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Criticado por muitos desde que foi lançado no governo anterior, entre
outros motivos pela plataforma tecnológica escolhida – a comunicação
via satélite –, o Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao
Cidadão, conhecido pela sigla Gesac, foi sofrendo correções de rumo. De
totens para o cidadão acessar gratuitamente os sites .gov, em baixa
velocidade, o serviço se transformou, quando foi implantado em 2003, já
no governo Lula, em provimento gratuito de conexão em banda larga para
escolas públicas (com laboratórios de informática sem acesso à
internet), unidades militares em áreas de fronteira e projetos
comunitários. Com o tempo, também deixou de ser só uma serviço de
conexão, passando a ter, ainda que de forma precária, ações de
interlocução com os parceiros. Pelo seu tamanho – 3,2 mil pontos
espalhados pelo país – e por dispor de recursos orçamentários
garantidos, se tornou o principal canal de acesso dos projetos sociais
à rede. Ter um ponto de acesso Gesac passou a ser objeto de desejo de
qualquer gestor de projeto social, a maioria sem recursos para pagar
qualquer tipo de conexão à internet.
Com 10,7% de seus pontos de conexão cobrindo projetos sociais –
associações comunitárias, sindicatos, creches, etc. — e 77% atendendo
a escolas públicas, o Gesac ganhou expressão no movimento de inclusão
digital no Brasil. Por isso, a demissão de seu coordenador pelo
ministro Hélio Costa e o anúncio de revisão do programa provocaram uma
forte reação na comunidade Gesac. Isso não significa, no entanto, que o
programa esteja em risco, como garantiu, à revista ARede (saiba mais), o secretário de Telecomunicações, Roberto Pinto Martins.
O que o Minicom quer, segundo Martins, é melhorar a qualidade da gestão
do programa, acabando com pontos sem tráfego ou de muito baixo tráfego,
e transformar a plataforma tecnológica em uma rede mista, combinando a
comunicação via satélite com o acesso via rádio e outras tecnologias.
Do ponto de vista da gestão do dinheiro público, a proposta não merece
reparos. A conexão via satélite, se tem o mérito de chegar a qualquer
lugar, tem um custo alto. O acesso do Gesac custa, por mês, perto de R$
1 mil. Não faz sentido, do ponto de vista de custo, colocar uma antena
onde tem rede telefônica ou de TV a cabo; ou instalar dois acessos
Gesac em cidades pequenas, se a comunicação poderia ser estendida, a
partir da antena, por uma conexão via rádio, por exemplo, muito mais
barata.
Mas, ao redesenhar a rede e realocar as antenas apenas para localidades
sem opção de atendimento por outra tecnologia, a equipe do Minicom
poderá desmontar projetos importantes e bem-sucedidos junto às suas
comunidades. Para que isso não aconteça, o Gesac tem que se
responsabilizar pelo pagamento da conexão por qualquer que seja a
plataforma tecnológica utilizada; ou encontrar, junto ao governo, uma
forma de continuar a garantir a conexão gratuita à internet. Se trilhar
esse caminho, certamente ampliará, e muito, a comunidade atendida, com
um pequeno aumento dos recursos investidos. E todo o esforço de
redesenho da topologia da rede e aperfeiçoamento das metodologias de
gestão terá valido a pena.
Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial