Do papiro ao display

A livre troca de arquivos entre usuários da rede mundial de computadores ainda não atingiu o mercado editorial brasileiro


A livre troca de arquivos entre usuários da rede mundial de computadores ainda não atingiu o mercado editorial brasileiro 
Fausto Spósito


Enquanto a indústria fonográfica mundial ainda se recupera do impacto da internet em seu tradicional modelo de negócios, as editoras de livros desafiam as previsões pessimistas e registram vigoroso crescimento de vendas em diversas partes do mundo. Para se ter uma idéia, em 2006, o setor editorial brasileiro faturou cerca de R$ 2,8 bilhões, com mais de 310 mil exemplares vendidos, segundo a Câmara Brasileira do Livro.
 
Apesar disso, profissionais do setor editorial já se preparam para enfrentar os desafios que batem à porta. Um dos principais temas da última Convenção Nacional de Livrarias, realizada em julho, foi a chegada do chamado livro eletrônico ao mercado brasileiro. Conhecida como e-book, a versão digital de obras literárias é uma das alternativas adotadas por editoras estrangeiras para contornar os dilemas da pirataria e de questões ambientais relacionadas à produção de papel. Seguindo exemplos de grandes atores mundiais, como Amazon e ITunes, editoras de diversos países têm oferecido e-books a preços acessíveis em suas páginas na web, uma vez que o custo de produção da versão digital é significativamente menor do que o custo de produção de livros de papel. Além disso, uma das estratégias mais disseminadas hoje em dia é a divulgação de trechos em lojas virtuais para incentivar o leitor a comprar a obra completa. Neste contexto, a internet funciona como incentivadora de leitura e passou a ser vista como aliada das grandes editoras.

Muitos sites da internet também oferecem e-books gratuitos de obras que já estão sob domínio público, textos clássicos que não se enquadram nas atuais leis de direitos autorais. Um dos principais endereços para quem busca livros eletrônicos na rede é o Projeto Gutenberg. Abastecida por milhares de voluntários, a página tem como missão “encorajar a criação e distribuição de livros eletrônicos” e hoje é considerada um das mais antigas bibliotecas digitais do mundo. Criado em 1971 pelo estudante Michael Hart, da Universidade de Illinois, o site abriga mais de 20 mil títulos gratuitos em dezenas de idiomas.

Grande potencial

No Brasil, um dos principais acervos de livros eletrônicos pode ser encontrado no site eBookCult.  O projeto, que surgiu há oito anos e hoje conta com cerca de mil títulos, registra uma média de 200 mil page views por dia e já atingiu a marca de 100 mil downloads por mês. Segundo Alexandre Batistela, um dos idealizadores do site, o mercado brasileiro de livros eletrônicos ainda não “deslanchou”. De acordo com ele, o “potencial do setor é muito grande” no país. Batistela também relatou casos de autores independentes que lançam a versão digital de suas obras no site e, mais tarde, acabam contratados por editoras de livros convencionais.

Reading Devices

Um dos principais problemas para a disseminação dos e-books é a comodidade da leitura em papel. Grande parte da população ainda resiste à idéia de ler na tela do computador, do celular ou do palmtop. Entre as propostas mais promissoras para oferecer maior comodidade ao leitor estão os reading devices, aparelhos com tamanho aproximado de um livro de papel, capazes de armazenar vários e-books na memória. O Kindle, da loja virtual Amazon, e o Sony Reader, da fabricante japonesa Sony, são dois dos mais vendidos no mundo, mas não têm previsão de chegada ao Brasil. Uma das opções existentes no país é o eBook Reader, do eBookCult. Vendido no próprio site, a R$ 800,00, este reading device tem luz interna para leitura no escuro e capacidade para armazenar até 30 livros eletrônicos.