Editorial


A revolução do laptop de US$ 100

O grande mérito do projeto em desenvolvimento pelo Massachusets Institute of Technology – MIT, de desenvolver um laptop
para a educação a um preço baixo – a meta é chegar aos US$ 100 – é a
quebra do paradigma do preço do microcomputador, estabilizado na faixa
de US$ 1 mil a US$ 1,2 mil (uma máquina típica). Em avaliação pelo
governo brasileiro, que criou um grupo de trabalho para analisar o
projeto, acompanhá-lo e decidir se adere ou não à proposta de Nicholas
Negroponte, o programa do MIT é o tema de capa desta edição.

O debate revela que a quebra do paradigma do preço – uma demanda para a
qual a indústria mundial não buscou respostas, em função da dinâmica de
seu próprio negócio – é o único caminho para massificar a presença do
computador nas escolas públicas e abrir, para os alunos, um mundo novo
de possbilidades e conhecimento, em que aprendam a também ser atores e
a construir seu futuro. Muitos torcem o nariz para o projeto de
Negroponte, mas é preciso reconhecer que ele ousou enfrentar a
indústria de computadores e tem credibilidade e carisma para negociar
com governos e empresas a construção desse programa. E essa
movimentação está mexendo com o mercado.

O governo brasileiro, que começou por analisar o projeto do MIT,
decidiu fazer o movimento correto: ampliar a discussão para os vários
atores envolvidos com o tema – educadores, pesquisadores e indústria –
e, num segundo momento, definir um programa estratégico de inclusão
digital para o país. Pode ou não sair o laptop de US$ 100, mas
o fato de o governo ter entrado nessa discussão já produziu um efeito
concreto. O programa Proinfo, do MEC, que, nos últimos anos, patinava
com baixos recursos, vai ter, em 2006, R$ 260 milhões para equipar as
quase 7 mil escolas públicas de ensino médio ainda sem laboratório de
informática (só 5 mil dispõem desse equipamento com conexão à internet)
e treinar professores.

A barreira da renda

Não é novidade que a principal barreira à inclusão digital está na

renda familiar e no preço dos computadores e do serviço de conexão à
internet. Os dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios –
PNAD, relativos a 2004, confirmam, mais uma vez, os efeitos perversos
da distribuição de renda no país. Só 16,6% dos 51 milhões de domicílios
brasileiros contavam com computador (saiba mais). Na faixa de
renda acima de 20 salários mínimos, a taxa sobe para 79%, dos quais 91%
conectados à internet. Já na base da pirâmide, com renda até dois
salários mínimos, cai para apenas 0,1%, sem nenhuma máquina conectada à
rede.

Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial