Tecnologia, ensino e corujas
Não existe educação sem criação, não existe criação sem autonomia, nem autonomia sem liberdade.
Jenny Horta
ARede nº 92 – julho/agosto de 2013
Quem aqui escreve agora não é a professora, a pedagoga ou a educadora. Escrevo como mãe de dois filhos de gerações distintas: um de 26 anos e outro de 11. Escrevo como mãe pois foi como mãe que comecei a observar as diferenças de desenvolvimento na fase inicial de letramento desses dois rapazes. O mais velho teve seu primeiro contato com um computador aos 8 anos, e o mais novo, desde que veio ao mundo… Eu o amamentava em frente ao PC, cheia de trabalho para complementar a renda que andava apertada (coisas de professora mesmo).
Quando me dei conta, um pouco antes de ele completar 3 anos, já digitava no teclado palavras como “bola”, “gato”, “google”, “kids” e mais meia dúzia de outras associadas aos “sites educativos” que costumava navegar. A esta altura, você já deve estar me achando uma tremenda mãe coruja, ou que meu filho deve ser portador de altas habilidades. Mas o mais importante foi o que ele me levou a pesquisar, buscar, indagar e experimentar, algum tempo depois, o projeto que desenvolvi em uma pequena escola e cuja história pode ser conferida no blog http://escolaedificar.blogspot.com.
Embarquei em uma aventura via web, procurando softwares infantis que me apresentassem ideias criativas no mundo das letras, sons, cores, números e palavras que faziam os pequenos olhinhos brilharem a cada descoberta!
Meu primeiro grande achado foi o GCompris (http://gcompris.net/-pt-br-) – uma verdadeira e incomparável suíte de aplicativos infantis para crianças de 2 a 12 anos – e, logo depois, o TuxPaint (http://tuxpaint.org), muito mais que um simples editor de desenhos, pois é totalmente personalizável, ou seja, o professor pode incluir, exportar, importar, tudo de acordo com sua necessidade e com a atividade pretendida. O grande diferencial desses softwares reside no fato de que são constantemente atualizados e desenvolvidos por uma comunidade, no mais exato e verdadeiro sentido da palavra. E, falando em comunidade, a partir daí surgiu uma verdadeira enxurrada de descobertas: o Software Livre Brasil (http://softwarelivre.org), o Projeto GNU (www.gnu.org/philosophy/philosophy.pt-br.html) e o GNU/Linux em suas várias versões, em especial aquelas desenvolvidas especificamente para a educação.
Entre os sistemas voltados para crianças, destaco o Pandorga GNU/Linux (http://pandorgalinux.com.br), por ser uma versão brasileira, com visual adequado para crianças, e o Linux Educacional (http://linuxeducacional.com), já consagrado em muitas escolas. Além disso, vale lembrar que tais versões não contêm apenas softwares educacionais para os pequenos. Há uma imensa gama de aplicativos para as mais diversas idades e nas mais variadas áreas do conhecimento. O projeto CLASSE (http://classe.geness.ufsc.br/index.php/CLASSE) fez uma extensiva classificação desses softwares educacionais.
Caso esta mãe tenha despertado a sua curiosidade, basta pesquisar na internet e, provavelmente, encontrará outras distribuições GNU/Linux com o mesmo fim. Isso porque o espírito do software livre é justamente esse: a liberdade de criar e transformar, adequando-se à diversidade humana. Isso é liberdade e não existe educação sem criação, não existe criação sem autonomia, nem autonomia sem liberdade.