Escola produz para TV digital

Os alunos do Núcleo Avançado em Educação (Nave), no Rio de Janeiro, vão desenvolver conteúdos multimídia 

Os alunos do Núcleo Avançado em Educação (Nave), no Rio de Janeiro, vão desenvolver conteúdos multimídia  
Carlos Minuano


Espaço Usina de Expressão

Como se apresentaria o mundo se eu pudesse viajar na velocidade da luz? O questionamento do célebre físico Albert Einstein divide espaço com desenhos futuristas, grafites e um colorido moderno nas paredes de uma escola inovadora que acaba de ser inaugurada no Rio do Janeiro. Além das disciplinas básicas, os alunos do Núcleo Avançado em Educação (Nave) aprenderão a desenvolver games e terão computadores por todos os cantos à disposição — todos com banda larga. Em vez do velho giz, na mesa dos professores, um computador. No lugar do quadro negro, uma tela de plasma e a lousa digital smart board. Por meio da tecnologia touch screen (tela operada pelo toque), a smart board permite utilidades variadas como escrever, desenhar, acessar a internet, assistir a vídeos, trabalhar com imagens, entre outros recursos. Difícil de acreditar, mas trata-se de uma escola pública.

Semelhante ao Centro Experimental Cícero Dias, projeto implantado em 2006, no Recife (PE), o projeto Nave, parceria entre o Oi Futuro e a Secretaria de Estado da Educação, inaugurado no Rio de Janeiro no final de maio, pretende capacitar os alunos para o uso das novas tecnolo­gias. Um mercado de trabalho que já carece de mão-de-obra. Segundo levantamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, atualmente faltam 17 mil profissionais no setor. “Serão 200 mil vagas nos próximos quatro anos”, diz Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi. Estimativas apontam também que até 2009 o número de empregos gerados pelo setor de hardware, software e serviços deve chegar a 630 mil.

Localizada em uma antiga central telefônica da Telemar/Oi, na Tijuca, zona norte do Rio, a unidade já está funcionando com 176 alunos e 22 professores, divididos em quatro turmas. O prédio com quatro andares, com visual renovado, abriga os diversos espaços do núcleo: a escola estadual de ensino médio, que faz uma ponte entre as disciplinas básicas e os conteúdos de tecnologia; a Fábrica de Cultura Digital, para pesquisas e desenvolvimento de games e conteúdos para TV digital; o Laboratório de Projetos Interativos Digitais (LID), parceria com o Proderj e a Riosoft para integração entre empresa e escola; a Usina da Expressão; e o espaço multimídia para eventos, como seminários e exposições.


Além do Oi Futuro, que investiu a maior parte dos recursos, R$ 8 milhões, na reforma do prédio e na compra de equipamentos e mobiliários, e do Proderj, que desembolsou R$ 100 mil, outros parceiros aderiram à iniciativa. A Unesco vai trabalhar nos indicadores de avaliação da escola. A VisionLab da PUC-RJ, o Centro de Estudos e Sistemas Avançados (C.e.s.a.r.), a Secretaria de Estado da Cultura e a ONG Planetapontocom colaboram nos centros de pesquisa. “É uma evolução no sentido de parcerias com empresas para projetos educacionais”, defende a secretária da Educação, Teresa Porto.
 
Em 2008, o investimento do Oi Futuro em educação será de R$ 16 milhões”, acrescenta Luiz Eduardo Falco, da Oi. No caso do Nave, a empresa deve acompanhar e avaliar a evolução do projeto por um período de três anos. “Nossa ambição é estimular o conhecimento e esperamos que essa iniciativa se transforme em política pública”, argumenta Luiz Eduardo.

Outro acordo de cooperação será assinado entre o Oi Futuro, o Proderj e a RioSoft para produção de conteúdos nos laboratórios do LID. “É uma preocupação desde o início do projeto estabelecer conexão com o mercado de trabalho, para isso estamos criando um centro de internet multimídia”, explica o presidente do Proderj, Paulo Coelho. “Vamos incubar projetos de interatividade digital”, prossegue. A parceria já viabilizou cinco bolsas de estágios para os alunos do Nave. O presidente do Proderj acredita que, com adesão de outras empresas, surjam novas oportunidades.

Entre as atividades do LID, Paulo Coelho destaca o desenvolvimento de aplicativos digitais. “Podemos produzir DVD’s educativos, sobre a história da Tijuca, por exemplo”. O objetivo, segundo ele, é criar ainda aplicações de utilidade do cidadão. “Informações sobre matrículas para o próximo ano poderão ser encaminhadas por SMS”, observa. Apesar da opção por sistemas proprietários na escola, nos laboratórios serão utilizadas plataformas abertas, como o Ginga. A opção da Secretaria da Educação pela Microsoft é antiga, de acordo com a secretária Tereza Porto. “Vamos usar o que já está funcionando, mudar a estrutura representaria a necessidade de novos investimentos”. Na ocasião da inauguração do Nave, o governador do Rio, Sergio Cabral, anunciou a compra de 31 mil notebooks para professores da rede estadual de ensino, em parceria com a Oi e a Microsoft.

Outro espaço citado por Paulo é o centro de internet comunitária, que fará a comunicação com as famílias e a comunidade. Ele ressaltou, ainda, que os monitores do laboratório foram selecionados no morro do Borel, comunidade de baixa renda localizada também na Tijuca.

As aulas do Nave, em período integral, das 7 horas às 17 horas, acontecem nos vários espaços do prédio. Laboratórios de Formação, com aulas de programação de games, roteiros para mídia digital, produção de conteúdo multimídia e para TV digital; espaço para experimentação dos trabalhos desenvolvidos no laboratório; e praça de convivência, para contato com as últimas novidades tecnológicas.

Exposição sobre games

Uma exposição de games, com nove obras interativas, inaugurou o espaço Usina de Expressão, área de eventos sobre tecnologia e educação do Núcleo Avançado em Educação (Nave). Quem visitar a mostra poderá experimentar consoles originais de videogames, além de conhecer novas tendências de arte interativa, como o fliperama chamado “Agoniza, mas não morre”, inspirado no sambista Nelson Sargento. Nele, o usuário pode se sentir, por alguns instantes, na pele do próprio sambista, e fugir de inimigos bizarros como Osama Bin Laden e George Bush. Com curadoria do artista multimídia Batman Zavareze, a Expo Games tem, no total, 63 TVs de LCD, dois playstation 3, um 1 Wii e vários jogos alternativos.