Editorial


A mídia do povo




Não se sabe nem seu tamanho nem seu
alcance, mas a mídia popular vem ganhando musculatura. São jornais,
revistas, vídeos e rádios, produzidos por equipes de comunidades de
baixa renda ou das periferias das grandes cidades. No lugar de
personagens da mídia convencional, geralmente retratadas pelo que não
têm e não pelo que são, as comunidades resgatam sua identidade, criando
seus próprios canais de expressão, como mostra a reportagem de capa
desta edição
. A comunicação comunitária é um caminho
para se atingir “uma melhor distribuição de representações,
visibilidade e poder”, explicam os inventores das MimoSas, Máquinas de
Intervenção Urbana e Correção Informacional, compostas de gravadores de
som, câmeras de vídeo, celulares, transmissores de rádio, computadores.
Os depoimentos dos produtores comunitários confirmam essa tese. Ao se
auto-expressar e passar de público-alvo a público participante, a
comunidade se apropria de sua representação, ganha auto-estima e
conquista poder.

O fenômeno da comunicação comunitária, que já provocou o surgimento de
escolas de comunicação popular em vários estados, conquista adeptos
especialmente entre os jovens. São eles os repórteres, os editores, os
locutores, os produtores de vídeo, os fotógrafos. Uma legião de novos
autores, que não pára de crescer e que é a prova viva de que a
legislação que reserva a jornalistas diplomados o desempenho dessas
funções é anacrônica, antidemocrática, fere o direito de expressão e,
se aplicada, impede o empoderamento das comunidades.

Se os jornais, revistas e produtoras de vídeo popular ainda não são
reprimidos pela fiscalização das delegacias regionais de trabalho por
empregarem jornalistas não diplomados, as rádios comunitárias, por sua
vez, são alvo preferencial da repressão. O recente fechamento da rádio
Heliópolis
, de São Paulo, um ícone da comunicação
comunitária, mostra que a sociedade brasileira não pode conviver mais
com a legislação que está aí, que restringe a manifestação popular. O
governo atual, que montou um grupo de trabalho para encontrar soluções
para os problemas enfrentados pelas rádios comunitárias, não produziu
nenhuma medida concreta para legalizar o funcionamento de milhares de
emissoras. Aliás, na administração de Lula, aumentou a repressão às
rádios comunitárias que funcionam sem licença, em grande medida por
deficiência do próprio Ministério das Comunicações. É hora de a
sociedade brasileira enfrentar esse problema de frente.


Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial