Editorial

Sem banda larga, até aonde (não) conseguiremos ir?

Apenas
700 cidades do país têm infra-estrutura para conexão à internet em
banda larga. É uma barreira grave a iniciativas importantes, que estão
sendo tocadas por diferentes atores e instâncias de governo, nas áreas
de educação, tecnologia, trabalho, cultura e informação. Essa
concentração reflete, de certa maneira, a concentração de renda e de
oportunidades que marca a história brasileira.

O MEC prepara-se para informatizar as escolas rurais; o Estado do Rio
de Janeiro quer replicar o projeto de cidade digital desenvolvido em
Piraí para todo o estado; e o governo federal elabora um Programa
Nacional de Cidades Digitais, com tecnologias sem-fio (Wi-Fi ou WiMAX),
de modo a inserir a população na sociedade do conhecimento. Para todas
essas ações, e para o desenvolvimento econômico e social do país de
forma geral, uma infra-estrutura de banda larga é indispensável. Em
Piraí, com a inclusão na web de praticamente toda a população, em oito
anos, a renda per capita quadruplicou, e a arrecadação do ICMS
quintuplicou, como conta o vice-governador do Rio e ex-prefeito de
Piraí, Luiz Fernando de Souza – Pezão, em entrevista nesta edição.

Persistem limitações técnicas e de marco legal – por exemplo, para
aplicar os recursos do Fust. Mas que podem e devem ser equacionadas.
Nesse sentido, técnicos do Ministério das Comunicações ressaltam que é
preciso priorizar a construção do chamado backhaul – aquilo que liga a
última milha (o ponto de onde o usuário vai acessar a web) até o
backbone da rede de telecomunicações, para tirar as outras 4.864
cidades do isolamento digital. Equipes do Minicom avaliam mesmo a
alternativa de as concessionárias de telecomunicações poderem trocar a
obrigação contratual de instalar Postos de Serviços Telefônicos por
investimentos nesse backhaul. Ele é pré-requisito, inclusive, para as
experiências com tecnologias sem-fio, como se fez em Piraí.

Uma infra-estrutura de banda larga resolveria, afinal, parte
considerável do problema de sustentabilidade enfrentado pelos
telecentros comunitários. O fim do patrocínio da Petrobras a cerca de
50 unidades do Casa Brasil, previsto para setembro, mobilizou gestores
e entidades numa corrida pela sobrevivência – tema da capa desta
edição. Corrida que é a mesma de muitos outros telecentros pelo país.
Nesse esforço de manter em pé centros de educação não-formal e de
fomento à cidadania, ajudaria muitíssimo contar com o acesso à internet
assegurado por uma política pública integrada e inteligente. Sem ela,
não são apenas as Casas Brasil que correm o risco de fechar.

Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial