Laptops na rotina escolar

Críticas e sugestões feitas pelas crianças podem ser aproveitadas para novas fornadas de XO


Críticas e sugestões feitas pelas crianças podem ser aproveitadas para novas fornadas de XO 
Leandro Quintanilha

A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo começou, em março, a avaliar o impacto dos laptops de baixo custo no cotidiano escolar. Cerca de cem máquinas XO, do projeto One Laptop per Child
(OLPC), encaminhadas pelo governo federal, foram distribuídas em duas
turmas (2ª e 5ª séries). As atividades, que incluem o acesso à internet
via rede Mesh, começaram em março numa escola da zona norte de São
Paulo cujo nome a Poli prefere ainda não divulgar.

Segundo a engenheira elétrica Roseli Lopes, professora da Poli e
coordenadora do Experimento de Introdução Massiva das Tecnologias de
Informação e Comunicação na Escola, os critérios para a definição da
unidade beneficiada foram: a ausência de aparelhos públicos de esporte
e lazer nas imediações, capacidade de diálogo com a comunidade e o alto
índice de pais freqüentadores (participantes do EJA — Programa de Apoio
à Educação de Jovens e Adultos). A Escola Politécnica recebeu do
governo federal, em maio, outras 75 máquinas, que serão aproveitadas
pela mesma escola, em outras turmas.


Apesar do sigilo da Poli, notas da imprensa já citaram a unidade em
questão: a Escola Municipal de Ensino Fundamental Ernani Silva Bruno,
em Pirituba, com 1,2 mil alunos e 60 professores. Ao menos outras
quatro escolas públicas brasileiras já receberam laptops
de baixo custo. Assim como a paulistana, a Escola Estadual Luciana
Abreu, em Porto Alegre, também está testando o XO. Os modelos CassMate
PC, da Intel, e Mobilis, da Encore, também estão sendo experimentados
em escolas de Piraí (RJ), Palmas (TO) e Brasília. A cada dois meses, os
coordenadores de cada um desses experimentos se reúnem em Brasília para
compartilhar idéias e avaliações. A intenção, para longo prazo, é
reunir informações que sirvam de referência para o programa federal Um
Computador por Aluno (UCA).

O teste paulistano teria sido autorizado pela Secretaria Municipal de
Educação, embora o convênio ainda não tenha sido oficialmente firmado.
A Poli recebeu os laptops
por meio do UCA, em dezembro do ano passado, quando realizou uma
primeira experiência com crianças e adolescentes de cinco a 13 anos e
professores convidados. Muitas das crianças eram filhos de funcionários
da Poli.

Os laptops eram entregues fechados aos estudantes, sem que
lhes fosse dada nenhuma instrução, como explica a professora Irene
Ficheman, também da Poli. “A idéia era observar o que conseguiriam
fazer por conta própria.” O XO é um desafio para abrir — é preciso
levantar as abas laterais (antenas) para destravar a tela do teclado. O
mistério foi rapidamente desvendado, como conta a professora do ensino
fundamental Valkíria Venancio, convidada para o primeiro teste. “Eles
demonstraram muito jogo de cintura para abrir as máquinas e começar a
operá-las. Uns ajudavam os outros.” Os estudantes ficaram quatro horas
‘brincando’com o XO. “Não demorou para que descobrissem a câmera e os
joguinhos”, diz Valkíria. “A maioria estava interessada em navegar na
internet, coisa que também logo conseguiram fazer.”

Filha de uma funcionária da Poli, a estudante da 4ª série Paula Pereira
Bonassa, de 11 anos, foi uma das crianças convidadas a participar do
teste. “Achei o laptop bonitinho e portátil”, diz. “Seria ótimo se fosse assim no dia-a-dia. Não precisaria de caderno, de lápis… O laptop
substitui praticamente o material inteiro”, acredita ela. Estimulada
pelos organizadores, Paula fez algumas recomendações para melhora do
produto. “Na hora de acessar a internet, podia ser um pouco mais
rápido”. Ah, podia ter mouse também. Mexer a setinha com o dedo (toque em área sensível na plataforma do teclado) dá muito trabalho.”

O teste de dezembro foi repetido na escola paulistana. Primeiro, na
sala dos professores. Depois, com alunos. E, desta vez, a experiência
foi registrada em vídeo. As duas turmas beneficiadas (2ª e 5ª séries do
turno da manhã) foram escolhidas pela direção da escola. Os laptops
são usados em todas as disciplinas, dentro e fora da sala de aula, para
escrita, desenhos, formulação de tabelas e pesquisas em geral.

Nas duas turmas, há um laptop por aluno, embora muitas
atividades sejam realizadas em grupos de três ou quatro integrantes
(cada um com seu XO). A proposta é misturar crianças da mesma série com
diferentes graus de alfabetização, para que uma auxilie a outra. “Para
os alunos 2ª série, escrever no teclado é também um estímulo à
coordenação motora”, ressalta Roseli. Os alunos são estimulados a fazer
sugestões sobre a funcionalidade das máquinas. “As idéias podem ser
aproveitadas nas novas versões do XO”, diz a coordenadora. As letras do
teclado verde, que eram brancas, são agora pretas, o que garante maior
visibilidade por contraste.

Os 75 novos laptops que a Poli acaba de receber serão
distribuídos em outras duas turmas. “A experiência despertou o
interesse da escola inteira”, afirma Roseli. “É delicado não poder
oferecer a mesma oportunidade às outras crianças.” De tempos em tempos,
os professores têm reunido turmas para atividades em grupos mesclados,
como forma de potencializar o uso dos laptops. Alunos de 7ª e 8ª séries, também são estimulados a ajudar como monitores.

O XO da questão


Branco, com detalhes em verde-vibrante, o XO, antes chamado de “laptop
de 100 dólares”, é um projeto de inclusão digital desenvolvido pelo
Massachusetts Institute of Technology e fabricado pela empresa
taiwanesa Quanta Computers. Funciona com Linux, sob a interface
facilitadora Sugar. É portátil (pesa menos de 1,5 quilo) e tem baixo
potencial de armazenamento (256 Mb). O projeto foi anunciado no ano
passado, pelo cientista Nicholas Negroponte, do MIT, presidente da
organização One Laptop per Child (OLPC).

www.laptop.org – One Laptop per Child