Um pouco por falta de vocação empresarial das prefeituras, um pouco por falta de um ambiente regulatório adequado, as cidades digitais, fora dos grandes centros, correm o risco de se reduzir a projetos pontuais e efêmeros. É preciso buscar, desde a fase de implantação, alternativas que garantam sustentabilidade e potência a essas experiências. Ou seja, a sua perenidade.
A reportagem de capa desta edição revela que algumas soluções já foram encontradas e podem ser inspiradoras – como a realocação de verbas municipais, realizada no projeto Porto Alegre Wireless (RS); ou o incentivo à presença de empresas de tecnologia na região, estratégia adotada por Magaratiba (RJ). Especialistas apontam, ainda, para saídas como a implantação de infovias municipais, que podem até mesmo se tornar fontes de recursos.
Mas acima de tudo é preciso identificar um serviço ou serviços que sejam tão relevantes para prefeitura e comunidade, que seu atendimento por meio da rede municipal traga benefícios – em economia direta ou indireta de recursos – que justifiquem o investimento anual no projeto. Sem modelo de negócios, observam os estudiosos do tema, os projetos podem enfrentar problemas no médio prazo.
E eventuais fracassos atingem diretamente a população, pois rapidamente ela se envolve e começa a se apropriar dos serviços oferecidos pelas cidades digitais. Seja do acesso gratuito à internet, da facilidade de comunicação com os órgãos públicos, ou da possibilidade de, a partir do terminal, marcar consultas médicas, fazer matrículas, verificar o boletim escolar etc.
Uma prova da receptividade da sociedade às tecnologias é o crescimento de movimentos e articulações sociais no mundo da internet. A militância dispara na web, como mostra a reportagem da página 20. Ativistas e simpatizantes das mais diversas causas lançam campanhas pela rede, obtendo adesões significativas. Mais do que os números dos abaixo-assinados, o resultado do ciberativismo que mais conta é a veloz e abrangente propagação do exercício democrático.
Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial