conexão social


Educação e inclusão em um só espaço

Centro social de Guaranésia oferece formação integrada, que alia reforço educacional, capacitação tecnológica e atividades culturais e esportivas.
Áurea Lopes
ARede nº 78 – março de 2012

No interior do estado de Minas Gerais, uma cidadezinha cujo nome significa “pássaro da ilha” mostra que a inclusão digital pode alçar voo alto se tiver apoio de um projeto pedagógico consistente, com capacitação técnica integrada a um programa de acompanhamento escolar e promoção de atividades culturais. Guaranésia – batizada pelo senador Júlio Tavares, em 1901, ano de sua fundação – tem cerca de 20 mil habitantes que desfrutam das águas cristalinas do rio Canoas e das bênçãos de Santa Bárbara. Como toda comunidade distante de grandes
centros urbanos, precisa de iniciativas que atraiam crianças e jovens e complementem a educação formal.

Essa é a missão do Centro Educativo e Social de Guaranésia (Cesg), criado em 2003, onde atualmente são atendidos cerca de 150 meninos e meninas de famílias de baixa renda, encaminhados, na maioria, pelo Conselho Tutelar. O Cesg funciona de segunda a sexta, manhã, tarde e noite. Os estudantes frequentam o centro no contraturno escolar. À noite, as salas são abertas aos adultos. Durante o dia, a garotada, alunos da rede pública, recebe reforço dos conteúdos vistos nas escolas e também participa das oficinas e dos cursos opcionais de leitura, capoeira, pintura, flauta, violão, esportes, dança, teatro, artesanato, saúde. Com direito, ainda, a uma refeição – almoçam quando chegam ou antes de sair.

O prédio, cedido pela prefeitura, abriga um laboratório de informática que foi inaugurado com poucas máquinas recicladas, doadas pelo Banco do Brasil. Em 2009, o Cesg ganhou um laboratório novo, com 20 terminais, da associação Pró-Vida. Bancado por parcerias e padrinhos locais, o Centro mantém seis educadores, dos quais dois são cedidos pela prefeitura e outros quatro são pagos diretamente. “As vagas são concorridas, mas exigimos que as mães estejam trabalhando”, conta a coordenadora, Regina Galante.

Filho da terra, o educador responsável pela inclusão digital é Pedro Sérgio Cândido Filho, de 20 anos, que fez o primeiro curso de informática aos dez anos. Hoje ele está no 8º período do curso de Informática para Gestão de Negócios na Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Mococa. Das 7h30 às 16h, Pedro é contratado para dar aulas às crianças do Cesg. À noite, continua na instituição, mas como voluntário, ministrando cursos para adultos da comunidade. Dedicação total. “É uma satisfação indescritível. Tem criança que chega aqui e não sabe nem ler”, diz.

Raros alunos têm computador em casa. Na escola, vão ao laboratório de informática apenas uma vez por semana. Assim, muitas vezes o trabalho começa por softwares de desenho, como uma estratégia para desenvolver a coordenação motora. Outros recursos pedagógicos utilizados são os jogos de memória digitais. Quando chegam a estágios mais avançados, aprendem a trabalhar com aplicativos de escritório, como planilhas e apresentações visuais. “Para ensinar as planilhas, temos de fazer um trabalho na área da matemática, pois é grande a dificuldade deles com essa disciplina”, relata o educador.

A estrutura é totalmente aproveitada, em tempo integral. “Não temos ociosidade”, revela Regina. A não ser, é claro, quando é preciso enfrentar as limitações da infraestrutura. A internet, por exemplo, funciona via ondas de rádio. “E a velocidade varia, de acordo com o dia. Sem falar nas interrupções quando vem a chuva”, lamenta Cândido Filho. Animadas diante das telas, as crianças parecem não se importar muito em esperar pela ampulheta que roda. Quando deixam o laboratório, correm para a quadra esportiva. O jogo de vôlei completa a agenda da tarde. E nem pensam em faltar no dia seguinte. Tecnologia e atividades físicas garantem a evasão zero da instituição.

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