editorial – O livro do futuro

O livro do futuro

 

ARede nº 92 – Julho/Agosto de 2013

Em 2011, apenas 5% dos livros vendidos no Brasil eram em formato digital. Mas, com a explosão da venda de tablets e smart-
phones nos dois últimos anos, esse cenário deve ter se modificado aceleradamente, como mostra a reportagem de capa desta edição (ver página 12). O livro, tal como o conhecemos, impresso em papel e com cuidadosa apresentação gráfica, em breve vai se transformar em raridade, voltado ao mercado de nicho, tal qual o disco de vinil, na previsão de estudiosos do tema.

Pesquisa entre os leitores de livros digitais, acessados por meio de leitores próprios para livros ou por tablets e smartphones, mostra um perfil surpreendente de quem consome esse tipo de livro. Como seria natural supor, esses leitores não estão apenas nas classes A e B. Estes respondem por 53% do consumo. Os demais 47% estão espalhados majoritariamente na classe C (42%) e, em menor número, nas classes D e E (5%).

Para muitos especialistas, os e-books podem, no lugar de restringir, impulsionar a leitura no país, até porque o livro do futuro não será mais estático. Silvio Meira, professor de engenharia de software da Universidade Federal de Pernambuco, assim define esse novo livro: “Um fluxo constante de informação, que muda o tempo todo, recebe opiniões, é comentado conforme vai sendo atualizado, e reúne milhares de pessoas em torno de um mesmo assunto, para debater e trocar conhecimento, em rede, como serviço”. Por isso, diz,  o livro tem a ver não só com a leitura, mas também com a escrita.

Mas para que o e-book avance e venha a representar realmente uma democratização do livro no país, o professor Meira insiste na necessidade de o país criar uma Biblioteca Pública Digital do Brasil, a exemplo da DPLA dos Estados Unidos. “Até porque o software da DPLA está sendo publicado e é aberto. Em qualquer lugar onde você tiver um computador e internet, você tem a Biblioteca Nacional todinha”, conta ele.

Esse é um tema importante de debate na definição de uma política pública para o livro digital, que tenha como pilares os formatos abertos e, no caso dos livros didáticos, a possibilidade de construção coletiva, o estímulo à participação do leitor. O Brasil, que digitaliza a passos de tartaruga o acervo da Biblioteca Nacional, precisa sair da letargia.

 

Lia Ribeiro Dias
Diretora Editoria