Cláudio Pereira, especial para ARede*
Os games são o primeiro
contato do jovem com a
internet, diz Wladimir,
de Maremoto.
Na comunidade da Zona Norte carioca, uma loja abandona a vocação dos games para virar um telecentro comunitário.
Ter o primeiro contato com o computador não é mais um sonho distante para muitos jovens de baixa renda, que dão o primeiro passo para a inclusão digital graças às lan houses. Mas na comunidade da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, com mais de 150 mil habitantes, a Maremoto, que era uma lan house, virou ponto de acesso à Internet.
“Quando montei a lan house foi por causa da febre dos jogos eletrônicos, que dava um bom lucro. Com o passar do tempo e a pedidos de moradores, fui modificando: de uma casa de jogos, para um telecentro comunitário, a Maremoto inter.com”, diz Wladimir Aguiar, de 46 anos, morador do Morro do Timbau. Os principais freqüentadores da lan house eram os jovens da própria comunidade.
“Alguns vinham descalços e sem camisa. Tinha mãe que deixava o filho e depois voltava para buscá-lo. Tinha até caso de pais que vinham acompanhados de seus filhos para os dois jogarem. Até que um decreto municipal, baixado pelo juiz Ciro Darlan, proibiu a entrada de menores nas lan houses”, conta Wladimir. O decreto acarretou represálias em várias lan houses da região e ações violentas de repressão. “Com essa repressão às crianças, muitos deixaram de vir, pois a polícia forçava os garotos a irem embora, ameaçando-os com violência. Essa também foi uma razão para eu mudar de lan house para um telecentro comunitário. Não sofro mais represálias”, desabafa Aguiar. O telecentro, na Baixa do Sapateiro, tem de cem a 150 acessos diários, em média. A Maremoto possui 1.863 pessoas cadastradas, funcionando das 9h às 23h. Se o número de pessoas acessando estiver grande, a loja fecha só à meia-noite. O valor do acesso é de R$ 1,00 por meia hora.
Mesmo assim, Aguiar defende a lan house. “O jovem percebe que pode errar e tomar decisões; ele amadurece através de qualquer jogo”. A loja feita para jogar ficava muito mais cheia do que o atual telecentro, que tem sua maior freqüência no fim da tarde, com alunos envolvidos em pesquisas escolares. Antes, os meninos gastavam tudo o que podiam para jogar uns com outros. Agora, a lan house passou a ser procurada por pessoas comuns e também por jovens que não tinham por perto um local de acesso.
Wladimir também abriu uma filial na Praia de Ramos, onde o fluxo é maior por conta dos banhistas que freqüentam o piscinão. “Lá, a procura é maior porque já existiu um ponto de acesso que, infelizmente, acabou”, acrescenta Wladimir. Ele diz que recebeu vários pedidos dos moradores para transformar a lan house em uma loja de acesso à rede que, atualmente, tem grande procura. O dono da Maremoto está convencido de que as lan houses dão o primeiro passo para a inclusão digital de muitos jovens de “comunidades populares”, como ele as define.
Marcelo Inácio de França, de 32 anos, é um dos funcionários da Maremoto e também músico da banda de heavy metal UNEARTHLY. Ele não tinha acesso à Internet, e, na loja, aprendeu a linguagem HTML e a atualizar o site www.unearthly.cjb.net., que até então era pago e desenvolvido por webmaster profissional. “Graças a isso, minha banda fez um turnê pelo Nordeste, no ano passado, e pude mandar vários materiais para fora do pais, quando fomos convidados para uma turnê pela América Latina”, diz o músico.
*Correspondente comunitário do
Viva Favela (www.vivafavela.com.br)
Viva Favela (www.vivafavela.com.br)