livre saber – Liberdade para educar desde cedo

Liberdade para educar desde cedo

Educação requer criação, que pede autonomia, que exige liberdade.

Liduina Vidal

 

ARede nº 93 – setembro/outubro de 2013

Fala-se muito sobre o quanto o uso do software livre na educação facilita aprendizados, favorece a interação, a colaboração e a cidadania. Mas, muitas vezes, fica a pergunta: quando começar a utilizá-lo? Minha vivência mostra que a idade não é um limitador para o uso dessas ferramentas. E que, quanto mais cedo começarmos, melhor.

Meu primeiro contato com o software livre foi na base do “paraquedismo”: em 2005, a prefeitura de Fortaleza (onde eu trabalho), no Ceará, resolveu migrar para o software livre. Chegaram as máquinas com “o tal do Linux” nas escolas e tivemos de nos virar para aprender a novidade, tão diferente daquilo a que estávamos acostumadas.

Foi aí que conheci o TuxPaint, um programa de desenho para crianças, cheio de recursos. Primeiro me encantei com os carimbos. Logo percebemos que aquelas imagens nos ajudariam a elaborar atividades para trabalhar com as crianças. As imagens eram carimbadas, depois as telas eram capturadas e coladas no editor de textos, para, enfim, serem impressas e distribuídas aos alunos. Eram atividades bem elementares e ainda presas ao papel.

A segunda fase de uso do TuxPaint, agora como instrumento de aprendizagem, começou quando descobri as ferramentas Texto e Linhas. Em vez de gerar impressos, iniciei o processo de elaboração de atividades dentro do próprio programa. Como ainda não sabia que poderia gerar uma imagem e copiar para todas as máquinas, refazia a mesma atividade em cada um dos 11 computadores do laboratório. Mesmo com todo esse trabalho, valia a pena. As professoras se encantaram com as possibilidades do TuxPaint e as crianças tinham facilidade em trabalhar.

Em 2008, participei do Congresso Estadual de Software Livre do Ceará (CESoL) e mostrei o meu trabalho. Recebi grande estímulo para continuar – quem diria, considerava meu trabalho tão pequeno e vi que tanta gente gostou! Fui me aprofundando cada vez mais. Aprendi sobre as pastas onde ficavam as imagens geradas com a professora Silvana Holanda. Com a professora Sinara Duarte, descobri o TuxConfig, para alterar as configurações. Por fim, junto com Patrícia Fernandes, aprendi onde ficavam os carimbos. Agora já tinha o conhecimento necessário para produzir exatamente o que eu queria.

Dessa forma, bem no espírito do software livre, fomos desenvolvendo um aprendizado de forma colaborativa. Com isso, pudemos hackear o TuxPaint, que deixou de ser apenas um programa de desenho e se tornou uma plataforma de resolução de atividades. E graças aos recursos do programa, a criança convive com as letras mesmo sem saber ler. Vai brincando, exercitando, aprendendo.

Tudo o que eu e as pessoas que convivem comigo aprendemos (inclusive as atividades que desenvolvi) está compartilhado no sítio do Software Livre Educacional, à disposição de quem quiser usar e, principalmente, contribuir. Para continuarmos aprendendo, todos juntos. Afinal de contas, acreditamos na liberdade para educar, e na educação para a liberdade.