Não
é arriscado dizer que os monitores são a alma dos projetos que envolvem
pontos de acesso coletivo à internet. Cabe a eles não apenas ensinar
noções básicas da tecnologia e de navegação na rede, mas fazer a ponte
entre o projeto e a comunidade, estimular o desenvolvimento de
atividades como grupos de música, teatro, artesanato, etc., e buscar
formas de ajudar a garantir a sustentabilidade das atividades. Por isso
mesmo, as entidades envolvidas com a formação de pessoal para projetos
de inclusão digital dão especial atenção à sua capacitação, que vai
muito além do uso do micro e da internet. Envolve tecnologia de gestão
de telecentro, domínio de conceitos de cidadania, atendimento a
portadores de necessidades especiais, entre outras qualificações.
A importância desse profissional justifica a matéria de capa desta
edição, de autoria da repórter especial Patrícia Cornils. Para mostrar
como são, o que pensam e o que sonham os monitores ou educadores –
dependendo do projeto, têm um nome –, a jornalista visitou e conversou
com muitos deles. O que têm em comum, sejam remunerados ou voluntários,
é a capacidade de interagir com a sua comunidade e a facilidade de
comunicação. A partir daí, cada um é um. “Monitor é a junção de várias
atividades de diversas profissões”, resume Edimilson Ferreira Nonato,
32 anos, monitor do Infocentro Achave, localizado em Parelheiros, na
zona sul de São Paulo. Não há exagero. São tantas as demandas e as
possibilidades de atuação de um monitor que, se quiser se desenvolver,
acabará tendo uma formação multidisciplinar com um certo grau de
sofisticação que lhe permitirá trilhar um caminho próprio na vida
profissional. Mesmo com todas as dificuldades impostas pela condição
socioeconômica, eles tendem a ser vencedores. Fazem por merecer.
Laptop de US$ 100
Na última semana de junho, Nicholas Negroponte, diretor do Medialab do
Massachusetts Institute of Technology (MIT), acompanhado de Seymour
Papert, um dos papas do uso da tecnologia aplicada à educação,
estiveram em Brasília. Querem que o governo brasileiro dê sua adesão ao
projeto do laptop de US$ 100 (veja a página 40) em desenvolvimento no
Medialab e que deve estar concluído em meados de 2006. O objetivo da
peregrinação de Negroponte e Papert é conseguir compromisso de
encomenda de governos – no alvo, além do Brasil, China e Estados Unidos
– para garantir escala que permite chegar ao preço imaginado. A
conversa de Negroponte e Papert entusiasmou o governo brasileiro que,
por determinação do presidente Lula, criou um grupo de trabalho para
estudar o assunto. É importante que a sociedade civil seja ouvida. O
projeto é arrojado, mas alguns especialistas em inclusão digital têm
dúvidas sobre a eficácia das soluções engendradas nos
laboratórios de países de Primeiro Mundo para os pobres do Hemisfério
Sul. “Quase sempre não funcionam, porque as realidades são muito
diferentes”, pondera Carlos A. Afonso, diretor de tecnologia da Rits –
Rede de Informação do Terceiro Setor. A distância entre os entusiastas
do laptop de US$ 100 e os que olham o projeto com desconfiança só será
vencida por meio de um debate democrático, necessário na definição de
qualquer política pública.
Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial