08/02/2010 – Beatriz Tibiriça, a Beá, é uma das coordenadoras do Coletivo Digital, organização não-governamental de São Paulo. O pessoal do Coletivo participou da implantação dos telecentros da prefeitura de São Paulo, durante a gestão de Marta Suplicy (2001-2004) e dos telecentros da Petrobras. Hoje, é um Pontão de Cultura Digital. Esta entrevista foi realizada por e-mail, em dezembro de 2009 e fez parte do trabalho de apuração da matéria “Monitor, Agente da Cidadania“, sobre capacitação e formação em inclusão digital, publicada na edição número 54 da revista ARede.
ARede — Você afirmou uma vez que a rede nacional de formação vai criar um padrão mínimo, que hoje não existe, para o atendimento nos telecentros. Pode explicar isso melhor?
Beá — Na verdade, os projetos do governo federal, reunidos sob o programa Telecentros.Br, de grande amplitude, vão criar novos padrões quando estiverem na rua. Por exemplo, está firmado hoje o entendimento de que um telecentro deve estar conectado à rede mundial de computadores. Isso resolve de uma vez por todas a polêmica que se arrasta nos tempos: sem internet não é telecentro.
No caso da formação, também ao discutir e acertar conteúdos e temas que serão dados para em torno de 10 mil bolsistas, o programa vai criar um padrão do que é a formação exigida para um monitor de telecentro, que até hoje não foi firmado. E todos os monitores de telecentros passarão a buscar esta formação ou terão que ter, no mínimo, este padrão de formação, sejam para projetos comunitários de ONGs, de empresas ou de outras esferas de poder público.
Esta é a grande pegada, que ninguém está falando e muitos dos militantes de inclusão digital sequer se deram conta: estes editais partem de um patamar construído a partir dos debates e posicionamentos de um certo campo que atua na inclusão digital e estabelece que a partir de agora este é o padrão para se ter um telecentro. O padrão de atendimento ao cidadão também passará a ser um mínimo exigido em todo território nacional. Não será aceitável menos que isso. Temos agora que escolher quais serão os novos caminhos e vigiar para que não haja recuos.
ARede — Qual você acha que será o maior desafio dos programas de capacitação na área de inclusão digital, daqui para frente?
Beá — Capacitar um contingente massivo de monitores, ou melhor de trabalhadores em inclusão digital, e conseguir que cidadãos plenos e com novas habilidades e capacidades estejam à frente, sempre, dos projetos de inclusão digital. Por isso a formação continuada.
ARede — A noção de inclusão tem mudado, junto com a evolução da tecnologia e sua popularização. As pessoas sabem mais sobre internet do que há alguns anos, sabem mais sobre computadores. Nos próximos anos, o movimento da indústria de tecnologia será o de incluir um número cada vez maior de pessoas na rede. Os novos modelos de negócio (como o Google) dependem disso: ter o maior número possível de gente na rede, gerando informações que, por sua vez, eles vão transformar em receita. Qual será, então, a “nossa” inclusão digital?
Beá — O Coletivo Digital nunca entendeu inclusão digital como alfabetização digital. Este entendimento é limitador e errado. A inclusão digital deve acompanhar o crescimento e o desenvolvimento das novas tecnologias. Hoje, já estamos apontando para novos usos de um telecentro quando oferecemos cursos em software livre de manipulaçao de imagens, video e áudio.
Temos que exigir que os telecentros acolham novas perspectivas de uso da tecnologia a cada dia, exigir equipamentos de melhor qualidade, conexão em banda larguíssima que permita estes novos usos. E, se um dia todos tiverem o seu computador em casa, o telecentro pode vir a ser o ponto de distribuição de rede de banda larga para toda comunidade ou o local onde se desenvolvem os projetos comunitários e coletivos.