Encontro de educadores sociais promove discussão sobre políticas públicas e troca de experiências Cora Dias
ARede nº60, junho 2010 –Contribuir para a promoção da cidadania, a partir de ações sustentáveis de inclusão e transformação social: essa é a missão do Programa de Inclusão Digital da Fundação Banco do Brasil (FBB), o Estações Digitais, criado em 2004. Em maio deste ano, a FBB reuniu representantes de suas 250 estações digitais para promover troca de experiências e capacitações. O 3º Encontro dos Educadores Sociais teve a participação de 200 pessoas, entre agricultores, familiares, quilombolas, populações ribeirinhas e catadores de recicláveis, além de palestrantes do governo, da iniciativa privada e do terceiro setor.
Os educadores sociais são pessoas das comunidades capacitadas pelo programa, que promovem a difusão das tecnologias da informação e comunicação, por meio de cursos de informática. A iniciativa busca aproximar o computador da vida das 250 comunidades atendidas em todo o Brasil.
O foco do evento foi a formação continuada dos educadores sociais, que participaram de oficinas e geraram conteúdos produzidos com software livre. Durante o encontro, pode-se discutir o trabalho da FBB e das políticas públicas de inclusão digital. De acordo com Marcos Fadanelli Ramos, gerente da divisão de Educação e Cultura da FBB, esse encontro viabiliza a troca de experiências e o compartilhamento das dificuldades e das soluções encontradas nas estações. “Ao perceber que as dificuldades são as mesmas, os educadores sociais conseguem se fortalecer”, diz Ramos. “É um processo de fortalecimento conjunto, que eu chamo de ajustamento mútuo.”
PRIMEIRO CONTATO
O encontro, que ocorreu em Luziânia (GO), foi especialmente importante para Thiago Kapawandu Zoró. Ele é o atual educador social da Estação Wawã Paju, da Aldeia-Escola Zawã Karej Pangyjej, que fica no município de Rondolândia (MT), a 1.133 quilômetros de Cuiabá. Thiago participou do curso de informática da estação em 2007, ano em que o programa chegou a sua aldeia. Foi seu primeiro contato com um computador.
No início de 2010, depois que o educador social que trabalhava na aldeia saiu, Thiago foi chamado para dar aulas na estação. “Acho que eles perceberam que eu tinha mais facilidade para aprender”, conta. As aulas de digitação e de informática básica são dadas para turmas de dez crianças ou adolescentes da aldeia-escola e de aldeias próximas. Thiago, que tem 20 anos, terminou o ensino médio em 2009 e pretende fazer faculdade de Direito.
Assim como a Estação Wawã Paju, outras 60 estações digitais não têm conexão à internet. Esse é um dos principais pontos reivindicados pelos educadores sociais. Para Fadanelli, sem conectividade não se gera inclusão, nem cidadania. “Áreas priorizadas pelo Ministério das Comunicações, como a região da Amazônia, por exemplo, já têm antena de Gesac, mas ainda há regiões com dificuldade no acesso à internet”, explica.
É o caso da Estação Digital de Pacajus (CE), que passou por problemas devidos ao alto preço da conexão a internet. Sílvia Maria de Paiva, coordenadora geral da Associação Integrando e Construindo o Conhecimento (AICC), afirma que o encontro de educadores sociais é um momento para agradecer, mas também para reivindicar. “Estamos solicitando uma conexão gratuita à internet, junto ao governo do Estado do Ceará”, diz ela, que também tem esperanças de obter uma antena Gesac para a Estação Digital de Pacajus.
Além das aulas de informática, a estação tem cursos de teatro e dança e ainda abre espaço para a apresentação de bandas. Recentemente, pela ação da AICC, a estação promoveu um curso de mecânico refrigerista. “A gente quer que os alunos sejam protagonistas da sua mudança pessoal e da comunidade”, afirma Sílvia.
Primeira estação digital do estado do Ceará, a Estação de Pacajus associou-se, em 2008, a outras 24 estações e telecentros do estado, para formar uma rede que abre espaço para discussão e dá força para reivindicações políticas.
A formação de redes estaduais e regionais é uma ideia que a FBB quer colocar na agenda de seus projetos de investimento para incentivar outras estações digitais, segundo Fadanelli: “Assim como a gente promove os encontros bienais de educadores, a rede tem um objetivo parecido. Associando-se regionalmente, os educadores têm condição de estabelecer um diálogo mais qualificado pela própria identidade cultural e pela similaridade das dificuldades que eles enfrentam”.
Além do projeto de redes regionais, a FBB pretende implantar também cinco Estações de Metareciclagem, ainda em 2010. O projeto piloto será realizado na cidade de São Paulo. O objetivo é recondicionar máquinas doadas tanto pelo poder público como por empresas privadas e pessoas físicas para atender a demanda das estações digitais. “Além de estimular a reciclagem e o recondicionamento de máquinas, a gente vai formar educadores sociais e também mão-de-obra qualificada para o mercado de trabalho na área de TI”, afirma Fadanelli.
O programa Estações Digitais já capacitou 500 educadores sociais, graças a um investimento total de R$ 10 milhões, atendendo a 47 mil pessoas. Este ano, o número de estações deve aumentar de 250 para 290 e outros 140 educadores serão capacitados.
Fotos Álvaro Henrique/Divulgação