Marcos Vinicius Ferreira Mazoni*
Há uma grande dúvida sobre como incentivar o uso de software
livre nas estações de trabalho dos usuários finais. Ao analisar o
motivo dessa dúvida, encontramos o real problema. Por que o sistema
operacional de nosso computador pessoal deveria ser uma preocupação
nossa? Será que alguém debate o sistema operacional da nossa televisão?
Ou de qualquer eletrodoméstico? Na verdade, é preciso desmistificar a
importância do sistema operacional nos computadores pessoais. Para
isso, é importante uma abordagem que mantenha as aplicações amigáveis
ao usuário final, independente do sistema operacional utilizado.
A melhor maneira de resolver essa equação é a substituição das
aplicações finais dependentes do sistema operacional, por soluções
baseadas em web. Assim, será indiferente para o usuário que sistema
operacional está rodando em seu computador. O debate não deve focar o
sistema operacional, e sim, como tornar transparente para o usuário o
uso da tecnologia. Dar a ele o conforto de saber que suas aplicações
estarão disponíveis, seja com um sistema em código aberto, como o
Linux, ou outro qualquer. Materializar o uso do software livre
é dar autonomia e confiança ao usuário sobre as soluções que está
utilizando, sem o medo de que perderá o poder de realizar suas tarefas.
Criar, cada vez mais, aplicações que independam do sistema operacional
e que obedeçam a padrões de relacionamento com o usuário e de
tecnologias de interface, garantirá que a substituição do sistema seja
simples e sem trauma. Claro, que todo usuário tem demanda de
qualificação profissional e específica nas ferramentas de escritório.
Esse é o momento de aproveitar para investir no necessário treinamento,
independentemente de qual produto estaria sendo usado, valorizando,
portanto, o usuário final. Todo profissional precisa se manter
atualizado nas ferramentas de seu trabalho. Não podemos esquecer que a
decisão última sobre o uso de um aplicativo, e até de um sistema
operacional, é do usuário final. Deixá-lo despreocupado com o sistema,
usando aplicações web, e investir na sua qualificação é a estratégia
mais lógica de migração da plataforma proprietária para software livre. Tecnologicamente, a plataforma de software
livre é muito superior às das soluções proprietárias, mas a migração
depende de como lidamos com os aspectos culturais dessa operação.
Deixar o usuário seguro e valorizado é ponto-chave.
Devemos também combater a idéia de que o software livre está associado à reutilização de equipamentos. Nas evoluções de software
proprietários, sempre fazemos, junto, atualização de equipamentos. A
mesma lógica deve ser seguida na opção para sistemas de código aberto.
Receber uma máquina nova, treinamento, e não ter dificuldades com os
produtos no dia-a-dia, garantirá ao usuário uma migração para software
livre prazerosa e proveitosa. É também aconselhável que a distribuição
Linux usada esteja de acordo com os padrões adotados na corporação, não
obrigando o usuário a ter que aprender tudo novamente. Esses cuidados
resultarão em uma migração tranqüila e sem retrocessos.
O plano de migração, em elaboração pelo Serpro, prevê que a própria
empresa dê o exemplo, quando da sua execução. Vamos investir em
treinamento, em contrapartida aos gastos com licenças, ter uma
distribuição mais amigável que aquelas que os softwares
proprietários possam fornecer, aplicações baseadas na web e
modernização do parque tecnológico, com prioridade para ambientes que
usam software livre.
(*) Diretor-presidente do Serpro