É fácil e barato falar no micro

Micros e notebooks também servem para telefonar. A voz sobre IP (VoIP) roda em plataformas de código aberto.



Micros e notebooks também servem para telefonar. A voz sobre IP (VoIP) roda em plataformas de código aberto. 

Anamárcia Vainsencher

Cada vez mais gente conversa por computador, usando aparelho telefônico
comum, ou o teclado, sem recorrer ao serviço convencional de telefonia.
Isso acontece porque é muito mais barato, e explica o sucesso do Skype,
provedor de comunicação de voz sobre protocolo de internet — VoIP (da
sigla em inglês) —, que tem, no Brasil, um dos maiores contingentes de
usuários do mundo. Em 2006, mais de 1,5 milhão de brasileiros falavam
pelo Skype; no globo, 171 milhões de pessoas cadastradas falaram 7,6
bilhões de minutos. Além de ser mais barato usar VoIP do que telefonia
tradicional, também é possível usar essa comunicação em locais onde não
há cabos telefônicos. Todas boas razões para que as antenas instaladas
em todos os pontos Gesac (3.350, em junho) também permitam comunicação
de voz por IP.

Segundo o ex-implementador social do Gesac Rubens Belão, em setembro,
1.140 pontos Gesac tinham VoIP habilitado, dos quais 632 utilizavam
telefone IP, e 508 o soft­fone (software que permite falar via computador). No Mato Grosso do Sul, dos 70 pontos Gesac, 28 estavam com VoIP habilitado — 15 utilizavam software
softfone (aplicativo específico para VoIP), e o próprio computador como
terminal, e 13 o telefone IP, aparelho preparado para esse serviço.
Belão instalou todos os softfones e alguns telefones IP, porque muitas
pessoas nas localidades do estado não sabiam como usá-los. As
principais dificuldades estavam nos próprios computadores, sem recursos
multimídia. Fora isso, em alguns pontos, a conexão era muito lenta,
prejudicando a comunicação. Quanto ao softfone, no Gesac, existe uma
versão para Windows, uma para Linux.

Belão diz que as pessoas aprendem facilmente a usar VoIP. “Elas 
ficam muito interessadas, pois, onde utilizar o telefone convencional é
um absurdo com relação aos valores das tarifas, ter uma tecnologia
dessas é muito bom”. Ele conta que a comunidade tem antena, tem tudo,
mas não conhece a tecnologia. “A gente chega lá e apresenta o VoIP.
Quando não tem o aparelho para falar, coloca, e instala o software
de telefonia no computador, que permite usar o teclado para discar”,
explica. Em alguns pontos havia até telefone IP, mas não se sabia para
que servia.

De todo jeito, no âmbito Gesac, a comunicação VoIP ponto-a-ponto não
tem limite de uso, enquanto as ligações do ponto para um telefone fixo
têm quotas. “Algumas comunidades se organizam para ligar para telefone
fixo e falar com parentes”, relata. Contudo, Belão reconhece que não é
fácil falar a uma velocidade de 256 kbps, via satélite, com alta
latência (tempo decorrido entre as falas) e voz cortada. De quebra, a
comunicação está sujeita a condições de tempo e topologia. Porém, VoIP,
às vezes, é o único meio de comunicação. Mesmo assim, é pouco usado
pelas comunidades para falar ponto-a-ponto, à exceção dos militares.
Uma boa notícia é que a velocidade dobrou para 512 kbps e, no novo
edital (previsto para meados de novembro), a capacidade de conexão deve
passar a variar de 512 kbps a 8 Mbps, dependendo das necessidades do
ponto Gesac. Porque, por exemplo, é preciso mais banda para estender
uma conexão wireless, ou fazer comunicação multimídia.

No país, várias administrações e órgãos dos três níveis de governo usam
VoIP. Sempre para economizar, seja para falar nas suas redes internas,
ou para se comunicar com redes públicas de telefonia. A prefeitura de
Piraí, no Rio, e projeto da Celepar, concessionária estatal de
processamento de dados do Paraná, são dois entre muitos casos. Uma das
cidades digitais da infovia do estado do Rio de Janeiro, Piraí
aproveitou sua rede de dados para interligar todos os prédios da
prefeitura, subdistritos, postos de saúde (16) e escolas por um sistema
híbrido com suporte a wireless (SHSW).


Por que VoIP? Por economia sim, responde Osni Augusto Souza da Silva,
técnico da Secretaria de Planejamento da prefeitura de Piraí, mas,
sobretudo, pela facilidade do VoIP para atender locais sem linha
telefônica, inclusive da própria prefeitura, que tinham de se falar por
celular. Das 22 escolas da cidade, 60% não tinham telefone. Agora,
todas têm VoIP. Os postos de saúde tinham telefone, mas passaram a
falar VoIP para gastar menos. A administração está interligada por seus
53 ramais IP, e a rede municipal está sendo integrada à pública de
telefonia.

A primeira pré-condição para ter VoIP é dispor de uma rede de dados, em
qualquer tecnologia, com ou sem-fio. Mas isso não basta, explica Osni.
É preciso ter qualidade de serviço na rede, o que se consegue com o uso
de software que dá prioridade ao tráfego de pacotes de voz nos servidores. Como tudo em Piraí é software aberto, o controle do envio de pacotes é feito com o recurso HTB (Hierarchical Token Bucket), existente no kernel
do Linux. O gerenciamento dos ramais cabe às plataformas abertas
Openser e Asterisk (esse sistema bilhetará as chamadas feitas para a
rede pública). Os softfones são Ekiga e Counterpath. Assim, a
prefeitura fala por IP e os piraienses  por orelhões (telefones de
uso público ou TUPs), também IP — são 12, na cidade, um por distrito.
Nos TUPs, chega a rede cabeada, que é ligada a uma das portas do gateway de voz mais próximo.

Emater vai de IP

Com unidades espalhadas em 393 municípios, o Instituto de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Emater), vinculado à Secretaria da
Agricultura do Paraná, será o primeiro órgão governamental a implantar
um sistema de telefonia IP. Hoje, a empresa não possui qualquer sistema
de integração de voz entre as unidades, ou seja, todas as comunicações
telefônicas realizadas através da rede pública são tarifadas, e as
contas são pagas a uma operadora de telecom. Substituir a telefonia
convencional é uma tendência, a vida útil de sua tecnologia não tem
para onde evoluir, analisa José Lourenço Waltrick Jr., técnico da
Celepar. Com a internet, acrescenta, cresce a demanda por novos
serviços integrados de voz e dados e VoIP é a transmissão de voz sobre
a rede de dados.

Hoje, 187 unidades da Emater estão integradas por uma rede de dados
gerenciada pela Celepar e por correio eletrônico. A central 
telefônica será um PABX IP baseado em Asterisk, instalado em
computador  Linux. Até dezembro, o VoIP será implantado na Emater
Curitiba e 15 regionais.