O sertão está em todo lugar
O Brasil é um país urbano? Do ponto de vista da população, pode ser: apenas 22% dos brasileiros, de acordo com o Censo de 2000 do IBGE, moram nas regiões rurais. Do ponto de vista de área física, produção de riquezas, diversidade cultural e social, no entanto, o Brasil é muito maior que suas cidades. O acesso a tecnologias da comunicação e informação neste vasto país fora dos grandes centro, no entanto, é mínimo. Somente 8% dos domicílios rurais têm computadores e somente 4% contam com acesso à internet.
Às barreiras de preço dos computadores e das conexões em banda larga, que também existem nas cidades, juntam-se, no caso das áreas rurais, a da ausência de infraestrutura. O acesso à energia elétrica só se torna universal agora, com o programa Luz para Todos. E a falta de infraestrutura é citada por 27% dos entrevistados como principal motivo para não ter acesso à internet, de acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2008, do Cetic.br, braço de estudos do Comitê Gestor da Internet no Brasil.
Neste cenário, os telecentros públicos fazem uma diferença ainda maior do que nas grandes cidades, onde há mais alternativas de acesso. Ainda são poucas, no entanto, as iniciativas de inclusão digital com foco no campo. Por que isso acontece? Porque os custos são altos, o critério de avaliação de bons investimetnos ainda leva em conta o número de usuários atendidos, em vez de considerar de maneira mais ampla o impacto das iniciativas. Essas são duas razões objetivas. Mas deve haver outra, maior e mais séria, que tem relação com o desconhecimento que o Brasil tem de si mesmo. Apesar de Guimarães Rosa ter nos ensinado, há muito tempo, que o sertão está em todo lugar.
Projeto de Apoio aos Telecentros
Está em consulta pública, até o final de maio, o Projeto Nacional de Apoio aos Telecentros. Primeira iniciativa coordenada do governo federal na área de inclusão digital, o projeto tem muitos méritos, além deste. Foi construído a partir de debates com os participantes do movimento de telecentros no Brasil e tem, por isso, um foco importante na formação de recursos humanos para qualificar e ampliar a atividade nos pontos públicos de acesso. O projeto pode ficar melhor ainda se a sociedade contribuir, com ideias e críticas, à proposta em consulta pública. Esta é a essência da democracia: a contribuição valiosa de milhões de acertos.
Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial