livre saber – Para uma escola disruptiva

Para uma escola disruptiva

Não é possível, de modo eficaz, usar uma tecnologia fechada para criar situações diversificadas de aprendizagem.

Sérgio F.  Lima

 

ARede nº 91 – maio de 2013

Não é nenhuma novidade que onze em cada dez “especialistas” em educação (proporção que se mantém também entre curiosos e palpiteiros de plantão!) afirmam que a escola precisa se adequar aos tempos atuais e, entre outras coisas, que deve incorporar ao seu cotidiano as Tecnologias de Informação e Comunicação – as tão incensadas TICs.

Admitindo-se, sem maiores divagações político-pedagógicas, que um dos principais objetivos da escola é preparar nossos jovens para a vida cidadã e para o mundo do trabalho, será que qualquer paradigma tecnológico é suficiente para que, de modo eficaz, a escola alcance esses objetivos? Ou, perguntando de outro modo: será que a simples adoção do mais recente hype tecnológico, tanto em termos de dispositivos (hardware) como em termos de programas (software) é suficiente para que a escola prepare melhor nossos jovens para o século 21?

Alunos e professores podem incorporar, ao seu cotidiano escolar, as TICs para realizar “mais do mesmo”, isto é, perpetuar essa escola industrial, conteudista, classificatória, burocrática, vestibuleira e (coloque aqui seu adjetivo pejorativo predileto). Ou, alternativamente, também podem apropriar-se dessas “ferramentas” para potencializar práticas pedagógicas contrahegemônicas à escola atual. Podem usar as facilidades de comunicação e produção coletiva para diversificar currículos e percursos de aprendizagens. Escolher tecnologias que se adequem aos mais variados cenários e perfis sociotecnológicos. Quando estas pequenas, médias ou grandes rupturas ocorrem dentro da escola real, a escola se torna disrutpiva!

caixa preta
Não é possível apropriar-se de um aplicativo (software) para adequá-lo para o seu contexto educacional específico, de modo eficiente, se você não pode ter acesso, também, ao código fonte. Não é possível, de modo eficaz, usar uma tecnologia para criar situações diversificadas de aprendizagens se essa tecnologia chega como uma caixa preta e só lhe cabe apertar botões e seguir os manuais. Não é possível, verdadeiramente, desenvolver  hábitos e  habilidades cognitivas para aprendizagens (tão necessárias para uma Era do Conhecimento) se você não pode jogar, brincar ou experimentar radicalmente com essa tecnologia. Uma escola disrutpiva não é compatível com paradigmas tecnológicos refratários à exploração, à remixagem e ao estudo de si mesma.

Não basta simplesmente que a escola adote as TICs. É fundamental que essa adoção se dê com liberdade de usar essa tecnologia para qualquer fim. Com liberdade e possibilidades técnicas de estudá-la. Com liberdade para redistribuir as remixagens, de incentivar e permitir a colaboração entre aqueles que aprendem e aqueles que ensinam.

Adotar TICs baseadas em tecnologias fechadas ou proprietárias na escola é como passar  verniz de modernidade nas mesmas velhas e ineficazes práticas industriais. Uma ótima opção para preparar os nossos jovens para o século 19!