Território de prática política
ARede nº 93 – setembro/outubro de 2013
As manifestações de junho foram a demonstração mais cabal de que a internet se transformou em território de prática política. As mobilizações realizadas pela rede garantiram milhares de pessoas nas ruas, levantando diferentes bandeiras. Não foi a primeira vez que as redes sociais foram usadas no país como instrumento de mobilização.
Mas, como mostra a reportagem de capa desta edição (ver página 8), em junho foram usadas de forma massiva. Ficou claro que não existem dois mundos separados, um real e outro virtual. Esses mundos se combinam nas redes sociais, com o debate virtual pontuado de imagens do mundo real. Na avaliação do sociólogo Sergio Amadeu, a cultura digital mudou a cara das manifestações. “Não foi carro de som, não foi panfleto. Foram memes no Facebook, conversas no Twitter que juntaram tanta gente”, diz.
A ocupação, em especial pelos jovens, desse novo território de prática política, indica a importância de os governos e as instituições ampliarem as iniciativas de participação popular, de forma a dar conta das demandas da população por mais e melhores serviços públicos, por transparência no exercício do poder, pelo combate à corrupção.
É fundamental que o recado das ruas seja entendido; que as políticas públicas priorizem a melhoria dos serviços de transporte, saúde e educação; que o Congresso Nacional aprove uma reforma política que liberte dos mandatos hoje reféns de interesses privados em função do financiamento de campanha por empresas. Esse debate não pode mais ser feito sem levar em conta a internet e as redes sociais.
De olho em todos nós
O caso da espionagem promovida pelo governo dos Estados Unidos ainda vai dar muito o que falar. E deve dar também o que fazer a autoridades e cidadãos brasileiros. O especialista em direito internacional Luiz Moncau, da FGV, alerta, em entrevista exclusiva, que as soluções contra bisbilhotagens passam pela aprovação do Marco Civil da Internet, da Lei de Proteção de Dados Pessoais e valorização do uso de software livre. Construir uma cerca digital que isole o país, diz, não protege de invasão e gera muitos efeitos prejudiciais.
Lia Ribeiro Dias
Diretora Editoria