Editorial

O que falta para o celular social

Não resta nenhuma dúvida de que o meio de comunicação mais popular do Brasil é o celular. São mais de 125 milhões de usuários, de todas as classes sociais. E se ainda há mais de 2 mil cidades sem cobertura de telefonia móvel, até 2010, todos os municípios estarão atendidos — obrigação estabelecida pela Anatel no leilão das licenças de terceira geração, tecnologia que leva a banda larga ao celular.

Como usar essa quantidade de aparelhos, em sua maioria pré-pagos, para levar as aplicações sociais e de governo eletrônico aos cidadãos? É um desafio para gestores públicos, operadoras e produtores de software. Ao contrário de outros países em desenvolvimento, o Brasil usa pouco o celular para aplicações sociais, como mostra a reportagem de capa desta edição (veja a página 10).

E não estamos falando de aplicações sofisticadas, só possíveis em banda larga, serviço que só agora começa a ser oferecido no país e, por ser mais caro, tem como público-alvo, além das empresas, o usuário de maior poder aquisitivo. Nem mesmo o SMS é usado em larga escala. Ocupamos o penúltimo lugar, entre os países sul-americanos, no envio de mensagens de texto. E um simples SMS é capaz de baixar o índice de absenteísmo nas consultas em postos de saúde e hospitais públicos, de alertar o agricultor sobre geadas iminentes, de confirmar o depósito da aposentadoria.

É mais do que hora de o governo federal patrocinar um programa de desenvolvimento de aplicações sociais para uso em larga escala, como nas áreas da saúde e previdência. E de as operadoras criarem modelos de negócios para reduzir os preços dos serviços de dados, o que pode vir a ser largamente compensado pelo aumento do tráfego. De acordo com levantamento da União Internacional das Telecomunicações (UIT) sobre preço de SMS em 186 países, estamos entre os que cobram mais caro, na 151ª posição. A redução de impostos sobre o SMS daria enorme estímulo à sua disseminação. E, como acreditam alguns especialistas, o serviço de mensagens é a pré-escola da alfabetização digital.

Com as redes 3G, que ofertam banda acima de 1Mbps, as possibilidades de aplicações sociais se multiplicam. Mas, como os aparelhos e serviços são caros, elas fazem mais sentido para pontos de acesso público. Até chegar às bandas mais largas, essas aplicações têm longo caminho a percorrer. É hora de começar.

Lia Ribeiro Dias
Diretoria Editorial