem, na segurança, o tripé: integridade da informação, confidencialidade e disponibilidade. “Para dar disponibilidade, temos que considerar que podem vir SQL com problemas, pode aumentar o tráfego não estruturado no data center, portanto, precisamos investir mais em segurança”, defendeu, lembrando que no armazenamento, haverá necessidade de duplicar e copiar dados. “Teremos que duplicar as informações para quem quiser acessar direto na base de dados.” Por último, esclareceu, o tráfego não estruturado que será gerado exige investimentos no core e na infraestrutura, e as informações terão que ser documentadas antes de disponibilizadas. “Precisamos garantir que as informações não serão adulterados”, alertou.

Aquistapasse acredita que parte da solução está em colocar os dados na nuvem. “No meu ponto de vista o principal obstáculo, primeiro, está no impacto de investimento em máquinas e no data center. Precisamos colocar na nuvem; segundo, vem o desafio de conciliar duas coisas: o Estado sempre trabalhou com conceito que o ambiente seguro é aquele que é menos acessado. E hoje tem que colocar isso à disposição da sociedade, da forma a mais transparente possível. Então, temos que ter uma infraestrutura segura para evitar que um aventureiro invada e destrua dados. Por isso, o ambiente de produção não pode ser colocado à disposição”, recomendou.

Governo Federal

O titular da Secretaria de Logística e TI (SLTI) do Ministério do Planejamento, Delfino Natal de Souza, destacou que, no governo federal, dados abertos se consolidam como política pública e contribuem para a inovação. “Como servidores somos cobrados para prestar melhores serviços e a abertura de dados pode nos ajudar a fazer uma política publica com a TI.” O secretário lembrou que, a partir de 2014, entra em vigor a lei de tratamento de resíduos e sua aplicação só se dará com a abertura de dados no governo, nas esferas municipais, estaduais e da União. “Tudo que vamos construir está ligado a abertura de dados e a participação da sociedade”, comentou.

Para o presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção, os desafios vão além dos recursos tecnológicos e exigem uma nova “reengenharia de processo, que é a coisa mais longa e difícil de se fazer em qualquer instituição”. Clique aqui para ler entrevista com o presidente da Dataprev sobre o assunto.