Falta estimular o diálogo
ARede nº63 Outubro de 2010 – O ambiente digital, pelas suas características, é propício à participação, à colaboração e à criação. É por isso que nele as redes sociais se desenvolvem tão naturalmente e com tanta rapidez, conquistando milhões de adeptos. Apesar disso, a participação da sociedade, já consolidada em outras áreas como as de saúde e educação por meio de conselhos municipais e estaduais, ainda é muito limitada nos projetos de inclusão digital.
Como mostra a reportagem de capa desta edição (ver página 10), a participação da sociedade, quando existe, se dá apenas no nível dos telecentros, no âmbito local. Os projetos estaduais e os federais não contam com conselhos. Especialistas atribuem o baixo nível de participação à falta de envolvimento da sociedade na formulação dos projetos. Em resumo, falta diálogo. E como falta diálogo, muitas vezes a comunidade não participa nem em nível local, por entender a iniciativa como imposta por um agente externo.
Alterar esse quadro é fundamental para a sustentabilidade dos projetos, sejam eles redes de telecentros; de unidades de produção cultural, como o programa Pontos de Cultura; ou programas de cidades digitais. A experiência mostra que a sobrevivência de um projeto está diretamente relacionada à sua apropriação pela comunidade do entorno. Quando isso acontece – e muitos programas contam com conselhos locais –, mesmo que mude o presidente da entidade conveniada ou o prefeito, o projeto continua de pé. “Se a Prefeitura tirar o monitor, a comunidade mantém o telecentro aberto”, diz, orgulho, Miguel Barbosa de Freitas, dirigente da associação dos moradores de Arrozal, um bairro de Piraí (RJ), uma das primeiras cidades digitais do país.
O caminho para atrair a participação da sociedade não é simples. Não há receitas prontas. Mas, dizem os especialistas, é hora de os programas de inclusão digital incluírem, entre as prioridades da pauta, o estímulo à participação cidadã, com a criação de espaços de diálogo nas diferentes esferas de definição das políticas públicas.
Investir nesse caminho não significa acabar com a formulação, pelos gestores públicos, de modelos de participação organizada da sociedade. Mas não basta colocar o problema. É preciso encontrar respostas junto com a sociedade. A experiência acumulada na área de inclusão digital já permite desenhar formas de ampliar o controle social dos programas públicos.
Lia Ribeiro Dias
Diretora editorial
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