A prefeitura está decidida a acabar com a exclusão digital. Vai informatizar a rede pública municipal e a assistência à saúde.
Anamárcia Vainsencher
Este mês, quatro escolas
ganharão telecentros
Localizada na Região Metropolitana da Fortaleza, capital do Ceará, de
cujo centro dista 20 quilômetros, a cidade de Maracanaú (lagoa onde os
pássaros maracanãs bebem água, em tupi), quer acabar com a exclusão
digital. Ou melhor, a administração municipal definiu a inclusão como
prioridade em 2005, quando criou a Secretaria da Ciência, Tecnologia e
Empreendedorismo (SCTE), conta o coordenador de inclusão digital, Sávio
França. Projetos, aliás, não faltam e, em tese, recursos próprios
também não, porque Maracanaú tem a segunda maior arrecadação de
impostos do estado, graças ao mais importante Distrito Industrial (DI)
do Ceará (cerca de cem empresas que geram mais de 15 mil empregos
diretos), que responde por 1/3 da produção industrial do estado.
A meta da política de inclusão da prefeitura de Maracanaú é instalar
telecentros em todas as 84 escolas municipais de ensino fundamental (45
mil alunos) até 1º de agosto, e nas 16 estaduais de ensino médio. Hoje,
diz Sávio, a cidade dispõe de três pontos via satélite do Gesac, e
outros 13 links
internet com banda da prefeitura, que tem duas conexões de 2 Mbps
contratadas à Embratel. Além da educação, a inclusão também se estende
ao atendimento básico à saúde do muncípio (veja o quadro abaixo).
Até 30 de março, informa o coordenador, estavam funcionando telecentros
de duas escolas municipais, o Com.domínio Digital e o Centro de Apoio e
Desenvolvimento de Educação Especial (Cadee). Com 17 PCs e localizado
no bairro Jereissati 1, o Com.Domínio é uma parceria com o Instituto
Aliança da Bahia, que forma adolescentes com cursos de 350 horas
anuais. Quanto ao Cadee, é o primeiro do gênero no Ceará e seus
primeiros micros foram obtidos em convênio com o Programa de Apoio à
Educação Especial (Proesp), da Secretaria de Educação Especial, do
Ministério da Educação. Hoje, a infra-estrutura do Cadee tem dez micros
e uma impressora em Braille, e sua população flutuante é de 800
pessoas, a partir de cinco anos de idade. Pelo cronograma da
prefeitura, até o final deste mês de abril, estarão funcionando outros
quatro telecentros em igual número de escolas municipais. Em dois
meses, mais três. Até 1º de agosto, todas as 84.
Projeto SeLiga Aldeia
usa ônibus para dar
capacitação à
população indígena
Em alguns telecentros, como o do Liceu Municipal, também está
disponível serviço de VoIP, comunicação de voz pela internet. A
prefeitura também faz outras parcerias. Uma, foi com o Instituto Gerdau
(a empresa tem usina no DI), no programa “Gestão para o Sucesso
Escolar”, com duração de 12 meses (metade presenciais), para
capacitação de gestores dos telecentros que serão implantados nas 13
escolas situadas no entorno da fábrica. Para este ano, está prevista,
ainda, a capacitação de 1,7 mil professores da rede municipal no
“Educação para o Futuro”, projeto da Intel/Fundação Bradesco/Senai.
Embora esse projeto trabalhe em plataforma proprietária, a SCTE elogia
a estrutura do curso, que é gratuito, tem carga horária de 40 horas,
material didático bom. “E está sendo um aliado para ir quebrando o gelo
(medo, mesmo) de nossos professores no uso de TICs como ferramentas
pedagógicas. Mas, nos telecentros, é Linux!”, ressalta Sávio.
A política de inclusão digital da prefeitura tem mais dois programas:
SeLiga e Cartão Inteligente. O primeiro é de capacitação, no formato de
oficinas de curta duração, que vão de iniciação à informática, passando
por internet, editor de texto, até usar ferramentas de relacionamento
como o Orkut. Quanto ao Cartão Inteligente, a idéia foi aproveitar a
existência de 30 a 40 lan houses
na cidade, estabelecimentos com altíssima taxa de natalidade e
mortalidade, ao mesmo tempo em que nem todas as escolas dispunham de
computadores para atender à demanda dos alunos. Então, era juntar a
fome com a vontade de comer. Primeiro, a SCTE se encarregaria de
“vender” horas das lan houses para empresas do DI, as lan,
de seu lado, se encarregariam do agendamento das atividades dos
estudantes, e pronto. Para facilitar a concretização do projeto, a
prefeitura criou uma organização social, o Instituto Tecnologia, com o
papel de fazer o meio de campo entre as partes.
No Nordeste, precisamente na Região Metropolitana de Fortaleza (CE),
está a cidade cujo programa de saúde é considerado o terceiro melhor do
país em organização e cobertura. Lá fica Maracanaú com seus pouco menos
de 99 km², e cujos 200 mil habitantes terão os seus 26 postos de saúde
informatizados, interligados à intranet da administração municipal, e
com acesso à internet via link
da Embratel contratado pela prefeitura. É essa municipalidade a
primeira do estado que começará a implantar o GIL (Gerenciador de
Informações Locais), do Ministério da Saúde, desenvolvido pelo Datasus
para informatizar as unidades de saúde da atenção básica.
“A implantação do GIL é um grande processo de inclusão digital e
social”, garante Antonio de Pádua Lopes Pinho, 42 anos, há 20
trabalhando com sistemas de informação de saúde e priorizando, sempre
que possível, softwares
gratuitos, ou governamentais. Na Secretaria Municipal de Ciência,
Tecnologia e Empreendedorismo (SCTE) de Maracanaú, Antonio é
coordenador de tecnologia na saúde. Se depender dele, depois dos
microcomputadores, os agentes de saúde vão trabalhar com palmtops.
Somadas as pessoas que passarão a operar o sistema com aquelas que vão
colaborar com a formação da base de dados, os números serão os
seguintes: em cada uma das 26 unidades de saúde, precisarão ser
capacitadas, em média, seis pessoas para operacionalizar o sistema,
totalizando 156. Computados todos os médicos, enfermeiros, dentistas,
auxiliares e agentes de saúde que vão ser treinados em informática
básica e funcionalidades do sistema, a expectativa é atingir mais de
600 pessoas.
“Num futuro próximo, estaremos elaborando projeto para que cada agente
de saúde possa registrar as informações de suas visitas diretamente num
palmtop,”
diz o coordenador, lembrando que todas as unidades de saúde estarão
ligadas ao mundo através da internet, e que os profissionais de saúde
de Maracanaú serão estimulados a utilizar a web para se aperfeiçoar
através dos diversos cursos a distância existentes na área da saúde. A
seu ver, a informatização das unidades de saúde é “uma ação de inclusão
social de relevância porque vai possibilitar o monitoramento de todas
as variáveis trabalhadas na saúde, de forma descentralizada e
automática, o que dará maior segurança e agilidade na tomada de
decisões”.
O novo sistema dará continuidade ao acompanhamento do Programa de Saúde
da Família e permite, ainda, a criação de um histórico de cada
paciente, além de agendar consultas e criar uma caderneta eletrônica de
vacinação com sistema de alerta. Na implementação do GIL, o ministério
entra com o software,
a administração municipal arca com o resto — compra de equipamentos e
formação do pessoal. Os custos iniciais para aquisição de micros são
estimados em R$ 520 mil, mas a SCTE prevê um orçamento maior, por volta
de R$ 1,5 milhão. “Estamos trabalhando com recursos próprios”, informa
Antonio.
Hoje, o projeto quase não saiu do papel. Ou melhor, em novembro de
2006, entrou em operação um piloto do GIL, na unidade de saúde do
bairro do Timbó, com 5 mil moradores e 146 habitantes por km. A meta,
porém, é informatizar, até julho, todas as 26 unidades. O projeto prevê
a instalação inicial de três micros (administração, recepção de
pacientes, controle/agendamento de vacinação); depois, mais um, para a
dispensa de medicamentos. Desenvolvido em Delphi, o GIL roda em
Windows (mas está sendo avaliada sua migração para Linux), é
distribuído sem custo às unidades de saúde, e o banco de dados é o
Fireboard (aberto). A atualização do sistema é feita no portal do
Datasus. Um dos grandes méritos do GIL, diz Antonio, é integrar quase
todos os mais de 14 sistemas do Ministério da Saúde.