editorial – Tudo plugado

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Tudo plugado

 

ARede nº 97 –  março/abril

O assunto é instigante. A Internet das Coisas (IOT, na sigla em inglês), a conexão máquina-a-máquina, começa a invadir nossas vidas. É um movimento sem volta, preveem  os especialistas. Veio facilitar o dia a dia dentro de casa, com a automação de residências, e na rua, com 
o planejamento do trânsito, por exemplo.

Como mostra a reportagem de capa desta edição (ver página 8), as possibilidades da IOT são infinitas. E a aplicação mais relevante não está nos sistemas que facilitam as tarefas domésticas, mas nos que permitem detectar, com antecedência, as catástrofes naturais (e montar um esquema eficaz de evacuação da área e proteção da população atingida); melhorar o planejamento urbano e a gestão do transporte coletivo; economizar recursos naturais, como a água, com sensores que identificam vazamentos. A internet das coisas também vai ter impacto importante na saúde, seja no monitoramento de medicamentos (o sensor avisa a hora de tomar medicação), seja em outras aplicações, como a transmissão para o centro médico das condições do paciente (temperatura, pressão etc.).

Esses avanços vão melhorar a qualidade de vida. Mas a produção de uma enorme massa de dados sobre as pessoas pode representar um risco à privacidade. Por isso, é necessário garantir a proteção desses dados, que cada vez mais serão armazenados em nuvem. Como fazer isso? Na opinião dos especialistas, os sistemas de IOT devem adotar padrões abertos, que representam o conhecimento livre, disponível na rede.

O Brasil deve aproveitar a janela de oportunidades trazida pela IOT para fomentar um ecossistema local de desenvolvimento de soluções – da produção de sensores 
e placas controladoras a variadas aplicações, baseadas em software. A política de fomento passa ainda por adequar os currículos nas faculdades e estimular os alunos para o mundo da internet das coisas, pela adoção de padrões abertos tanto no hardware como no software, e incentivo às startups.

Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial

Uma visita a Piraí do Norte e Nilo Peçanha, as duas primeiras cidades do programa Cidades Digitais, do Ministério das Comunicações (Minicom), mostra o quanto uma infraestrutura eficaz de comunicação pode transformar as realidades locais. Em Piraí do Norte, em vez de 350 kbps por máquina, via rádio, existem 12 pontos em estabelecimentos de governo e dois pontos em praças públicas com, em média, 1 Mbps integral. O município, que antes gastava R$ 3,5 mil por mês para conectar só os 54 computadores da prefeitura, hoje paga R$ 6 mil mensais por acesso de qualidade em toda a rede.

No entanto, a reportagem de capa desta edição mostra, para além dos casos de sucesso, as dificuldades enfrentadas pelas demais cidades do programa, na maioria municípios pequenos, com arrecadação marginal e orçamento apertado, que dependem totalmente dos fundos da União. A Secretaria de Inclusão Digital, do Minicom, garante que se empenha para “dar sustentabilidade ao projeto”, conforme explica Lygia Pupatto, titular da Secretaria. E buscou várias parcerias – Telebras, Serpro, Pronatec, Sebrae e governos estaduais.

O Cidades Digitais enfrentou outro desafio, de alterar a regulamentação. Até então, só cidades com empresas públicas com licença SCM podiam operar uma rede de cidade digital. Agora, redes gerenciadas por entes da federação ou por organizações sem fins lucrativos podem oferecer conexão. Uma das dificuldades das 80 cidades selecionadas no primeiro edital é justamente atender as exigências da Anatel. Outra é a negociação para uso dos postes. O preço de referência acordado entre Anatel e Aneel ainda depende de consulta pública, mas a SID mudou o modelo para as 262 cidades do segundo edital, que vai prever a fibra enterrada como norma – serão 90% de fibras subterrâneas e 10% aéreas.

À espera do Marco Civil
Até o fechamento desta edição, dia 29 de novembro, o Marco Civil da Internet não tinha sido votado – apesar da recomendação de regime de urgência feita pela presidente Dilma Rousseff. A neutralidade da rede continua sendo o entrave para um acordo que viabilize a tramitação do projeto de lei no Congresso. E as organizações sociais continuam mobilizadas na luta por uma internet livre, sem privilégios para alguns, com qualidade de acesso a todos.

Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial