Duque de Caxias em transformação

São ao todo 28 Centros de Inclusão Digital, que proporcionam serviços, cursos profissionalizantes e entretenimento à população.


São ao todo 28 Centros de Inclusão Digital, que proporcionam serviços, cursos profissionalizantes e entretenimento à população.
Rosane de Souza


Na cidade, de cada cem crianças,
três não  têm certidão  de  nascimento.
Com 855 mil habitantes e uma série de problemas sociais, Duque de
Caxias, na Baixada Fluminense, já foi conhecida como uma das cidades
mais violentas do estado. Mas ela abriga um projeto de inclusão digital
que vem se destacando pelo esforço em capacitar mão-de-obra para o
mercado e levar um conjunto de serviços para uma população.  Mesmo
com a queda nos preços dos computadores pessoais,  muitos
habitantes não têm condições financeiras  de pagar por uma conexão
de banda larga.

Portanto, é nos 28 Centros de Inclusão Digital (CIDs), administrados
pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Feuduc) e mantidos por
convênio com o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), de
Petrópolis, que grande parte da população tem acesso à internet, a
cursos de informática e a um conjunto de serviços do poder público.
Antes, isso só era possível para quem se submetesse a uma via-crúcis em
postos do Detran e afins.

“Na Baixada, para cada cem crianças, três não têm certidão, ou seja,
não existem oficialmente”, revela Sheila Touza, coordenadora de
relações institucionais do projeto dos Centros de Inclusão Digital. Ela
também revela que, desde que a Receita Federal começou a receber as
declarações de isen­tos do IR, cada um dos 28 CIDs tem recebido, em
média, 60 por dia. “Enviamos quase 1,8 mil declarações diariamente.”
 

Entre jacarés

Um CID fica nas instalações da  Feuduc, na Comunidade São Bento, a
oito quilômetros de Duque de Caxias, entre Gramacho e a comunidade do
Lote XV. No meio dos dois, há ainda o bairro de Sarapuí, que abriga
outro CID e um rio de mesmo nome, habitado pelos temidos jacarés de
papo amarelo, que, nas cheias, saem das águas e comem o que encontram
pela frente: cães, gatos, galinhas. Foi lá que começou, há quatro anos,
o projeto dos Centros de Inclusão Digital, que, este ano, formou 6,3
mil novos “incluídos digitais”, em três cursos de introdução à
informática.   

“Agora, estamos fechando uma parceria com o Núcleo de Computação
Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para
capacitar nossos técnicos no programa DOS VOX, leitor de telas para
deficientes visuais”, diz Sheila.  

Sempre que explica o projeto, criado por emenda parlamentar do então
deputado federal Alexandre Cardoso, Sheila observa que nunca se propôs
a inaugurar lan houses. “O foco  é a capacitação constante. Agora, por exemplo, o NCE está formando 40 novos multiplicadores.”

Ela cita, como exemplo da falta que isso fazia no município, o fato de
a Refinaria Duque de Caxias, da Petrobras, contratar apenas 10% da
mão-de-obra no local. Os outros 90% não são moradores do bairro de
Campos Elísios, onde está instalada, por dois motivos: as vagas abertas
são preenchidas por currículos enviados pela internet e exigem
conhecimentos de informática.

Hoje, o cenário começa a mudar. Sheila conta, com  orgulho, que os
CIDs “perdem” de três a cinco estagiários a cada seis meses para o
mercado. O próximo pode ser o adolescente Juan, que trabalha como
monitor e não tem partes das pernas e dos braços.  Ele foi
convocado para a função depois de se destacar num curso de informática
no Lote XV.