Jovens da Favela Maravilha ilustram com fotos feitas à lata os artigos da Estatuto da Criança e do Adolescente.
Lia Calde
A lata de alumínio que capta imagens, por meio da técnica de pinhole,
tem por trás o olho de uma criança de nove anos. Esse é o retrato do
projeto MaraviLhata, que foi desenvolvido durante o ano passado, em
Fortaleza (CE), com o apoio do Banco do Nordeste. A entidade Casas de
Conveniência Familiar realiza, desde 1995, diariamente, atividades com
crianças de até 13 anos fora do horário escolar. O trabalho acontece na
Favela Maravilha, localizada na região norte da capital cearense, e
também abre as portas para as famílias das crianças, em iniciativas de
alfabetização e cursos profissionalizantes.
Foi a esse local que chegou, com rolos de filmes, livros ilustrados e
máquinas que prenderam a atenção da meninada de dez a 13 anos, a
italiana Francesca Nocivelli, responsável pela implantação do curso de
fotografia, depois aprimorado com um laboratório de revelação.
Fascinados pela arte, os adolescentes, que já não tinham idade para
integrar o programa, começaram a procurar a instrutora. Foi aí que
nasceu a oficina gratuita ClicaMaravilha. O curso trabalhou olhares por
meio de técnicas, que vão desde o pinhole até à fotografia digital, para os mais velhos.
No final de 2006, os alunos do Clica foram apresentados ao Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), lei federal de 1990 que expõe os
direitos e deveres dos jovens, impondo seu cumprimento à família, ao
Estado e à comunidade. A idéia é que a turma selecionada, formada por
alunos da terceira série do ensino fundamental da Escola Municipal
Padre Amorim, saísse às ruas com suas máquinas artesanais, em busca de
imagens para ilustrar os artigos do ECA.
Como os fotógrafos encontraram dificuldade para identificar cenas
capazes de significar as diferentes cláusulas da lei, foi com lápis de
cor e giz de cêra que eles primeiro conceberam as ilustrações, para,
depois, saírem entusiasmados atrás daquilo que haviam colocado no
papel. Tarefa cumprida, desenhos e fotografias em mãos, foi hora de
discutir o que o Estatuto propunha e elaborar as frases que
encabeçariam os trabalhos. O resultado foi a exposição MaraviLhata, em
fevereveiro deste ano, no Instituto de Fotografia (mantido por uma
associação de fotógrafos), na Praia de Iracema, em Fortaleza.