Festival de cinema na internet

Uma webTV para a produção independente. Na “TV Banana”, só passa filme nacional.



"O Monstro", de Luciana Guerra Malta.

Uma webTV para a produção independente. Na “TV Banana”, só passa filme nacional. 
Heitor Augusto

Em 1992, o cinema brasileiro vivia uma das piores crises de sua história. Fernando Collor, ainda na condição de presidente da República (o impeachment só seria aprovado em outubro), havia fechado a Embrafilme, principal órgão estatal financiador do cinema brasileiro. Como resultado, naquele ano, chegaram às telas apenas quatro filmes nacionais. Após 16 anos desse cenário de terra arrasada, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) ocupa o cargo de reguladora e a Lei do Audiovisual é o principal mecanismo de financiamento do setor. Em 2008, estima-se 300 filmes em processo de realização — e já estão prontos 37 de ficção e 71 documentários, de acordo com o levantamento da produção nacional, organizado pela “Revista de Cinema”.

Produzir filmes no Brasil, contudo, não significa exibi-los. O país superou o déficit de produção do início da década de 90, mas o gargalo continua sendo a distribuição de conteúdo audiovisual nacional. Entre os filmes brasileiros lançados em 2008, apenas “Meu Nome não é Johnny”, com mais de 2 milhões de espectadores, teve um número razoável de cópias (102, acrescidas de mais 40 uma semana após o lançamento). Uma ferramenta que, humildemente, quer auxiliar na exibição dos filmes utilizando o potencial da internet é a TV Banana, canal virtual que só veicula curtas e longas-metragens nacionais. Este mês, o site realiza o Web Cine Banana, festival online.


"O Ciclo da Luz", de
Marcelo Domingues
A webTV organiza uma programação de filmes diariamente, das 20h à meia noite. O conteúdo exibido é cedido gratuitamente pelo realizador. O site é feito de maneira caseira por Patrice Lima, que, após trabalhar no departamento de programação da “TV Tem”, afiliada da Rede Globo em Sorocaba, no interior de São Paulo, resolveu utilizar a internet como meio de difusão. “Na TV, recebia várias coisas boas. Porém, o espaço para a produção regional era restrito”, afirma.

A primeira providência de Patrice para conseguir expandir o canal de veiculação foi um curso de manutenção de microcomputador. Em seguida, “fuçou” algumas ferramentas de desenvolvimento de site — porém recorreu a um desenvolvedor profissional. Atualmente, as transmissões da “TV Banana” são feitas da sala da casa de Patrice, onde há um pequeno estúdio.

Diversidade

O conteúdo da TV Banana aposta na diversidade temática e regional. Parte significativa da produção é formada por curtas-metragens de estudantes universitários. O Centro-Oeste, cujo maior expoente nos longas-metragens é Geraldo Moraes (“No Coração dos Deuses”), está presente na webTV com o curta “O Primeiro Dia de Trabalho”, de Essi Rafael, estudante da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), mas nascido no Mato Grosso do Sul. O Rio Grande do Sul, cujos maiores representantes são os premiados Jorge Furtado e Carlos Reichenbach, participa da TV Banana com “Era Uma Vez Em Porto Alegre”, oitavo curta-metragem de Luiz Rangel.

A temática urbana e marginal está em “Dois Perdidos Numa Noite Suja”, desta vez adaptado por Fábio Hilst. Sem a estrutura de adaptações anteriores, como a do longa de José Joffily, a nova versão, em média metragem, foi feita com apenas R$ 400,00 (custo do aluguel da câmera), rodada em apenas duas noites e editada em dois meses. O filme também está disponível no YouTube e no Google Video. O Paraná chega à webTV com “Passos Urbanos”, de Fabrício Santesso e Gabriel Faedric. O curta-metragem ganhou o prêmio de público de melhor filme na 8ª Mostra Londrina de Cinema, em 2006.

Festival

Após um ano em atividade, a webTV resolveu ir além da tradicional exibição noturna de filmes: este mês, realiza o I Web Cine Banana, festival de cinema nacional online, durante os dias 25 e 26. Nesses dois dias, os internautas entram na página do canal e assistem a filmes de até 15 minutos. No fim, podem dar uma nota — a soma da avaliação dos espectadores vai determinar o vencedor do prêmio de público.

Além do júri formado por internautas, há três indicados para compor o júri oficial do festival. Todos são voluntários: Marcos Farion, curtametragista; Maurício Reis, jornalista e pesquisador do cinema; e Gilberto de Camargo Antunes, editor da TV Tem e formado em Cinema. Cada filme inscrito paga a taxa simbólica de R$ 2,00, que vai compor o prêmio a ser concedido ao vencedor de melhor filme.

O intuito do Web Cine Banana é ir além do eixo Rio-São Paulo e exibir filmes de várias regiões do Brasil. “Há produção no Amazonas, por exemplo, mas que fica concentrada só no Festival de Cinema do Amazonas, não tem espaço para exibição”, afirma Patrice. “A internet, por ser global, dá espaço para exibir para diversas partes do país”, complementa. Apesar de o número de salas de cinema crescer 10% ao ano, apenas 8% das cidades brasileiras têm salas de exibição, de acordo com dados da Ancine.


"O Homem, o tempo e a
Bunda", de Essi Rafael,
da Aquidauana.
Em 2008, um dos exemplos de filmes que não puderam contar com espaço para exibição é “Juízo”, de Maria Augusta Ramos. O documentário, distribuído pela Filmes do Estação, tem apenas quatro cópias, número cem vezes menor do que a animação “Horton e o Mundo dos Quem”, distribuída pela Fox. Os números são piores ainda para “Fim da Linha”, longa de estréia de Gustavo Steinberg, distribuído pela Pandora com apenas duas cópias. O site da “TV Banana” também traz notícias do setor, agenda de exibição, artigos de colunistas, etc.