Pesquisa conclui que o programa Identidade Digital promove inclusão digital nos segmentos de renda mais baixa.
Verônica Couto
A Fundação Getúlio Vargas (SP) aplicou 10,5 mil questionários a
usuários de infocentros Acessa Digital para avaliar o impacto da
política de inclusão digital do governo da Bahia (Programa Identidade
Digital-PID). De acordo com Marcelo Neri, coordenador do Centro de
Políticas Sociais da FGV-SP, foi possível “comprovar que o programa
aumenta a taxa de inclusão digital nos segmentos mais necessitados, que
demorariam muito tempo para serem incluídos”.
Segundo o estudo, 90,45% dos usuários do PID têm renda familiar até
dois salários mínimos, e 62,93% são de domícilios que recebem o Bolsa
Família. A pesquisa verificou que entre os que vão há mais tempo ao
infocentro, estão mais desenvolvidas habilidades técnicas no manejo do
computador e da internet. Por exemplo, 65,66% daqueles com mais de um
ano de PID sabem usar sozinhos o processador de texto, em comparação a
40,75% daqueles com menos de um mês. No conjunto, 55% afirmaram que o
infocentro foi o local onde mais aprenderam sobre internet.
Os jovens predominam: 87,4% dos usuários têm até 21 anos; e 84,03% são
estudantes — dos quais, 93,70% de escolas públicas. O que explica
por que, para 68,39%, pesquisas e trabalhos escolares são a principal
motivação. Os outros atrativos apontados foram diversão (51,75%) e
comunicar-se com outras pessoas (51,52%).
O principal impacto da internet na vida, para 70,62%, foi no
“aprendizado”, embora, nas expectativas futuras, 74,94% dos usuários há
mais de um ano e 70,45% os que freqüentam o infocentro há menos de um
mês esperem se beneficiar da internet com “emprego”. Também 65,18%
dizem querer trabalhar com tecnologia. Mas não se verifica a eficácia
da recorrente estratégia de enviar currículos pela rede: apenas 10,37%
tiveram retorno (conseguiram entrevista).
Entre as melhorias sugeridas para os infocentros, 83,11% querem mais
tempo de acesso. E 80% gostariam, no futuro, acessar a internet de suas
casas. Atualmente, apenas 6,76% fazem isso, enquanto 64,46% se conectam
a partir de infocentro.
O Programa Identidade Digital (PID), com 372 infocentros Acessa
Digital, será mantido e tratado como prioridade pelo novo governo da
Bahia, segundo o atual secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação
(Secti), Ildes Ferreira. Ele afirma, contudo, que haverá reformulações.
O suporte técnico e a gestão vão ser transferidos às comunidades; e
parte dos novos infocentros vai para escolas públicas. A opção pelo software
livre permanece. “Hoje, os infocentros cumprem apenas a função da
inclusão digital; e a população não está comprometida com eles.
Queremos adaptá-los para serem um centro de serviços da comunidade. O
programa passa a ser de inclusão sóciodigital”, afirma Ildes A Secti
fará convênios com ONGs para capacitar as comunidades a buscarem a
sustentabilidade da gestão e do suporte fora do governo. “Três ou
quatro entidades, como a Rede Cipó, vão atender diferentes regiões”,
explica o secretário, que também estuda, com a Secretaria de Educação,
a abertura de infocentros na rede de ensino. “A escola ficaria aberta
no final de semana para a comunidade. No horário letivo, é preciso
avaliar. Se atrapalhar o ensino, o acesso seria exclusivo a professores
e alunos”, diz.
Segundo Emerson Casali, coordenador do programa até 2006, no governo
anterior, o PID tem R$ 13,5 milhões para a sua expansão no atual
governo do PT. O total, que permitiria abrir cerca de 300 infocentros,
resulta de dois convênios com o Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT), firmados no ano passado. Para Casali, a pesquisa da FGV mostra,
principalmente, que a inclusão digital cria nos jovens de baixa renda
uma perspectiva de futuro e de projeto. “É maravilhoso que 65,18% se
descubram querendo trabalhar com tecnologias da informação”, diz.
www.secti.ba.gov.br/ — Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do estado da Bahia
www.identidadedigital.ba.gov.br — Programa Identidade Digital