Estação Digital da Abecal tem foco em atendimento a pessoas com deficiências e aposta em profissionalização
Há um ano, a Associação Beneficente Caminho da Luz (Abecal), que fica em São Paulo (SP), mantém um projeto de capacitação profissional gratuita para jovens e adultos com deficiências físicas, auditivas e visuais. O curso, que é resultado de uma parceria entre a Abecal e a Estação Digital Fundação Banco do Brasil, tem duração de cinco meses e oferece ensino básico de informática e formação na área de auxiliar administrativo.
Essa foi a primeira Estação Digital totalmente voltada a pessoas com deficiência, segundo Roberto Souza, fundador e diretor presidente da Associação. “Dispomos de softwares nacionais que permitem a inclusão digital dos alunos, independente de suas limitações. Eles utilizam, por exemplo, programas com comando de voz, nos casos de deficiências motoras e visuais. Para os alunos com problemas auditivos, temos um profissional especializado em Libras (Língua Brasileira de Sinais), que participa das aulas juntamente com o professor de informática”, explica.
Para viabilizar o projeto, a Abecal tem apoio do Instituto Stefanini, mantido pela Stefanini IT Solutions. Ao ingressar no curso, os alunos são registrados em carteira profissional pela empresa, com direito a remuneração, assistência médica e vale- transporte. Após a conclusão do curso, todos têm a oportunidade de entrar para o quadro de funcionários da Stefanini, conforme desempenho no curso e interesse profissional do aluno.
Foi o que aconteceu com Alessandra Christina Afonso, integrante da turma do segundo semestre de 2010, que procurou a Abecal para reforçar o aprendizado adquirido em outros cursos. Essa opção permitiu que ela, aos 20 anos, desse um salto profissional: “Hoje trabalho na empresa multinacional Stefanini IT Solution e estou amando”. A limitação física de Alessandra, que perdeu a mão direita em um atropelamento, aos 8 anos, nunca a impediu de estudar ou trabalhar. Mas foi na Estação Digital que adquiriu conhecimentos que deram “uma reviravolta na vida e melhoraram minha condição financeira”, conta.
O projeto é uma extensão da Estação Digital, que desde 2004 oferece capacitação profissional em informática aos moradores do entorno da Abecal. Por mês, são formados cerca de 280 jovens e adultos que buscam um lugar no mercado de trabalho ou querem se inserir no mundo da informática.
Aos 15 anos, Ronaldo Mello Júnior, aluno do ensino Médio, espera que o aprendizado o auxilie nos estudos e em breve viabilize o início de sua carreira profissional. Como a maioria dos jovens de sua idade, Ronaldo passava horas em frente ao computador, em casa ou na lan house, “conversando com amigos pelas redes sociais”. Em menos de um mês de curso, o estudante já começa a dominar programas básicos como Word, Excell e Power Point.
O mesmo acontece com Roseli Balden, de 14 anos, estudante da 8ª série do ensino Fundamental, que pretende trabalhar para ter condições de fazer um curso universitário na área de Engenharia. Ela diz que as aulas de informática lhe abriram outra oportunidade: aprender inglês, condição fundamental para o futuro profissional. A Abecal, entre outros projetos socioeducativos, oferece curso de inglês gratuito uma vez por semana.
A Estação Digital também atrai aqueles que nasceram bem antes da internet e atualmente se sentem “fora do mundo”, como conta o confeiteiro aposentado, de 67 anos, Osvaldo Vieira de Matos: “Comecei a não entender o que as pessoas falavam. Por exemplo, no banco, o caixa dizia que não podia me atender porque tinha caído o sistema. Qual sistema? O que isso impedia o pagamento de uma conta? Hoje também existe o e-mail e novas palavras, como login, senha etc. Eu não sabia o que eram e para quê serviam. Estamos em um mundo diferente”. Para “ficar globalizado”, o seu Osvaldo faz o curso de informática toda segunda-feira e ainda aprende manutenção de computadores às quartas.
A implantação da Estação Digital na Abecal, há 11 anos, partiu de uma pequena sala e alguns computadores doados por um grupo de amigos do diretor-presidente, Roberto Souza. Ao longo dos anos, a iniciativa tomou corpo e começaram a surgir novas ideias e ações. Hoje, além do curso regular de informática básica e atendimento a pessoas com deficiência, também são oferecidas formações em web design e manutenção de computadores. Enquanto em web design os alunos são iniciados em construção e hospedagem de sites, na manutenção aprendem a consertar e manejar suas próprias máquinas e ainda ganham uma nova profissão. Ao terminar o curso, jovens e adultos têm habilidade e conhecimento para criar um negócio próprio.
Quanto à sustentabilidade da Estação Digital, é preciso agir e buscar ajuda. Souza conta que, para manter os cursos gratuitos, coloca em prática ideias que geram renda à Abecal. Como o curso de AutoCad oferecido para engenheiros que, por um baixo custo, têm um ensino de qualidade e ainda ajudam a manter a prestação de serviços para quem precisa. A Abecal também faz publicidade. Divulga os cursos em igrejas, nas lideranças comunitárias e no comércio durante encontros ou com a distribuição de panfletos financiados por parceiros – açougues, supermercados e restaurantes da região – que aplicam sua logomarca no material. Como diz o diretor presidente, “é preciso muita criatividade e disposição”.