Editorial

A importância da formação

Peça-chave para o sucesso de um telecentro,
a qualidade dos educadores digitais, designação que preferimos adotar
no lugar de monitores ou multiplicadores, depende, em grande medida, da
formação que recebem nos cursos de capacitação.

Como formar um bom educador digital, capaz de orientar e estimular os
usuários e de articular a comunidade com as atividades do telecentro?
Responder a essa pergunta é o desafio da reportagem de capa desta
edição. O repórter Leandro Quintanilha ouviu dez entidades responsáveis
pela formação de educadores digitais. Embora não haja um padrão único,
os relatos ajudam a apontar o que é necessário a uma boa formação. E
muito da documentação pedagógica usada pelas entidades está online. As
redes de telecentros que desenvolvem, com recursos humanos próprios,
capacitações para seus educadores digitais, ou que ainda não o fizeram,
podem recorrer, por exemplo, ao conteúdo da formação oferecida no
projeto Casa Brasil. Todas as apostilas podem ser baixadas da internet
para livre reprodução.

A boa capacitação, ensinam os especialistas, aplica o conhecimento
tecnológico à realidade de quem aprende. E os currículos não podem
excluir conteúdos relativos à cidadania. Os investimentos em
qualificação tem uma repercussão social que vai muito além dos limites
físicos de um telecentro. Isso porque os educadores digitais, diante da
ausência do Estado, especialmente nas periferias das regiões
metropolitanas, atuam também como mobilizadores. Encaminham
solicitações, tentam resolver problemas, ajudam a organizar a
comunidade, a criar alternativas de lazer e de renda para os jovens.
Como se pode ver no depoimento dos educadores que participaram do I
Encontro das Estações Digitais, da Fundação Banco do Brasil (veja a
página 16). Em Santa Quitéria, no Maranhão, por exemplo, um mutirão
eliminou o sub-registro de nascimento na cidade.

Por isso, a política de inclusão digital e as demais políticas públicas
precisam ser articuladas, pelo poder público, para enfrentar o quadro
de abandono e violência das áreas pobres das grandes cidades. O vácuo
deixado pelo Estado, que oferece às periferias serviços escassos e de
baixa qualidade, vem sendo ocupado pelo crime organizado. Só um
investimento massivo em infra-estrutura urbana e serviços sociais, onde
a inclusão digital joga um papel fundamental, poderá recuperar os
direitos dessa população, resgatando principalmente os jovens dos
tentáculos das organizações criminosas. E evitar o clima de guerra
civil que se abateu sobre São Paulo, em maio.

Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial